Novas mensagens obtidas pelo site The Intercept Brasil e divulgadas pela Folha de S.Paulo neste domingo (8) apontam que o ex-presidente Lula não estava confortável com a indicação para ser ministro da Casa Civil de Dilma Rousseff, em 2016. Os veículos tiveram acesso a mensagens dos agentes da Polícia Federal responsáveis por monitorar o grampo a Lula, com resumos das conversas gravadas.
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Na época, um áudio de uma conversa entre Lula e Dilma gravada após a remoção da autorização judicial foi anexada aos autos do processo, cujo sigilo foi removido pelo então ministro Sergio Moro . Nesta conversa a então presidente dizia que estava enviando o termo de posse de ministro para que fosse usado “em caso de necessidade”. A principal interpretação do diálogo era de que Lula estava sendo nomeado ministro para que seus processos na Lava Jato saíssem da mão de Moro e passassem para o Supremo Tribunal Federal (STF), em função do foro privilegiado que iria adquirir.
Os resumos das conversas de Lula enviados para membros do Ministério Público Federal que vieram a público neste domingo, no entanto, mostram que Lula estava relutante em aceitar o convite de Dilma para comandar o Ministério da Casa Civil . Ele teria dito que cedeu após sofrer pressões de aliados.
À sua assessora Clara Ant, Lula teria confirmado a indicação ao Ministério, mas teria dito que ficou conversando com Dilma até meia noite e que tinha “mais incerteza do que certeza”. Ele também teria expressado esse desconforto a seu advogado Cristiano Zanin Martins, ao ex-ministro Franklin Martins, ao presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, e a dois jornalistas de sua confiança.
Além da conversa entre os petistas, outras 22 ligações do ex-presidente foram interceptadas após a ordem de suspensão do grampo. Isso se deu porque as operadoras de telefonia demoraram para executar a ordem judicial de suspensão do grampo.
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Nessas conversas, Lula só mencionou as investigações da Lava Jato uma vez, com um de seus advogados. Apesar de ter acesso a todo o conteúdo, o MPF optou por anexar aos autos do processo apenas a conversa entre Lula e Dilma, que teve impacto imediato na força-tarefa da Lava Jato . O procurador Athayde Ribeiro da Costa, por exemplo, afirmou que o diálogo confirmaria desvio de finalidade da nomeação.
Relação com Michel Temer
Entre as conversas de Lula ouvidas pela Polícia Federal está uma com o então vice-presidente Michel Temer . As anotações mostram que Lula estava determinado a se reaproximar de Temer, que naquele momento tinha uma relação ruim no governo petista.
Lula e Temer combinaram de se encontrar no dia seguinte e comentaram as manifestações pró-impeachment e em apoio à Lava Jato. Na visão de Lula, eles deviam agir como “irmãos de fé”, pois o avanço da Lava Jato poderia trazer consequências para todos os partidos. “Ninguém ganhou com a manifestação de domingo”, disse Lula.
Outro lado
À Folha de S.Paulo , o ministro da Justiça Sergio Moro afirmou que não soube dos telefonemas de Lula que foram grampeados pela PF. “O atual ministro teve conhecimento, à época, apenas dos diálogos selecionados pela autoridade policial e enviados à Justiça”, diz nota do Ministério da Justiça.
Ele também disse que suas razões para tornar públicos os telefonemas estão expostas em suas decisões judiciais. Moro voltou a afirmar que não reconhece a autenticidade das mensagens exibidas pelo The Intercept Brasil.
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A força-tarefa da Lava Jato, por sua vez, disse em nota que “não houve seleção de áudios pelas autoridades quando do levantamento do sigilo” do caso de Lula. O comunicado também informou que “as conversas que não revelaram, na análise da polícia, interesse para a investigação, permaneceram disponíveis para a defesa, que tem direito de informá-las nos autos e utilizá-las”.
A Polícia Federal não quis comentar a seleção dos áudios