O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta disse nesta sexta-feira (11), em entrevista à GloboNews, que o Brasil precisa apostar em toda e qualquer vacina disponível, mas afirmou que o ano de 2021 ainda será de luta contra a Covid-19. "Não vai ter (vacina) para todo mundo, nós vamos atravessar 2021 inteiro lutando com isso", lamentou Mandetta.
O ex-ministro defende que, diante da escassez, será preciso paulatinamente oferecer a vacina para os grupos prioritários.
"Estamos perdendo médico e enfermeiro, pelo menos vacine esse pessoal que vai poder cuidar. (...) Se não tem para todo mundo, vacine acima de 80, depois entre 70 e 80. Vacine as capitais, os grandes conglomerados. Agora, pegar um plano apresentando um recorta e cola da vacina da gripe?”, afirmou.
Mandetta cobrou planejamento do governo federal para que sejam aproveitados os potenciais da vacina oferecida por cada fabricante. "Se for nessa improvisação, eu imagino que a gente vai atravessar o primeiro e o segundo semestre apagando incêndio. Vai chegar um lotinho de vacina aqui, outro ali", criticou.
Alerta ao presidente
Em setembro, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta diz que alertou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sobre as 180 mil mortes por Covid-19 no Brasil, enquanto ainda estava à frente da pasta.
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"Eu nunca falei em público que eu trabalhava com 180 mil óbitos se nós não interviéssemos, mas para ele eu mostrei, entreguei por escrito, para que ele pudesse saber a responsabilidade dos caminhos que ele fosse optar. Foi realmente uma reação bem negacionista e bem raivosa", disse Mandetta, em entrevista ao programa "Conversa com Bial".
O ex-ministro lançou o livro "Um paciente chamado Brasil: Os bastidores da luta contra o coronavírus", em que narra como o Ministério da Saúde tentou conter a epidemia da Covid-19 no Brasil durante sua gestão.
No livro e em sua conversa com Pedro Bial, Mandetta recorre ao conceito psiquiátrico das fases do luto para explicar a reação do presidente Jair Bolsonaro na pandemia: negação, raiva, negociação, depressão e aceitação. Depois de negar a gravidade da situação, sua próxima reação foi a ira:
"Eu simbolizava a notícia e ele ficou com raiva do ‘carteiro’, ficou com raiva do Ministério da Saúde", explica.
Depois, de acordo com o ex-ministro, veio a fase do apelo a alguma chance ou ao sobrenatural: "Ele se apegou àquela cantilena de pessoas que vão ao seu redor e começam a falar o que ele queria escutar".
Mandetta explica que trabalho psiquiátrico busca chegar logo à fase da aceitação, em que a pessoa age de forma colaborativa, adere ao tratamento, supera a dor e retoma a vida.