Polícia Civil demora 11 meses para expor nome de Bolsonaro no caso Marielle

Planilhas estariam nas mãos do Ministério Público do Rio desde novembro. Documentos do inquérito mostram contradição entre fatos no caso Marielle

Polícia teria ciência do nome de Bolsonaro envolvido no caso Marielle há 11 meses.
Foto: Isac Nóbrega/PR
Polícia teria ciência do nome de Bolsonaro envolvido no caso Marielle há 11 meses.

A Polícia Civil do Rio de Janeiro possui, há um ano, as planilhas com os registros de entrada de visitantes do condomínio onde o presidente Jair Bolsonaro residia até se mudar para o Palácio do Planalto. Ao menos é isso que consta nos documentos do inquérito sobre o assassinato da ex-vereadora do PSOL do Rio de Janeiro, Marielle Franco, segundo a Folha de São Paulo. 

A versão recente do Ministério Público do Rio foi contradizem pelos papéis. O órgão alegava que só teve acesso aos documentos no dia 5 de outubro. O material teria sido apreendido na portaria do condomínio nas investigações sobre o mandante do assassinato de Marielle , conforme apurou a Folha de São Paulo.

O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Dias Toffoli , só foi consultado em outubro pelos integrantes do Ministério Público do Rio de Janeiro para saber se deveriam continuar a investigação após o nome de Bolsonaro ter aparecido nas investigações. 

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Uma das planilhas manuscritas indicava que o ex-PM Élcio tinha como destino a casa de número 58, então residência do presidente Jair Bolsonaro. Um dos porteiros autorizou a entrada a pedido de " seu Jair ". 

O jornal aponta que a Divisão de Homicídios da polícia está com os papéis desde novembro de 2018 ao menos. A Promotoria tomou conhecimento em março de 2019. A promotora que informou sobre a planilha não foi apreendida anteriormente foi Carmen Carvalho, afastada do cargo após fotos suas em apoio a Bolsonaro e aliados terem viralizado na internet. 

Na hora da visita, no entanto, Bolsonaro estava na Câmara dos Deputados. A ligação teria sido feita para a casa 65/66 e a autorização partiria de Ronnie Lessa. A polícia apreendeu o controle de acesso ao condomínio em novembro de 2018, apesar do caso ter sido exposto no mês de novembro deste ano. De acordo com a Folha, a análise do documento teria ocorrido até fevereiro. 

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Na portaria do condomínio a Divisão de Homicídios da Polícia Civil obteve a planilha de visitantes entre o fim de dezembro de 2017 e outubro de 2018. De acordo com informações apuradas pela Folha de São Paulo, as tabelas foram divididas entre acessos de carro e de pedestres.

Haveria um outro arquivo de programa Excel em que agentes da unidade transcreveram as informações dos originais. A cópia, contudo, manteve como foco as informações que indicavam acesso à casa 65/66, de Ronnie Lessa , entre fevereiro e março de 2018. 

A forma de obtenção das planilhas não teria ficado claro no processo. A referência dos documentos é feita em fevereiro e o delegado Giniton Lages também menciona as planilhas no relatório final do inquérito, datado de março de 2019. 

A análise da menção de Bolsonaro só passou a ser alvo das autoridades após o interrogatório dos dois acusados. Lessa também foi questionado sobre frequentar a casa de outros moradores, mas ele negou.