Nove dias após a morte do marido, o pastor Anderson do Carmo, a deputada federal Flordelis (PSD) convocou uma entrevista para falar com a imprensa. “Nós estávamos em um momento de harmonia na nossa casa. Estávamos vivendo um momento muito bom na nossa família, no nosso lar”. Essa foi uma das declarações feitas pela parlamentar. Depoimentos dados à polícia pelos filhos da pastora e outras testemunhas, relatando planos dentro da casa para matar Anderson, contradizem essa e outras versões da pastora.
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O Extra fez um levantamento, comparando depoimentos de Flordelis , dos filhos e de testemunhas, além de declarações dadas pela parlamentar à imprensa, e achou dez pontos contraditórios nos relatos da pastora ou mudanças nas versões apresentadas por ela.
Um dos pontos em que Flordelis mudou sua versão foi sobre a quantidade de tiros disparados em Anderson . No primeiro depoimento à polícia , pouco mais de 12 horas após o crime, ela disse que ouviu “uma série de disparos”, mas não conseguia dizer quantos. Oito dias depois, na segunda vez em que foi ouvida pelos policiais, a parlamentar disse exatamente quantos disparos ouviu (seis), ressaltando até mesmo que houve um intervalo entre eles.
O segundo relato de Flordelis sobre o número de tiros coincide com a versão de Flávio dos Santos Rodrigues, um dos seus filhos, que confessou ter matado Anderson com seis disparos. A Polícia Civil investiga se outras pessoas atiraram, já que havia 30 perfurações no corpo do pastor. A polícia desconfia de que Flávio esteja acobertando comparsas, por isso o crime continua sendo investigado. Além de Flávio, filho biológico apenas de Flordelis, Lucas Cézar dos Santos, filho adotivo do casal, também está sendo acusado do crime.
O pastor Anderson do Carmo foi executado a tiros, no dia 16 de junho, dentro da casa da família, em Pendotiba, Niterói . Ele havia acabado de chegar à residência com Flordelis.
Como o Extra revelou no último dia 23, um erro da Polícia Civil criou uma falsa contradição nos depoimentos de Flordelis. A deputada não disse que estava dormindo na hora do crime, como consta no documento. Por engano, um trecho do relato dado por um dos filhos da parlamentar foi incluído em seu depoimento. Procurada, a deputada disse que reafirma as declarações dadas à polícia e à imprensa e que não se posicionará sobre depoimentos de terceiros.
'Pontas soltas' do caso
Harmonia na casa - Flordelis dizia que vivia um bom momento com os familiares. Porém, os depoimentos mostraram que ela sabia do plano para matar o pastor, e que mais de um de seus filhos estava envolvido.
Plano de morte - A parlamentar afirmou que tomou conhecimento sobre o fato quando foi informada pela polícia. Porém, Marzy, uma das filhas afetivas, confessou que contou à mãe sobre a ideia antes da execução.
Briga por dinheiro - Flordelis, em depoimento, disse já ter presenciado brigas na família, mas nunca por dinheiro. Entretanto, ao serem denunciados pelo MP-RJ, descobriu-se que uma das motivações de Flávio e Lucas no caso era o descontentamento com o fato de que era o pastor quem controlava o dinheiro da família.
Moto na noite do crime - Em seu primeiro depoimento, a deputada disse ter desconfiado da presença de pessoas estranhas em uma moto no trajeto até em casa no dia do crime. Depois, não fez mais qualquer menção ao veículo.
Disparos - Sem precisar exatamente a quantidade, Flordelis disse ter ouvido "uma série de disparos" quando foi interrogada inicialmente. Em uma segunda oportunidade, foi categórica ao cravar que foram efetuados seis disparos.
Celular desaparecido - Inicialmente, a pastora disse que o celular do marido estava em casa e que seria entregue à polícia. Na sequência, em segundo depoimento, disse não saber do paradeiro do aparelho, o que foi desmentido por outros familiares.
Briga política - Flordelis alegou não se recordar de "nenhuma decisão ou questão política" do pastor ou de algum familiar que possa ter desagrado a alguém, mas fatos que se seguiram ao crime, como a exoneração da esposa de um dosl filhos, mostram que a história era diferente.
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Ameaças - Parlamentar disse que não sabia de qualquer tipo de ameaça sofrida por Anderson. Porém, versão de Misael e Daniel aponta que o pastor já havia relatado essa situação, além de ter encontrado uma mensagem que falava sobre o plano de matá-lo.
Relação com os filhos - A deputada sempre fez questão de ressaltar que não havia diferença de tratamento entre os filhos, mas alguns revelaram em depoimento que não era bem assim, e que Flordelis tratava melhor os filhos biológicos.
Cachorros - Pastora disse que cachorros eram mansos e raramente latiam, mas ressaltou, em segundo momento, ter estranhado que cães não tenham se manifestado na madrugada do crime.
Confira a resposta da deputada na íntegra
“Vamos responder as questões que digam respeito as declarações e depoimentos exclusivamente da deputada. Não cabe a deputada fazer considerações sobre os depoimentos de outras pessoas que foram ouvidas pela polícia ou pela imprensa. Porque isso caracterizaria uma acareação. Acreditamos que não seja essa proposta da matéria. Feita a ponderação, vamos as questões.
1. Plano para matar o pastor: Isso diz respeito ao depoimento de outras pessoas, então não cabe comentar. A deputada mantém as declarações que deu em seu depoimento de que não tinha conhecimento de nenhuma intenção de matar o Pastor Anderson.
2. Harmonia na casa: O sentimento da deputada no momento em que disse que havia harmonia na casa era esse. Nada, no dia a dia, da família, indicava desarmonia. Se houve, como parece, desarmonia ou conflito, isso não era aparente.
3. Ameaças: A deputada não irá comentar as declarações de outras pessoas. Mas, com relação a isso quesito, já está respondido anteriormente.
4. Celular do pastor: Ela não irá se pronunciar sobre o depoimento de outras pessoas. Com relação ao celular do Pastor Anderson, a deputada já declarou várias vezes que desconhece o paradeiro do celular, conforme avisou à polícia e a própria imprensa. Sobre a nota, a primeira questão que precisa ficar clara é que a nota nasceu em razão de declarações do Misael. Diante disso, a deputada confirma, categoricamente, o que está colocado na mesma.
5. Número de disparos: No segunda depoimento da deputada, ela deixou claro que ouviu seis disparos. E esse depoimento ela confirma. Sob a questão dos disparos, há muita polêmica. Cabe a perícia dizer. O fato de terem sido ouvidos seis disparos, mais ou menos, não é relevante. Mas, a deputada reafirma o que disse à polícia.
6. Motos no local: A deputada recorda que mencionou esse fato no segundo depoimento, porque foi perguntada.
7. Briga política: Não há nenhuma contradição. Há uma percepção nova em razão das atitudes do Misael. O desenrolar dos acontecimentos criou uma nova percepção dos fatos.
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8. Desavenças por dinheiro: Voltamos a reafirmar que a deputada não falará sobre declaração de terceiros.
9. Diferenças entre filhos: A deputada não irá se pronunciar sobre a declaração de terceiros. Só faz questão de reafirmar que o sentimento dela, com relação aos filhos, não descrimina.
10. Cachorros: A deputada não irá se pronunciar sobre a declaração de terceiros e mantém todas as declarações que deu à polícia e à imprensa.”