Na próxima terça-feira (04), Luiz Henrique Mandetta , ex-ministro da Saúde, será o primeiro convocado a prestar depoimentos na CPI da Covid . Governo tenta desde já para evitar que ele use tal oportunidade como palanque eleitoral para as próximas eleições presidenciais. As informações foram apuradas pela Folha de São Paulo.
Uma força-tarefa foi desenvolvida com o intuito de investigar dados que podem ser utilizados durante comissão tem a colaboração de servidores da Casa Civil, da Secretaria do Governo da Secretaria-Geral e da Secom (Secretaria de Comunicação).
Membros desse grupo atuante do Planalto declararam que estão fazendo um pente-fino na gestão de Mandetta, que atualmente é considerado desafeto do presidente Jair Bolsonaro .
O plano é limitar as perguntas direcionadas para o ex-ministro no período em que eles se encontrava a frente do Ministério e com isso, segundo governistas, evitaria que Mandetta usasse daquele espaço para diferir comentários políticos de ações tomadas por Bolsonaro após sua saída da pasta.
"O ex-ministro e o atual devem responder sobre seus períodos no ministério. Quando estava à frente, como fez? Qual o resultado?", declarou o senador Marcos Rogério (DEM-RO).
Para eles, também é uma maneira de mostrar Mandetta como parte de uma estratégia inicial de combate a proliferação da Covid-19 feita pelo governo Bolsonaro. Tal argumento poderá diminuir a credibilidade dele como crítico das ações do presidente.
Dessa forma, o plano é direcionar para a tropa de choque do governo e evitar ataques ao ex-ministro, partindo para a ofensiva somente se ele adotasse um comportamento ofensivo contra Bolsonaro. Porém, Mandetta pode ser alvo de críticas pelas medidas como, por exemplo, orientação sobre quando procurar ajuda médica, lembrada por Bolsonaro diversas vezes.
"O protocolo do Mandetta era 'fique em casa até sentir falta de ar'. Eu perguntei para ele: 'O cara sente falta de ar e vai para o hospital para quê? Para ser intubado?' Por isso a pressa para comprar respiradores. Estão entendendo a jogada?", disse o presidente em 16 de abril, em um encontro com apoiadores.
Todavia, governistas também devem ressaltar os acertos na época de sua gestão e sinalizar que ações tiveram a participação do presidente. Um assessor de Bolsonaro relembra a decisão do governo em decretar estado de emergência no Brasil em 4 de fevereiro de 2020, antes da Organização Mundial da Saúde (OMS), decretar pandemia mundial, em 11 de março.
Ainda vão falar sobre o discurso de despedida de Mandetta, em que ele agradeceu ao presidente e elogiou a equipe ministral. Alegam também que pelo fato do ex-ministro ser filiado ao DEM e ser interpretado pelo partido como uma boa figura para 2022, será um obstáculo para seus aliados executarem perguntas mais duras.
O discurso de Mandetta no dia da posse de seu sucessor, o oncologista Nelson Teich, tem sido apurado por membros do Planalto. Ele chamou a atenção para outro fator que será um dos tópicos mais comentados na CPI, a dificuldade que os países vêm enfrentando para conseguir materiais básicos como respiradores e máscaras.
Eduardo Gomes (MDB-TO), líder do governo no Congresso, declara que no momento atual, a CPI deveria se transformar em uma “investigação internacional”.
"Todas as mazelas que a CPI busca explorar no Brasil fazem parte de uma realidade mundial, não é exclusividade do Bolsonaro", conta, ressaltando os obstáculos enfrentados pelos governos para a aquisição de vacinas e insumos.
Mesmo sendo considerado desafeto do presidente, o depoimento de Mandetta não é o mais preocupante da semana, segundo aliados do governo. O ex-ministro disse que não comentaria sobre a CPI em respeito aos senadores. Também na terça-feira (04), depois do depoimento de Mandetta, Teich será ouvido. Na quarta-feira (05), será o general Eduardo Pazuello, que foi o comandante da pasta no momento do negacionismo do presidente .
O depoimento de Pazuello poderá desgastar o governo durante o andamento da comissão. Ele tomou uma direção contrária da que foi vista na gestão de Mandetta e Teich, não criou nenhuma objeção para o incentivo da hidroxicloroquina e da azitromicina como medicamentos para o tratamento do novo coronavírus, mesmo sem ter sua eficácia comprovada pelas autoridades da saúde.
Pazuello também participou da ordem de Bolsonaro em cancelar a aquisição das doses da Coronavac, imunizante desenvolvido com a parceria do Instituto Butantan. Vacina hoje é a mais utilizada no Plano Nacional de Imunização.