Os conflitos entre Bolsonaro e Teich que levaram ao pedido de demissão
Ex-ministro da Saúde, Teich assumiu no dia 17 de abril e deixou cargo 28 dias depois. Nesse período, defendeu posições contrárias de Bolsonaro
Por iG Último Segundo |
O médico Nelson Teich pediu demissão do Ministério da Saúde nesta sexta-feira (15), após uma série de desgastes com o presidente Jair Bolsonaro. Os dois tiveram desentendimentos sobre a forma como o governo deveria conduzir a crise sanitária gerada pela Covid-19, doença que já matou 14.065 pessoas no país.
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Teich assumiu no dia 17 de abril e deixou o governo 28 dias depois disso. Nesse período, o então ministro defendeu posições contrárias às do presidente sobre: o uso de cloroquina; quais trabalhos seriam considerados essenciais; e planos de flexibilização do isolamento. Confira os desgastes que ocorreram entre os dois:
Usar ou não cloroquina?
O médico alertou que não há comprovação científica de eficácia ou sobre os efeitos colaterais do uso da cloroquina. Desde antes de Teich entrar no ministério, Bolsonaro defende o uso do remédio.
Na manhã desta sexta (15), ele afirmou a apoiadores que o protocolo de uso do medicamento seria alterado pela pasta de Saúde , poucas horas depois o ministro pediu demissão.
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Bolsonaro tomou decisões sem consultar Teich
Nesta terça-feira (11) o presidente decretou que salões de beleza , barbearias e academias poderiam ser abertas, mesmo com as medidas de isolamento, que permitem apenas que estabelecimentos essenciais sejam abertas.
A decisão foi tomada sem notificar o ministro da Saúde . Ele descobriu sobre a medida tomada pelo presidente durante uma coletiva de imprensa. Bolsonaro assinou o decreto enquanto a coletiva ocorria e quando Teich foi questionado sobre, ele se mostrou surpreso e respondeu "Saiu hoje?".
Depois de tentar falar sobre a medida e a importância de se criar um fluxo que evite contaminações, Teich se afastou de responsabilidades. "Não é atribuição nossa, isso aí é uma decisão do presidente ".
Fim do isolamento imediato
Bolsonaro já repetiu diversas vezes que "o Brasil não pode parar" e se mostra contra o isolamento social amplo – defendendo que apenas grupos de risco fiquem em casa, o que ele chamou de isolamento vertical. O presidente afirma que é necessário um plano para saída do isolamento em que a flexibilização do isolamento seja mais rápido, mas Teich estava tentando controlar a crise com mais cautela.
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Já no início de abril, Teich havia defendido a manutenção do isolamento. Nesta semana, o então ministro havia apresentado um plano sobre isolamento social, em que havia diferentes níveis de distanciamento social: em alguns lugares haveria afrouxamento, enquanto em outros o lockdown seria necessário. O plano, no entanto, foi negado por estados e municípios.