A Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo apura se um preso fingiu ser policial civil para extorquir dinheiro da deputada federal Flordelis dos Santos (PSD), que é investigada por envolvimento na morte de seu marido, o pastor Anderson do Carmo.
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A DH descobriu que três números utilizados pelo homem para entrar em contato com Flordelis estão em nome de um detento, Jota Carvalho Junior, condenado por tráfico de drogas. De acordo com dados do site do Tribunal de Justiça, ele está atualmente na Penitenciária Esmeraldino Bandeira, no Complexo de Gericinó, Zona Oeste do Rio.
No celular da parlamentar , apreendido pela DH de Niterói no dia 17 de setembro, foram descobertas conversas da deputada com o homem pelo aplicativo de mensagens WhatsApp. Nos diálogos, que ocorreram em agosto e setembro, ele afirma ser lotado na DH capital, mas cita ter um colega na unidade de Niterói. O suposto policial diz ter informações sobre as investigações do assassinato de Anderson, como a existência de uma testemunha-chave.
“Olha, eu estava conversando com esse colega sobre você. Até me desculpe, eu falei que você é uma deputada muito bonita. Ele falou: bonita e perigosa. Ele falou que a doutora tem uma testemunha-chave”, escreveu o homem, referindo-se à delegada Bárbara Lomba, titular da DH Niterói. Flordelis chega a perguntar quem seria a pessoa, mas o suposto policial não revela a identidade da testemunha e pede calma a ela.
Em determinado momento, o suposto policial chega a oferecer para a deputada uma “pessoa de confiança disposta a assumir o ocorrido” e tirar seus filhos da prisão. A deputada não respondeu à proposta feita. A polícia identificou ainda outros dois números usados pelo homem para falar com Flordelis. Ambos estão no nome de outras duas pessoas que não são policiais e não tem antecedentes criminais.
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Em determinado ponto das conversas pelo WhatsApp encontradas no celular de Flordelis, o homem pede um nome fictício para chamar Flordelis e sugere Renata, o que é aceito pela deputada. “Nunca é bom os verdadeiros nomes”, justifica ele. O homem também orienta a deputada a comprar um celular sem internet pois, segundo ele, é mais difícil de ser grampeado.
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Os dados aos quais o Extra teve acesso foram encontrados pela DH no celular de Flordelis após uma análise preliminar que foi encaminhada à 3ª Vara Criminal de Niterói para serem anexados ao processo criminal respondido por Flávio dos Santos e Lucas dos Santos, que já são réus pela morte de Anderson.
A DH de Niterói, que investiga Flordelis por suspeita de participação na morte do marido, passou a apurar denúncia de que a deputada havia sofrido extorsão após uma entrevista dada por ela ao Fantástico, da TV Globo, no dia 22 de setembro.
Na ocasião, a parlamentar revelou que foi procurada, pelo telefone de seu gabinete na Câmara dos Deputados, em Brasília, por um homem que se apresentou como policial civil lotado na Delegacia de Homicídios da Capital. Em uma ligação gravada pela deputada, o homem oferece passar informações a ela em troca de dinheiro. Ele cita ter conhecimento da existência de que uma testemunha que garantiu ter provas de que Flordelis tinha sido a mandante da morte do marido. Na entrevista, a deputada não citou quaisquer trocas de mensagens com o homem.
As investigações da DH apontam que o mesmo homem que ligou para o gabinete de Flordelis, exigindo dinheiro em troca de informações, é aquele que conversa com ela pelo WhatsApp. No dia 22 de agosto, quando recebe a primeira mensagem do suposto policial, a parlamentar informa o seu advogado, Fabiano Migueis, sobre o que estava ocorrendo. Migueis orienta a deputada a não atender mais o homem. Flordelis, no entanto, continua conversando com o suposto policial.
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Nas conversas com Flordelis, o suposto policial ainda aconselha a deputada a conceder uma entrevista à imprensa. “Você deveria chamar a imprensa, dar uma entrevista falando que seu coração de mãe não quer acreditar que seus filhos são os culpados. Mas se eles forem os culpados, tem que pagar pelo que fizeram. Fale que muitos filhos tinham brigas entre eles, mesmo por causa de ciúmes”, escreveu ele no dia 24 de agosto. Logo em seguida, durante o diálogo, ele diz que a deputada tem que ser mais emotiva. “Demonstre sofrimento na entrevista, chore, deixe as lágrimas rolarem”, acrescenta.
Em outra conversa, dessa vez no dia 11 de setembro, o homem também dá orientações sobre a reprodução simulada do crime, que seria realizada pela DH na casa de Flordelis; “Atenção na reconstituição. Obviamente a emoção e a saudade vão bater. Deixa a emoção tomar conta, pois tudo será filmado. A mídia vai ter acesso a tudo. Sei que você é inocente, mas o que está pegando são as contradições”, escreveu o suposto policial. “Eu vou fazer a reconstituição porque quero ajudar a polícia em tudo”, respondeu a ele Flordelis.
Durante os diálogos, o homem chega a citar, em alguns momentos, que ele não quer dinheiro da deputada, mas a ideia de cobrar pelas informações foi de seu amigo que trabalha na DH de Niterói, que está endividado. "A ideia de pedir algo por informar foi do colega e não minha, pois ele está cheio de dívidas". Flordelis, então, desconversa: "Então deixa", diz ela, desistindo de obter uma informação do homem.
Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa de Flordelis afirmou que as ligações recebidas foram encaminhadas para a Polícia Federal, "a quem cabe apurar os fatos relatados".A assessoria acrescentou ainda que por se tratar das investigações que estão em andamento, a deputada não faria outros comentários.
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