Ex-diretor da PF diz não lembrar se Bolsonaro pediu investigação sobre Covaxin

Servidor do Ministério da Saúde alega ter contado ao presidente sobre pressões para agilizar importação de vacina indiana cujo contrato superfaturado é de R$ 1,6 bilhão

Foto: O Antagonista
Presidente Jair Bolsonaro (sem partido)

O ex-diretor da Polícia Federal Rolando Alexandre de Souza disse não se lembrar se o presidente Jair Bolsonaro lhe pediu uma investigação sobre supostas irregularidades na contratação de R$ 1,6 bilhão em doses da vacina indiana Covaxin . “Desculpe, mas não vou parar pra pensar. Tem que ver na polícia. Se me perguntar o que chegou e o que não chegou, eu não vou lembrar”, disse Rolando ao GLOBO. Procurada, a PF diz não fazer comentários sobre eventuais investigações.

Nesta quarta-feira, O GLOBO publicou entrevista com o servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda na qual ele relata que sofreu pressões de militares lotados na pasta para agilizar a importação de doses da Covaxin. Miranda disse que se sentiu desconfortável porque o procedimento que se pedia em relação à vacina era diferente do que havia sido adotado com outros produtos.

Miranda afirmou que procurou o irmão, o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF), e que foi com ele ao Palácio da Alvorada se encontrar com o presidente Jair Bolsonaro. No encontro, disse o servidor, ele relatou a situação o presidente que lhe prometeu remeter o caso à Polícia Federal. O encontro, segundo Miranda, aconteceu no dia 20 de março. À época, o diretor-geral da PF era o delegado Rolando Alexandre de Souza, que foi substituído em abril deste ano.

"Eu apresentei toda a documentação, o contrato assinado, as pressões que estavam acontecendo internamente no Ministério, e a gente levou até a casa do presidente, conversamos com ele, mostramos todas as documentações, as pressões, e ele ficou de, após a reunião, falar com o chefe da Polícia Federal para investigar. Isso foi no dia 20 de março", disse Miranda ao GLOBO.

Por telefone, Rolando evitou responder diretamente sobre se o presidente comentou ou lhe pediu alguma investigação específica sobre as pressões relatadas por Miranda. "Tem que olhar lá (na Polícia Federal). Tem que pedir lá. Tem que ver com o diretor atual. Não é mais comigo", afirmou Rolando.

Rolando afirmou que já está nos Estados Unidos, onde assumirá um cargo junto à Embaixada do Brasil em Washington.

Por meio de nota, a Polícia Federal não respondeu sobre se abriu ou não alguma investigação com base nas suspeitas levantadas pelo servidor do Ministério da Saúde.

A PF disse que as ações e operações da instituição são divulgadas “no momento oportuno” e que o órgão “não comenta nem confirma a existência de possíveis investigações em andamento”.

Na terça-feira, o Ministério Público Federal (MPF) divulgou que a Procuradoria da República no Distrito Federal encontrou indícios de crimes na contratação da Covaxin e pediu que o caso seja investigado na esfera criminal. Até então, o contrato vinha sendo investigado somente na esfera cível.