As eleições municipais deste ano registraram índices de abstenção maiores se comparados aos pleitos anteriores, seja pela pandemia de Covid-19 (Sars-Cov-2) ou pela falta de interesse no processo eleitoral. Analistas alertam, porém, para a importância de se participar do processo de escolha em 2020.
"É muito importante que as pessoas compareçam e votem porque esse é um direito que foi conquistado com muita dificuldade no Brasil por conta da redemocratização na década de 80", avalia o professor de Sociologia e Política do Insper, Leandro Consentino.
Cerca de 23 em cada 100 eleitores não foram votar nas eleições municipais deste ano. Em contrapartida, em 2016, foram 17,6 em cada 100. Os números mostram, portanto, um aumento de, aproximadamente, 23% no número de pessoas que não compareceram às urnas em 2020. Em 112 cidades do país, a abstenção ficou acima dos 30%, segundo dados divulgados pela revista Piauí.
Para Consentino, a pandemia, de fato, foi um fator determinante para o alto número de abstenções. Mas, ele acredita também que a facilidade em justificar a ausência foi um fator que desestimulou as pessoas de comparecer às urnas.
"As pessoas estão começando a perceber que, mesmo o voto sendo obrigatório no Brasil, as sanções ao não comparecimento não são tão expressivas, porque se paga uma multa muito pequena ou você mesmo pode justificar, então eu acho que isso gerou um estímulo para pessoas que já estavam pensando em não comparecer, em não ir de fato", afirmou.
Além de concordar com o fato da pandemia ter colaborado com o não comparecimento, o analista político e professor do Centro Universitário UNA, Carlos Barbosa, acredita que os candidatos eleitos na última eleição não preencheram os anseios da população, e isso causou um descrédito e descrença de parte do eleitorado.
"Nas útimas eleições, nós tivemos um movimento de uma nova política, com uma bandeira de combater a corrupção. Só que aqueles atores que foram eleitos não preencheram os anseios dos seus eleitores, então nós temos uma crise de representatividade (...) Então, essa questão envolvendo o desagrado de parte das pessoas acabou desmotivando o eleitorado", diz.
Capitais
Neste pleito municipal, a soma de abstenções, votos em branco e nulos chegou a 30,6%, o maior índice desde 1996. A cidade de Porto Alegre , por exemplo, registrou a maior taxa de não comparecimento entre as capitais, com 33,08%.
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Já o Rio de Janeiro , teve a maior abstenção proporcional, com 28,08% de ausentes. Os votos em branco, nulos e abstenções no Rio chegaram a 2,2 milhões. Para se ter uma ideia, a soma dos candidatos mais bem votados na cidade ainda não alcança essa marca.
Eduardo Paes (DEM), teve 974.804 votos; Marcelo Crivella (Republicanos), teve 576.825 votos; Martha Rocha (PDT), teve 297.751 votos; e Benedita da Silva (PT), teve 296.847 votos. Somando os votos deste candidatos, o número é de pouco mais de 2,1 milhões.
A capital paulista também apresentou um índice de abstenção recorde nas eleições municipais de 2020, que chegou a 29,3%. Foram mais de 2,6 milhões de eleitores que poderiam, mas deixaram de votar. Número próximo da soma dos dois candidatos mais bem votados da cidade que ficou em torno de 2,8 milhões.
O candidato mais votado no primeiro turno de São Paulo foi o atual prefeito Bruno Covas (PSDB), com 1.747.938 votos válidos (32,85% do total), seguido pelo candidato Guilherme Boulos (PSOL) com 1.077.168 votos válidos (20,24%). Eles irão concorrer ao segundo turno das eleições municipais.
A maior abstenção já registrada anteriormente na cidade de São Paulo foi em 2016, quando 22% dos eleitores aptos a votar não compareceram às urnas.
A importância do voto
Consentino ressalta que o não comparecimento às urnas não significa um enfraquecimento da democracia, mas avalia que é muito significativo para o país.
"Acho que as pessoas devem fazer o dever de casa em três etapas: O antes,
que é pesquisar sobre os candidatos, ler sobre eles e as propostas de cada um. O durante,
que ai sim é comparecer e participar do dia das eleições e, por fim, o pós,
que é muito importante e que a gente faz muito mal, que é cobrar os candidatos eleitos e fiscalizá-los".
Barbosa acredita que "a importância do voto é justamente uma forma de legitimar as deliberações públicas".
"Se nós temos os nossos representantes que, muitas vezes, não deliberam em prol da coletividade, se faz importante a participação da população na escolha dos candidatos, porque isso é uma questão de responsabilidade (...) essa participação é importante porque vai aprovar ou reprovar a gestão anterior do candidato", afirmou o especialista.