Preso na Operação Spoofing, o hacker Walter Delgatti Neto admitiu pela primeira vez, em um novo depoimento à Polícia Federal , que também invadiu as contas de Telegram do ministro da Economia Paulo Guedes e da deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP) , líder do governo no Congresso Nacional.
Neste novo depoimento, prestado em 14 de agosto e obtido pelo GLOBO, o hacker Delgatti relatou diversas outras tentativas de invasão e apresentou esclarecimentos a novas suspeitas levantadas pela PF. Delgatti já havia admitido que invadiu o Telegram do ministro da Justiça Sergio Moro e do procurador Deltan Dallagnol, da Lava Jato. Disse ainda à PF, em seu primeiro depoimento, que repassou as conversas de Deltan para o jornalista Glenn Greenwald, do site "The Intercept". Na ocasião, porém, Delgatti negou ter invadido a conta de Paulo Guedes.
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A PF, porém, havia encontrado no computador de Delgatti um atalho para entrar na conta de Guedes. Confrontado com a informação, ele admitiu a invasão e também confirmou ter hackeado Joice Hasselmann , mas não explicou se teve acesso ao conteúdo das conversas deles. O hacker disse ainda que usou um outro aplicativo para executar as invasões, diferente do BRVOZ, que a PF havia detectado primeiro.
"Invadiu as contas de Telegram do ministro da Economia Paulo Guedes e da deputada federal Joice Hasselmann pelo sistema VOIP da empresa Setetel", admitiu Delgatti, sem dar mais detalhes sobre o assunto.
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O hacker relatou que todas as contas encontradas abertas em seu computador pela PF foram acessadas por ele --era o caso de Guedes. Mas disse que não se lembrava de todas as invasões. "Não sabe dizer exatamente quais contas do Telegram, de fato, conseguiu acessar", afirmou. E complementou: "Todas as contas abertas em seu computador foram acessadas".
"Para conseguir baixar a lista de contato das contas do Telegram era necessário aguardar 24 horas, motivo pelo qual em alguns casos apenas tirava uma foto das telas com os nomes de contato da pessoa invadida", explicou, ao ser questionado sobre fotos encontradas em seu computador.
Delgatti também admitiu que invadiu a conta do Telegram do deputado Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL-SP), descendente do imperador D. Pedro I e herdeiro da família real. Segundo o hacker, ele conseguiu baixar mensagens de cerca de vinte contas invadidas, mas não disse quais eram. Ele foi questionado pela PF por todas as contas que a perícia detectou como alvos de tentativas de invasão, mas Delgatti afirmou que não conseguiu acessar todas elas.
A PF ainda tenta identificar se Delgatti recebeu pagamentos pelas invasões aos integrantes da Lava-Jato. No domingo, O GLOBO revelou que o delegado Luís Flávio Zampronha já identificou o crime de "lavagem de dinheiro" por parte do hacker, por ocultar o recebimento de recursos provenientes de crimes como estelionato e fraudes bancárias. Até agora não há indícios de que os outros presos atuaram em conjunto com ele.
No interrogatório, o delegado questionou Delgatti sobre um novo personagem surgido na investigação com quem ele manteve transações financeiras, Thiago Eliezer Martins Santos. Delgatti confirmou que comprou um veículo Land Rover de Thiago, no valor de R$ 50 mil, e disse não saber explicar o motivo de ter feito uma transferência de R$ 4.500,00 para Thiago. A PF investiga se esse novo personagem teve relação com as invasões e se pode ser um braço financeiro do grupo, liderado por Walter Delgatti. O hacker disse ainda que possui como bens o veículo Land Rover e uma BMW, cujo valor não detalhou.
Hacker tentou obter prova da Fuvest
Também questionado sobre uma outra conta invadida, "Edmum Fuvest", Delgatti afirmou que tentou entrar no seu Telegram para roubar conteúdo do vestibular da Fuvest, responsável por organizar o processo seletivo de várias universidades, mas que não teve sucesso.
O hacker afirmou ainda que invadiu a conta do Telegram de um ex-presidente do Inep, cujo nome ele não soube citar, mas disse que não roubou informações sobre o Enem. Confirmou, porém, ter feito a prova do Enem.
Nesta quinta-feira, o juiz Ricardo Leite, da 10ª Vara Federal do DF, manteve a prisão preventiva de Delgatti e dos seus três amigos, detidos na Operação Spoofing sob suspeita de atuarem em crimes junto com Delgatti.
O juiz contrariou a manifestação da Polícia Federal, que havia entendido que dois dos quatro hackers presos não ofereciam mais riscos à investigação. A PF afirmou à Justiça que a prisão preventiva de Delgatti e de Gustavo Henrique Elias Santos era necessária, mas que não havia mais necessidade de manter presos Suelen Oliveira e Danilo Marques, porque seus aparelhos eletrônicos já tinham sido apreendidos e eles não tinham ligação direta com a invasão do Telegram de autoridades.