A juíza da 3ª Vara Criminal de Niterói, Nearis dos Santos Carvalho Arce, determinou na última sexta-feira que Lucas Cézar dos Santos, um dos filhos da deputada federal Flordelis dos Santos (PSD) não tenha contato com “integrantes de facções criminosas ou de milícias” na cadeia.
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O rapaz de 18 anos é réu no processo da morte de seu pai adotivo, o pastor Anderson do Carmo, marido de Flordelis . Em ofício enviado à Secretaria de Administração Penitenciária (Seap), a magistrada solicitou que Lucas ficasse, preferencialmente, no presídio de segurança máxima Laércio da Costa Pelegrino, conhecido como Bangu 1, no Complexo de Gericinó. Na própria sexta, o rapaz foi transferido para a unidade como “medida protetiva”, segundo a secretaria.
Em sua decisão, a juíza não explica o motivo para manter Lucas afastado dos integrantes de quadrilhas ou milicianos. A magistrada já havia determinado, um dia antes, que Lucas ficasse em presídio diferente de Flávio dos Santos Rodrigues, seu irmão e também réu pela morte do pastor. Os dois estavam na mesma cela do presídio Bandeira Stampa, conhecido como Bangu 9, também em Gericinó, há cerca de 40 dias. Em Bangu 1, os detentos ficam presos sozinhos, sem dividir cela com mais ninguém.
Em sua decisão, a magistrada afirmou que a separação dos réus era necessária, uma vez que Lucas afirmou, em depoimento à Polícia Civil no dia 5 de agosto deste ano, que estava sendo coagido por Flávio a mudar o seu depoimento. O relato foi dado por Lucas quando ainda estava preso na Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonãço, onde ele e Flávio permaneceram por dois meses. Na unidade policial, eles foram mantidos em carceragens diferentes.
O pedido para separação de Lucas e Flávio foi feito por Ângelo Máximo, advogado da mãe e irmã de Anderson, que atua como assistente de acusação no processo respondido por Lucas e Flávio. Ele fez a solicitação após Flordelis ter divulgado, em entrevista ao “Fantástico”, da TV Globo, que havia recebido uma carta de Lucas na qual o rapaz muda sua versão sobre o crime. A deputada afirmou que a carta chegou à família pelas mãos da esposa de um preso. Ainda de acordo com a parlamentar, o documento foi entregue a um de seus filhos na frente de um presdío, que ela não disse qual.
Na petição enviada à Justiça, Ângelo Máximo solicita que a magistrada oficie também a Seap para informar o procedimento para o recebimento e envio de cartas pelos presos. Além disso, ele quer que a pasta conceda as imagens das câmeras de segurança de Bangu 9 nas quais Lucas aparece ao lado de Flávio “em atitudes suspeitas”.
- Essa carta não soou bem aos meus ouvidos. As imagens de dentro de Bangu 9 foram pedidas para uma análise futura de uma coação do Flávio em desfavor do Lucas, até mesmo para expor ao corpo de jurados que irá julgar o processo. Vamos ver com que olhos os jurados irão analisar esse possível vídeo em que os dois apareçam juntos. O que, repito, já vinha acontecendo dentro da DH, mesmo com eles presos em salas separadas - afirmou Ângelo em entrevista ao EXTRA.
Em entrevista ao EXTRA na última semana, os advogados de Flávio negaram que o cliente tenha coagido Lucas a mudar sua versão do crime.
Ângelo Máximo também solicitou as imagens da parte externa do Complexo de Gericinó, no intuito de identificar a esposa do preso que entregou a carta de Lucas a um dos filhos de Flordelis. Ângelo Máximo pediu ainda que a juíza solicite informações de todos os advogados que visitaram Lucas no período em que o rapaz ficou preso em Bangu 9.
"Acho que estão tentando jogar uma cortina de fumaça em cima das investigações e também do processo. O Lucas prestou inúmeros depoimentos e em nenhum momento citou o nome de um suposto mandante do crime, como fez nessa suposta carta. Essa carta não corresponde com a verdade. Querem causar embaraço no processo e na investigação", afirma Ângelo.
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O advogado deu entrada com os pedidos no dia 25 de setembro. Dois dias depois, a juíza atendeu a uma de suas solicitações, a de transferir Flávio e Lucas. Os outros pedidos ainda estão sendo apreciados.