O deputado federal Delegado Waldir (PSL-GO) disse que a eleição para a Presidência da Câmara, em fevereiro passado, foi pautada em dinheiro público. Segundo ele, o governo liberou R$ 10 milhões em emendas para os parlamentares que entregaram votos a favor de Arthur Lira (PP-AL), eleito com 302 dos 513 votos contra Baleia Rossi (MDB-SP) .
A declaração foi feita em duas entrevistas ao site The Intercept Brasil. Hoje ex-aliado do governo Jair Bolsonaro, Waldir fala à imprensa no momento em que decidiu cobrar os milhões a que diz ter direito por ter votado a favor do governo em pautas importantes.
Um exemplo disso é a reforma da Previdência, em novembro de 2019, cujo voto valeu R$ 20 milhões, segundo ele.
Em ambas as votações, Waldir diz que não recebeu o recurso. "O [Major] Vitor Hugo proibiu. Ele era líder do governo, depois se tornou líder do PSL e proibiu que eu recebesse", contou o deputado.
De acordo com Waldir, ele ficou de fora da partilha por ter rompido com o núcleo do presidente da República quando foi gravado chamando Bolsonaro de “vagabundo” e ameaçando “implodir o governo”.
"Teve liberação. Eu não recebi, eu e um grupo de deputados que foram dissidentes e permaneceram com o presidente [do PSL] Luciano Bivar. Alguns receberam, não foram todos. O governo me deve, porque fez um compromisso. E eu quero [receber], porque é dinheiro para meu estado", cobrou. Ao site, ele disse que seu plano é destinar o recurso para a educação e para aquisição de maquinário agrícola.
Waldir explicou que a articulação, no caso da Previdência, era feita diretamente com o Ministério da Casa Civil, mas não se discutia projetos específicos, e sim o valor para que ele executasse da forma que quisesse. O fator político entra na importância do parlamentar. Por exemplo, conforme explicou Waldir, os líderes de bancada tinham direito ao dobro de recursos, além de controlar as emendas, podendo distribuí-las livremente.
"Tem muito líder que é malandro, que em vez de dividir com todos os parlamentares da bancada, pega tudo para ele. Ele já tem direito ao dobro, mas além de ter o dobro, ele tem 10 vezes mais, 20 vezes mais [que outros deputados]. Você pega as redes sociais do Vitor Hugo, tem R$ 300 milhões [em emendas divulgados]. Nós recebemos R$ 100 milhões de emendas oficiais, individuais e de bancada. Duzentos milhões, ele recebeu de extra. De extra não devo ter recebido R$ 20 milhões. E ele recebeu R$ 200 milhões", acusou.
Modus operandi
Waldir conta que esse é o modus operandi do governo - pagar em torno de R$ 5 milhões aos deputados que apoiam os projetos governistas, podendo ampliar esse valor em pautas importantes. Geralmenta, a demanda chega do governo e aí Arthur Lira parte para a articulação com as emendas de relator , a fim de angariar os votos necessários.
"Ele é quem carrega o governo. Quem manda no governo hoje é o Lira. Não é o Bolsonaro, é o Lira", disse Waldir, acrescentando que o líder da gestão na Câmara, o deputado Ricardo Barros (PP-PR), "é nada" nessas negociações.