Vídeos divulgados pelo portal Metrópoles mostram o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sendo aconselhado pelo chamado 'ministério paralelo' em relação ao enfrentamento da Covid-19 no Brasil. As imagens foram gravadas no dia 8 de setembro e também confirmaram Arthur Weintraub intermediava os contatos entre o grupo e o Palácio do Planalto.
Os trechos divulgados destacam o aconselhamento, principalmente, em relação ao uso da hidroxicloroquina
– medicamento sem comprovação científica de eficácia contra a Covid-19 – no tratamento da doença e contra as vacinas.
Na reunião, é possível ver a presença da imunologista Nise Yamaguchi , do deputado Osmar Terra, do virologista Paolo Zanoto e outros médicos de diversas especialidades. Todos aparecem sem máscara na gravação.
"Uma honra trabalhar com o senhor neste período", afirma Nise Yamaguchi em determinado momento ao deputado Osmar Terra, apontado como uma espécie de guia. Em depoimento à CPI da Covid no Senado, a médica negou a existência de um 'gabinete paralelo' e disse que apenas prestava "aconselhamento".
Em outro trecho, Bolsonaro faz questão de que o virologista Paolo Zanoto saia da plateia e sente ao seu lado. Zanoto diz para o presidente tomar "extremo cuidado" com as vacinas que estavam sendo produzidas: "Não tem condição de qualquer vacina estar realisticamente na fase 3". Na ocasião, a farmacêutica Pfizer já havia mandado e-mails com propostas de imunizantes ao Ministério da Saúde e estava sem respostas.
"Com todo respeito, eu acho que a gente tem que ter vacina, ou talvez não", diz Zanoto, enquanto uma médica balança a cabeça de forma negativa. Durante a pandemia, o virologista deu diversas entrevistas dizendo que não seria "uma boa ideia" fazer vacinação em massa no Brasil.
Segundo as imagens, o ex-assessor especial da presidência Arthur Weintraub fazia a ponte entre o 'ministério paralelo' e Bolsonaro. Zanoto diz que encaminhou a Weintraub uma sugestão que ele chama de "shadow board", um grupo de supostos especialistas em vacinas para aconselhar o governo sobre o assunto.
Bolsonaro também reforça a fala antivacina e reafirma que ela não deve ser obrigatória em sua fala. Ele diz que vetou uma lei que estipulava celeridade da Anvisa na aprovação de fármacos. "O projeto foi aprovado na Câmara e eu vetei o dispositivo. O veto foi derrubado depois, o que dizia? O que chegasse aqui para combater o coronavírus, a Anvisa tinha 72 horas para liberar [na verdade, o prazo era de 5 dias]. Se não liberasse, haveria aprovação tácita. Eu perguntei: 'Até vacina? Até vacina'".
Além disso, o presidente também destacou a desconfiança com os imunizantes que já tinham sido aprovados em outros países. "Mesmo tendo aprovação científica lá fora, tem umas etapas para serem cumpridas aqui. Você não pode injetar qualquer coisa nas pessoas, muito menos obrigar", disse, enquanto outra médica dizia "graças a Deus".
Em outro momento, Osmar Terra apresenta um cardiologista que, de acordo com ele, é especialista em arritmia e foi o "primeiro a dizer que não tem problema usar a hidroxicloroquina". Bolsonaro apoia a tese dando o exemplo de "um amigo" e alega que os riscos do medicamento são potencializados para amedrontar as pessoas, "provavelmente por ser um remédio muito barato".
Segundo o levantamento do jornal, no dia que ocorreu a reunião, o Brasil já somava 127.517 mortes por Covid-19, e 4.165.124 casos registrados. Hoje, o número é de 469.388 vidas perdidas para a doença, e 16.803.472 contaminados.