No momento em que as pesquisas indicam alta intenção de voto no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para as eleições de 2022, o ex-ministro José Dirceu , todo-poderoso no início do primeiro governo petista, retomou as articulações políticas e tem realizado encontros com sindicalistas, prefeitos e caciques partidários.
Nos últimos meses, Dirceu se reuniu com a cúpula da Força Sindical, com o ex-presidente José Sarney (MDB), com o presidente do PSD, Gilberto Kassab, e com o prefeito de Diadema, José de Filippi Júnior, entre outros.
Além disso, recentemente, o ex-ministro da Casa Civil participou de atos contra o presidente Jair Bolsonaro em Brasília e em São Paulo. Na última semana, anunciou que entrou para o TikTok, aplicativo de vídeos curtos. Dirceu está com os direitos políticos suspensos por causa das condenações judiciais que o enquadram na Lei da Ficha Limpa e, por isso, não pode disputar eleições.
Apesar de manter contato com as mais diferentes figuras do PT, o ex-ministro, segundo petistas, não tem mais o capital político interno que já teve. Ainda assim, é uma figura respeitada. Um líder de outro partido avalia que Dirceu ainda influencia posições assumidas pelo PT. No fim do ano passado, quando tentava obter o apoio dos petistas par sua candidatura à Presidência da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) procurou o ex-ministro.
Ao GLOBO, Dirceu disse que faz “visitas para agradecer o apoio e solidariedade” que recebeu no período em que esteve preso.
"Não tenho mandato nem sou da direção do PT e não tenho delegação para tanto", afirmou.
Na conversa com a cúpula da Força Sindical, em São Paulo, no dia 13, aconselhou os dirigentes a buscarem alianças fora do campo da esquerda nas manifestações contra o governo. Enfatizou a necessidade de união das forças democráticas para retirar Bolsonaro da Presidência e disse que as eleições são assunto para 2022.
Segundo o secretário-geral da Força, João Carlos Gonçalves, o Juruna, Dirceu defende uma mobilização que inclua partidos de centro, adversários como o PSDB, o movimento estudantil e entidades como a OAB.
"Ele (Dirceu) disse que a esquerda não vai resolver as coisas sozinha. Falou de fazer uma aliança forte e abrir diálogo com outros campos. Também frisou que temos que procurar não só o apoio da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), mas encontrar entendimento com os evangélicos", disse Juruna.
Mensalão e Lava-Jato
Então presidente do PT, Dirceu coordenou a campanha vitoriosa que levou Lula ao Palácio do Planalto em 2002. Indicado para o comando da Casa Civil, disputava com Antonio Palocci, à frente da Fazenda, o posto de homem mais forte do governo. Os dois, inclusive, travavam uma disputa pela vaga de sucessor de Lula. Acabaram abatidos — Dirceu no mensalão e Palocci no escândalo da quebra do sigilo bancário do funcionário de uma casa de lobby — e abriram espaço para Dilma Rousseff.
Dirceu deixou o governo em 2005 após ser acusado de comandar o esquema de repasses de mesadas a deputados. Em seguida, teve o mandato de deputado cassado. Em 2012, foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal a 7 anos e 11 meses de prisão. Começou a cumprir a pena no ano seguinte. Em 2016, teve a pena extinta por um decreto presidencial de indulto natalino.
Depois de deixar o governo, Dirceu exerceu a carreira de consultor de empresas, o que lhe garantiu um elevado padrão de vida. De acordo com pessoas próximas, hoje ele vive da aposentadoria pelo período em que exerceu mandatos de deputado federal — foi eleito em 1990, 1998 e 2002. Recebe R$ 9.646,57.
Foram as atividades de consultor que o colocaram na mira da Lava-Jato. Na última das três prisões, deixou a cadeia em novembro de 2019, no mesmo dia que Lula. Os dois, inclusive, encontraram-se numa celebração no apartamento de um advogado de Curitiba.
O ex-ministro foi condenado duas vezes pela Justiça Federal do Paraná e teve as sentenças confirmadas em segunda instância por crimes como corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Ao todo, as penas somam quase 40 anos, mas ele pode recorrer em liberdade.
Dirceu nega as acusações e seu advogado, Roberto Podval, recorre das duas sentenças junto ao Superior Tribunal de Justiça (STJ). Ainda não há previsão de julgamento.