Com a queda do segundo ministro em plena pandemia do novo coronavírus em menos de um mês, lideranças no Congresso reforçaram as críticas à condução do governo de Jair Bolsonaro durante a crise sanitária. Os líderes partidários na Câmara e no Senado demonstraram incredulidade e irritação após o anúncio que Nelson Teich pediu exoneração do posto após menos de um mês como ministro. Na oposição, líderes reforçaram pedido por abertura de processo de impeachment.
Na Câmara, as reações foram de irritação. O líder do DEM, deputado Efraim Filho (PB) afirmou que Teich vai "sem deixar saudade", deixando a impressão de que nunca assumiu. "Foi praticamente um mês perdido de Ministério da Saúde no ponto mais crítico da pandemia", completou Efraim.
O presidente do Solidariedade, deputado Paulinho da Força (SP) , adotou tom semelhante ao dizer que "saiu quem não tinha entrado". O deputado desejou sorte a Teich na carreira, mas pontuou que o médico não conseguia expor suas ideias e nem lidar com a imprensa, além de ter sido frequentemente desautorizado por Bolsonaro. "Ou seja, não fez nada de significativo nos 28 dias que ficou no cargo".
Paulinho também criticou a postura do presidente da República, que ignora recomendações técnicas de médicos. "O Brasil precisa de liderança, mas vai ser difícil encontrar um ministro que seja capaz de lidar, ao mesmo tempo, com a crise sanitária e com os impulsos de Jair Bolsonaro", finalizou.
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Já o líder do PSB, deputado Alessandro Molon (RJ) , afirmou que Bolsonaro coloca o país "de joelhos frente à pandemia". O líder do partido afirmou que vai insistir com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para que dê andamento ao pedido de impeachment apresentado pelo partido. "Bolsonaro não quer um ministro técnico; ele quer alguém que concorde com suas insanidades ideológicas, como o fim do isolamento e o uso da cloroquina".
Arnaldo Jardim (Cidadania-SP) , líder de seu partido na Câmara classificou a saída de Teich como evidência de que Bolsonaro não consegue montar uma equipe. "Não suporta ter divergências, e mais do que isso, abdica e recusa qualquer avaliação técnica e não convive com especialistas", completou o deputado paulista, dizendo que o presidente abre mão da ciência por suas impressões pessoais.
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A relatora da Comissão Externa de enfrentamento ao novo coronavírus, deputada Carmen Zanotto (Cidadania-SC) , manifestou preocupação e afirmou que a saída do ministro é uma notícia triste para o país. “É lamentável que o país perca, menos de dois meses, o segundo ministro da Saúde em meio à pandemia do coronavírus". Teich havia participado de uma audiência com a comissão na semana passada para tentar esclarecer dúvidas dos deputados sobre ações do governo no combate à Covid-19. "(Teich) chegou a apresentar um plano de saída gradual e responsável do isolamento social, de acordo com os índices de saúde de cada município”, disse a deputada.
Senadores incrédulos
No Senado, o sentimento foi de incredulidade. Líder do PDT na Casa, o senador Weverton (MA) disse que a saída do segundo ministro em menos de um mês é "inacreditável" e disse que o país está à deriva. "É o segundo ministro da Saúde a não aguentar as interferências sem sentido do presidente. Sem uma política centralizada de saúde, mais pessoas vão adoecer e morrer de Covid-19", finalizou o senador.
Líder da Minoria na Casa, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) reforçou as críticas e o pedido de impeachment do presidente da República. "Agora, quem tem que cair é o próprio Bolsonaro, um negacionista, inimigo da Ciência, da Saúde e da vida! Bolsonaro se aliou ao Coronavírus e qualquer gestor, por pior que seja, não supera Bolsonaro!".
O senador também lembrou que o número de mortos pela doença tem subido, chegando quase à marca de 1000 óbitos notificados por dia. Ontem, o país registrou 844 novas mortes, chegando a 13.993 no total. "Nosso país está entregue ao caos, sem presidente, sem ministro! A covid-19 segue fazendo suas vítimas que já chegam a quase MIL por dia no Brasil! O vírus mata porque tem Bolsonaro como aliado!", completou o senador.
A líder do Cidadania no Senado, Eliziane Gama (MA) , também manifestou incredulidade ao afirmar que a saída de Teich é "impensáve, incompreensível". "Foi forçado a sair porque não concordou com a ideia irresponsável de defender o uso deliberado da Cloroquina e do fim do isolamento social. É um governo contra a ciência", afirmou a senadora.
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O senador Fabiano Contarato (Rede-ES) também citou a cloroquina, medicamento defendido por Bolsonaro para tratamento da doença, mas que já foi considerada ineficaz por pesquisas de especialistas, como razão da saída do agora ex-ministro.
"Nelson Teich antes de sair dizia a amigos que estava difícil conciliar os desejos do presidente (de uso da cloroquina e de flexibilização do isolamento). Agora, deixa o cargo. É mais um médico que não abandona a ciência e se insurge contra um Presidente que, a cada dia, nos leva para uma situação insustentável", afirmou o senador em nota. "Não podemos nos calar diante de loteamento de cargos, de um militar submisso, ou de um político terraplanista e negacionista na Pasta da Saúde", completou.