Logo após o deputado federal Arthur Lira (PP-AL) ser eleito o novo presidente da Câmara dos Deputados , Jair Bolsonaro ligou para parabenizar o aliado pela vitória. O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, recebeu a ligação e passou o celular para que Lira, eleito com 302 votos, conversasse com o presidente. Na tela, é possível ver “JB OUT 2020”, em referência ao contato de Jair Bolsonaro no aparelho.
Mais cedo, Bolsonaro também ligou para o novo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), para cumprimentá-lo logo após a vitória ser anunciada. O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente, foi o emissário e repassou o próprio celular para Pacheco, que foi eleito com 57 votos.
"Foi apenas uma ligação para que ele (Bolsonaro) desse parabéns ao senador Rodrigo Pacheco pela vitória", disse Flávio.
Em discurso após ser eleito novo presidente da Câmara , Lira (PP-AL) defendeu a "neutralidade" da presidência e prometeu ouvir os deputados de centro, esquerda e direita em sua gestão. Lira foi eleito após forte interferência do governo Jair Bolsonaro, que cedeu emendas e retaliou opositores do candidato.
"Meus irmãos e irmãs brasileiros de todo o país. Sei o peso e a dimensão da responsabilidade que vossas excelências acabam de me delegar ao me eleger para presidir essa Casa pelos próximos dois anos", disse Lira após a eleição.
Como primeiro ato após ser eleito presidente da Câmara dos Deputados indeferiu o registro do bloco de seu adversário, Baleia Rossi (MDB-SP). Dessa forma, ele retirou da Mesa Diretora da Casa os cargos de partidos que apoiaram o seu rival na eleição, como o PT, PSDB e Rede.
O argumento de Lira é de que o bloco foi constituído com atraso. O MDB pediu o registro do agrupamento partidário às 13h35 desta segunda-feira, depois do prazo das 12h. Rodrigo Maia (DEM-RJ) , então presidente, aceitou a formação do bloco com atraso, o que gerou protestos dos aliados de Lira ao longo do dia.
A trajetória de Pacheco
No fim do ano passado, o então presidente do Senado, Davi Alcolumbre
(DEM-AP), levou Pacheco para um encontro com Bolsonaro
no Palácio da Alvorada. O apoio foi selado e, no início do ano, o presidente disse a apoiadores que tinha "simpatia" pela candidatura do senador do DEM.
Em discurso feito momentos antes da votação, Pacheco afirmou que terá uma gestão independente em relação aos outros poderes e que não haverá "nenhum tipo de pressão externa". Segundo ele, "governabilidade não significa ser subserviente ao governo". Pacheco também assumiu um compromisso pela defesa intransigente do Estado Democrático de Direito.
Ao mesmo tempo, o senador mineiro disse que a sua gestão, formada com alianças de diferentes correntes ideológicas, pode ser uma oportunidade de "pacificação" das relações políticas:— Vamos fazer disso uma grande oportunidade, uma grande oportunidade singular de pacificação das nossas relações políticas e institucionais porque é isso que a sociedade brasileira espera de nós.
Nos primeiros anos de sua carreira pública, Pacheco ganhou rápida notoriedade no Congresso ao ocupar a presidência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, em 2017. O então deputado era filiado ao MDB . Ele teve a sua atuação no colegiado elogiada até mesmo pela oposição ao conduzir as denúncias contra o ex-presidente Michel Temer, na época seu correligionário.
Como mostrou o Globo, Pacheco continua atuando como advogado criminalista em Minas Gerais em casos que envolvem a defesa de suspeitos por corrupção passiva, extorsão mediante sequestro, homicídio qualificado e lavagem de dinheiro. Agora eleito, ele terá de deixar a advocacia temporariamente, porque a atividade é considerada incompatível, mesmo que em causa própria, para o chefe do Poder Executivo e membros da Mesa do Poder Legislativo e seus substitutos legais.