Todos os dias, pilhas de documentos circulam pelos gabinetes do Ministério da Economia, em Brasília, de relatórios sobre contas públicas a pedidos de órgãos do governo federal por mais verba. No meio dessa papelada, um ofício inusitado chamou a atenção dos funcionários: uma intimação endereçada a um certo Paulo Roberto Nunes Guedes — exatamente o nome completo do titular do ministério.
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O processo tratava de algo nada trivial: uma acusação de violência doméstica, enquadrada na Lei Maria da Penha. Tudo, no entanto, não passou de um mal-entendido, porque a intimação tinha ido para o Paulo Guedes errado.
O documento chegou ao gabinete de Paulo Guedes há cerca de dois meses, por engano. O verdadeiro destinatário, tudo indica, é um homônimo do ministro. O GLOBO confirmou com a advogada do verdadeiro réu, Cristiane Santos da Silva, que o ministro não é a pessoa citada na intimação. Ela não quis, no entanto, dar detalhes sobre seus clientes, nem sobre o caso. O repórter não conseguiu confirmar a identidade do acusado.
A advogada atende em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, a cerca de 1.100 quilômetros de Brasília e também distante da residência de Guedes no Leblon, na Zona Sul do Rio, onde o ministro costuma passar os fins de semana. Segundo fontes, Guedes tomou conhecimento da intimação, entre uma reunião e outra no ministério, e encarou a situação com bom humor. "Está doida? Acha que vou bater em mulher?", disse o ministro, segundo um interlocutor.
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O processo que pesa contra o homônimo de Paulo Guedes corre em segredo judicial. De acordo com as informações disponíveis no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ), a ação começou em 2017, quando a vítima solicitou medidas protetivas de urgência. A movimentação mais recente foi a marcação de uma audiência, prevista para novembro próximo.