O grupo de WhatsApp do presidente Jair Bolsonaro e seus ministros costuma amanhecer agitado, com notícias positivas de cada pasta ou com teorias conspiratórias. Nesta quarta-feira, porém, o canal estava inerte, num “silêncio sepulcral”, segundo o relato de integrantes do governo. O motivo da rara calmaria era o constrangimento causado pela prisão do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro e pastores lobistas que tinham acesso exclusivo ao Palácio do Planalto.
De acordo com um integrante da Esplanada, ninguém se manifestaria até Bolsonaro dar a primeira palavra sobre o escândalo. Outro membro do alto escalão do Executivo disse reservadamente que até gostaria de ligar para familiares de Milton Ribeiro para prestar solidariedade, mas tinha receio de cair em alguma interceptação telefônica da PF.
Para encerrar o desconforto, Bolsonaro falou sobre o episódio da prisão do ex-ministro do MEC em uma entrevista à Rádio Itatiaia. Se antes o presidente botava a cara no fogo por Milton Ribeiro, agora ele virou a cara e jogou o ex-aliado na fogueira:
"Que ele responda pelos atos dele", disse o presidente.
Apesar da manifestação de Bolsonaro, alguns integrantes da cúpula do governo preferiram continuar em silêncio sobre o escândalo. Sabem que o episódio tisnou a imagem que o presidente tentava lustrar de uma gestão sem falcatruas.
Além disso, reconhecem que dar espaço para esse escândalo poderá irritar ainda mais o pré-candidato à reeleição que está em estado de nervos por permanecer em segundo lugar nas pesquisas eleitorais.
Embora tente abafar o caso, Bolsonaro já demonstrou para auxiliares ter preocupação com o estado emocional do ex-ministro da Educação. Antes de pedir demissão do cargo, em março, Milton Ribeiro tentou se isolar num fim de semana no litoral paulista.
Um interlocutor do Planalto tomou a frente da gestão da crise para evitar que o então chefe do MEC explodisse e atingisse o presidente. Naquele momento, foi colocado à disposição do então chefe do MEC um helicóptero para se reunir com um ex-integrante do governo, que se voluntariou para tentar acalmar os ânimos. Mas Milton, que estava abalado com a exposição pública, preferiu pegar um voo de volta para Brasília e falar diretamente com o próprio presidente.
Após esse encontro, o então chefe do MEC relatou a pessoas próximas que mantinha a confiança de Bolsonaro e que continuaria sendo defendido publicamente. No auge da crise, Milton também buscou apoio do seu padrinho político no governo, o ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal. Ambos eram pastores e colegas da Igreja Presbiteriana. Mas o contato feito por meio de uma mensagem de WhatsApp foi praticamente ignorado com uma resposta lacônica do membro da Corte.
Sob pressão de familiares e de lideranças evangélicas, o pivô do escândalo na Educação decidiu se afastar do cargo, com a expectativa de um dia ser inocentado e voltar para a Esplanada.
De lá para cá, Milton até tentou submergir. Mas o esforço foi em vão. Um mês depois de deixar o governo, ele ficou novamente sob o holofote após disparar acidentalmente a sua arma de fogo num guichê do aeroporto de Brasília. O episódio abalou novamente o ex-ministro, que dizia a pessoas próximas estar num “momento de provações”.
A provação maior, contudo, ocorreu nesta quarta-feira, quando foi preso pela Polícia Federal numa investigação que apura suspeitas de corrupção, tráfico de influência, prevaricação e advocacia administrativa. O ex-chefe do MEC nega qualquer irregularidade. Agora, resta saber se ele seguirá à risca o versículo bíblico preferido de Bolsonaro: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”.
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