O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta avisou na terça-feira (14) a auxiliares e assessores próximos que, na sua avaliação, a demissão do cargo está próxima. Após os últimos embates com o presidente Jair Bolsonaro, com quem vem se contrapondo publicamente nas últimas semanas, Mandetta desabafou com a equipe da pasta de que seu tempo na cadeira estava chegando ao fim.
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Nesta terça (14) no ministério, a conversa fez retornar o clima de despedida. Na segunda-feira da semana passada, quando o Planalto chegou a iniciar internamente os atos formais para a demissão de Mandetta , suas gavetas foram esvaziadas. Mas o ministro foi mantido no cargo por pressão principalmente da ala militar do Planalto.
Embora ele tenha dito, na entrevista que concedeu na segunda-feira da semana passada, depois de ser mantido no cargo, que quando deixar a pasta sua equipe o acompanhará, o ministro não deu sinais de que cobrará lealdade. Pelo contrário, segundo relatos, Mandetta tem encorajado os auxiliares a ficar como forma de dar continuidade ao trabalho. No entanto, um de seus principais auxiliares, o secretário nacional de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Wanderson de Oliveira, pediu oficialmente demissão do cargo.
Mandetta tentou, inclusive, convencer aliados do presidente Jair Bolsonaro a manter seu principal secretário, João Gabbardo dos Reis, à frente da equipe de combate ao novo coronavírus enquanto durar a pandemia. Porém, foi alertado que o novo ministro terá carta livre para trocar toda a equipe, se quiser.
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O cenário agora é outro. Mandetta está convencido de que a entrevista ao Fantástico, no domingo, esgarçou de vez a relação com o presidente. Ele disse, no programa, que a população não sabe se segue o presidente ou o ministro em relação às orientações de afastamento social contra o novo coronavírus e que isso provoca uma "dubiedade", cobrando uma discurso unificado. Também criticou pessoas que vão a locais públicos, citando "padaria" e "supermercado", ficam "grudadas", classificando de "equivocado" tal comportamento.
A aliados, o ministro disse, logo após a exibição da entrevista, ainda no domingo, que tinha decidido falar pelo "conjunto da obra do fim de semana", referindo-se principalmente à visita às obras do hospital de campanha que a União está erguendo em Águas Lindas, cidade de Goiás na vizinhança do Distrito Federal, no sábado. Lá, Bolsonaro provocou aglomerações e cumprimentou apoiadores. Mandetta se manteve distante. Na quinta-feira, o presidente esteve numa padaria.
Assim que Bolsonaro decidir quem será o substituto, Mandetta está fora do cargo. Foi essa a mensagem principal deixada pelo ministro ao falar ontem com secretários e assessores.
Além disso, interlocutores de Mandetta dizem que ele está com um "grande plano" de contingência para seu sucessor, com projeções, dados e estudos para auxiliar o próximo ministro a gerenciar a crise. Até o momento, ele tem dito a pessoas próximas que não irá pedir demissão, mas vê sinalizações de que a troca pode ocorrer a qualquer momento.
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Mandetta já foi convidado para ser secretário de Saúde do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, com quem passou o fim de semana da Páscoa. Caiado, seu colega de partido no Democratas, é seu aliado desde que ambos eram deputados federais.