Partidos políticos de diferentes espectros apostam em uma manifestação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para destravar negociações de alianças que estão emperradas em alguns estados.
A expectativa das legendas é que a Corte libere a indicação de mais de um candidato ao Senado em cada chapa de governador, assim resolvendo impasses para a definição de palanques, principalmente do presidente Jair Bolsonaro (PL)
e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
, nas disputas de São Paulo, Minas, Pará, Goiás e Distrito Federal.
Uma consulta ao TSE sobre o tema foi feita pelo deputado Delegado Waldir (União Brasil-GO), que tenta uma vaga na chapa do pré-candidato à reeleição Ronaldo Caiado (União Brasil), no fim do ano passado.
O posto também é disputado por outros quatro integrantes de partidos da base do governador: o atual senador Luiz do Carmo (PSC), o deputado federal João Campos (Republicanos), o presidente da Assembleia Legislativa, Lissauer Vieira (PSD), além do ex-deputado Alexandre Baldy (PP). Caiado tem se reaproximado de Bolsonaro no estado, mas ainda não há definição se ele abrirá palanque para o presidente.
"A jurisprudência diz que são duas candidaturas majoritárias independentes, a de governador e a de senador. Fiz essa consulta para pedir uma atualização e tirar a faca do pescoço do governador, permitir que ele tenha mais jogo de cintura com mais candidatos na disputa pelo Senado", afirma Waldir.
No PT, a possível autorização para ter mais de um candidato é vista como solução para resolução do palanque em Minas, segundo maior colégio eleitoral do país. Lula quer apoiar o ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PSD) para governador, mas há uma indefinição por causa da vaga ao Senado. Os petistas não abrem mão que o candidato seja Reginaldo Lopes e o PSD insiste na candidatura do atual senador Alexandre Silveira. Lideranças do PT de Minas apostam na resposta favorável do TSE.
No Rio, a liberação de duas candidaturas ao Senado também poderia ser uma solução para superar um impasse criado diante das pretensões de André Ceciliano (PT) e Alessandro Molon (PSB) de concorrerem. O candidato a governador será Marcelo Freixo (PSB). Mas lideranças petistas do estado rejeitam essa composição e ameaçam romper o acordo com o PSB.
"Só haverá coligação formal com o André Ceciliano como candidato único a senador da chapa", afirma Alberto Cantalice, integrante do diretório nacional do PT.
No Pará, os partidos que pretendem apoiar a reeleição do governador Helder Barbalho (MDB) também têm disputado o posto de candidato ao Senado. Três nomes são citados: o deputado federal Beto Faro (PT), a ex-secretária de Cultura Úrsula Vidal (MDB) e o ex-senador Flexa Ribeiro (PP).
A autorização do TSE poderia solucionar o problema. Helder ainda não declarou como se posicionará na eleição presidencial, mas seu pai, o senador Jader Barbalho, faz parte da ala do MDB próxima a Lula.
Já o campo bolsonarista espera usar a autorização do TSE para destravar acordos para a chapa de Cláudio Castro (PL) ao governo do Rio. Pelo menos dois nomes têm sido cotados para a vaga de senador: Daniel Silveira (PTB), condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por ataques antidemocráticos e indultado pelo presidente, e Romário (PL), que pretende tentar a reeleição.
Para garantir a vaga, apoiadores de Silveira passaram a atacar o ex-jogador nas redes sociais. O parlamentar, por sua vez, estuda dar a suplência para Rogéria Bolsonaro, ex-mulher de Bolsonaro e mãe de três de seus filhos: Flávio, Carlos e Eduardo.
O mesmo ocorre no Distrito Federal, onde a disputa entre as ex-ministras Flávia Arruda (PL) e Damares Alves (Republicanos) tem dividido o eleitorado de Bolsonaro. As duas são de partidos da base do governador Ibaneis Rocha (MDB), pré-candidato à reeleição e que deve abrir palanque para Simone Tebet, nome de seu partido à Presidência, e Bolsonaro, de quem é aliado desde as eleições de 2018. A pessoas próximas, no entanto, Ibaneis garante que apoiará Arruda.
Em São Paulo, Bolsonaro tem o desafio de conciliar quatro possíveis candidatos ao Senado na chapa do ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas (Republicanos): Carla Zambelli (PL), Paulo Skaf (Republicanos), José Luiz Datena (PSC) e Janaina Paschoal (PRTB), que afirma ter a garantia do partido para se lançar independente.
Datena disse ao GLOBO que seu nome já está confirmado pelo próprio Bolsonaro e pelo ex-ministro da Infraestrutura. A situação, no entanto, deixaria de fora Zambelli, uma das principais aliadas do presidente, que é favorável a uma possível autorização do TSE:
"Como defensora da candidatura avulsa, vejo como positiva qualquer ação que amplie a possibilidade do escrutínio popular", afirmou a deputada federal.
Vice-presidente do PL, o deputado federal Capitão Augusto disse que é contrário à autorização de mais de um candidato ao Senado para eleições deste ano, pois, segundo ele, não há tempo hábil para debater a questão.