Fernando Alencar Medeiros, ex-comandante da Ronda Ostensiva Tobias de Aguiar (ROTA) - tropa de elite da Polícia Militar -, foi anunciado nesta segunda-feira (9) como o novo comandante da corporação. Alencar substitui Marcelo Vieira Salles, que entregou o cargo em meio a rumores de desgaste na relação com o governo estadual. Salles havia assumido o comando da polícia militar paulista ainda no governo Marcio França (PSB), em 2018.
Sua permanência durante a transição para o governo do tucano, bem como o anúncio de sua saída na última semana, foram considerados inesperados. Durante seu comando, a força policial observou recorde na redução de índices de criminalidade e aumento nos números de letalidade policial. Em 2019, 867 pessoas foram vítimas de homicídio cometidos por policiais do estado. Nos bastidores, especula-se que a saída de Salles tenha sido motivada por divergências com o governador sobre a condução do caso Paraisópolis e a reforma da previdência paulista.
O comandante também teria sido sondado por diversas legendas para se candidatar como vereador nas próximas eleições, e pode também ser o nome escolhido para concorrer como vice de França na corrida para prefeito, este ano.
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Doria e Salles negaram os boatos. Segundo o governador, a relação com o comandante segue intacta. Salles atribui sua saída a uma decisão pessoal relacionada com as exigências desgastantes do cargo. - Se não fiz melhor é porque faltou energia. Foi uma graça de Deus poder conduzir essa polícia. Mas isso cobra um preço na vida pessoal. Eu dormia com dois celulares ao lado. - comentou.
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Sobre suas pretensões eleitorais, o comandante despistou. "Não é a hora ainda de falar sobre isso, tudo tem sua hora.
Medeiros, 50 anos, foi instrutor da Escola de Soldados e da Academia do Barro Branco e foi responsável pelo inquérito que investigou as nove mortes na favela de Paraisópolis, em dezembro de 2019. Uma ação da polícia durante um baile funk provocou tumulto. Vídeos feitos por moradores mostraram ação truculenta da polícia naquela noite. A condução do inquérito sobre a atuação da PM foi alvo de críticas. Perguntado sobre o uso de protocolos da polícia agora sob seu comando, Alencar foi lacônico. "Todos serão seguidos", garantiu.
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Doria comentou as críticas do ex-ouvidor da Polícia Benedito Mariano, para quem a escolha do novo ouvidor e a conclusão do inquérito sobre Paraisópolis foram políticas, e não técnicas. Para o ex-ouvidor, o Estado é responsável pelas mortes na ação e as famílias das vítimas deveriam ser indenizadas.
"Ouvidor não é investigador, ainda mais ex-ouvidor. E não pode concluir nada sem o inquérito. Então considero precipitadas as observações feitas por ele. Não quero desrespeitá-lo, mas não compete a ele fazer juízo sobre as polícias e sobre fatos que estão ainda sob inquérito da polícia civil de São Paulo", rebateu o governador.