A defesa da coligação eleitoral do presidente Jair Bolsonaro em 2018 pediu ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que seja colhido o depoimento do empresário bolsonarista Otávio Fakhoury, para que ele apresente esclarecimentos sobre o pagamento a gráficas para a produção de material de campanha do candidato, sem declaração à Justiça Eleitoral.
O fato está sob análise nas ações de investigação judicial eleitoral abertas pelo TSE para apurar se empresários bancaram disparos de mensagens em massa no WhatsApp para favorecer a campanha de Bolsonaro em 2018. Os pagamentos feitos por Fakhoury, revelados pelo GLOBO , poderiam configurar prática de caixa dois caso ficasse comprovado que o candidato tinha conhecimento, segundo especialistas ouvidos pelo GLOBO, mas a defesa argumentou ao TSE que se tratou de uma contribuição espontânea para a campanha.
A defesa afirma que a campanha "não tomou conhecimento ou concedeu anuência da confecção de material em seu favor por parte do empresário. Além do mais, é possível auferir que o empresário, de maneira cara e incontroversa, já havia afirmado que as notas fiscais se referem ao pagamento de despesas de amigos envolvidos em movimentos sociais". Sobre esse fato, o Ministério Público Eleitoral apontou que os valores pagos, de R$ 53 mil, representam um baixo valor em comparação ao total da despesa da campanha, de R$ 2,4 milhões, por isso não seria suficiente para configurar irregularidade.
Ainda assim, a defesa da campanha afirmou ao TSE que é necessário tomar o depoimento de Fakhoury para esclarecer o caso. "É fundamental que se leve ao exaurimento a fase instrutória, uma vez reaberta e em curso, para que seja concluída de maneira satisfatória, a partir da robusta quantidade de informações trazidas a estes autos. Ante o exposto, requer que seja colhido o depoimento do empresário Otávio Oscar Fakhoury, como forma de esclarecer e afastar definitivamente qualquer conduta ilícita", escreveu a advogada Karina Kufa.
Fakhoury foi alvo do inquérito dos atos antidemocráticos e também entrou na mira da CPI da Covid. Em seu depoimento à comissão, foi confrontado pelo senador Fabiano Contarato (Rede-ES) por uma postagem homofóbica feita em rede social contra o senador.
Os serviços, contratados pelo empresário, consistiram na impressão de 560 mil itens de propaganda eleitoral de Bolsonaro como panfletos e adesivos com foto do candidato, o número da chapa e a proposta de campanha. Procurado, o empresário confirma a existência dos documentos, mas diz que eles se referem a "despesas de amigos que fazem parte de movimentos sociais".
"Por não se tratarem de doação à campanha do candidato, não comuniquei a ele, à coordenação da campanha ou a pessoas próximas a ele sobre esses pagamentos. No mais, reitero que todas as minhas contribuições de campanhas eleitorais foram regularmente declaradas aos órgãos eleitorais competentes", afirmou Fakhoury na ocasião, por meio de nota.