Quem é Rodrigo Maia, alvo de bolsonaristas e fiador da maior vitória do governo?
Presidente da Câmara foi o principal articulador para que a reforma fosse aprovada e saiu como vencedor após longas negociações no Congresso
Em seu sexto mandato como deputado federal, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), vive o momento mais relevante de sua carreira política. Maior vitória do governo Bolsonaro até então, a aprovação em primeiro turno da reforma da Previdência , nesta quarta-feira (10), deve ser creditada especialmente ao democrata, que soube articular e mostrar que está no comando do Parlamento, mesmo que a presidência do Congresso esteja a cargo do senador Davi Alcolumbre (DEM-AP).
Antes de anunciar o resultado da votação, Rodrigo Maia trouxe o protagonismo para si e para os deputados do chamado Centrão e não apenas deixou de citar o governo, que, com o ministro da Economia, Paulo Guedes, colocou a reforma da Previdência como prioridade para o primeiro ano, como criticou o trato do presidente Jair Bolsonaro (PSL) com as instituições. "Investidor de longo prazo não investe em país que ataca as instituições. E acho que esse é um conflito que nós temos hoje e que nós temos que superar", pregou.
Filho do ex-prefeito do Rio Cesar Maia (DEM), Rodrigo Felinto Ibarra Epitácio Maia nasceu em Santiago, no Chile, em 12 de junho de 1970. Por influência do pai, iniciou a carreira política como o mais jovem secretário de governo da Prefeitura do Rio, aos 26 anos, na gestão de Luiz Paulo Conde, sucessor de Cesar Maia. É casado com Patrícia Vasconcellos, enteada do ex-ministro e ex-governador do Rio de Janeiro, Moreira Franco, e é pai de três filhas.
E apesar de Bolsonaro comemorar a aprovação da reforma com o seu já conhecido bordão "grande dia" e ser aclamado pelos seus seguidores, os bolsonaristas devem agradecer a Maia, a quem já chamaram de "inimigo do Brasil" e "funcionário do centrão" em protesto a favor do governo do fim de maio , e também criaram um boneco inflável em que o deputado apareceu ao lado do "pixuleco", boneco vestido de presidiário que representa o ex-presidente Lula.
Maia também foi alvo de críticas do ministro Paulo Guedes que, em junho, chamou as mudanças propostas pelo relator Samuel Moreira (PSDB) de "pressões corporativas" e "lobby de servidores do Lesgislativo", dizendo que o recuo poderia "abortar a nova Previdência".
Na ocasião, Maia se defendeu, pediu respeito e disse que a Câmara é o bombeiro das crises criadas pelo governo nos primeiros meses do ano e que o parlamento brasileiro estava "conduzindo sozinho a articulação para a aprovação da reforma da Previdência". "Se nós dependêssemos da articulação do governo, teríamos 50 votos", afirmou em entrevista à GloboNews , em 14 de junho.
Dois meses antes, ele havia dito que o Executivo não poderia "se omitir" na articulação política para garantir a reforma. O deputado, logo após a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) ter dado aval para que a proposta fosse tramitada, pediu maior diálogo aos governistas.
"Daqui para frente, a gente precisa do governo. A gente precisa que o governo dialogue, que o governo participe mais e que o governo tenha o que cada um dos deputados teve aqui, muita energia e muita vontade de aprovar esse tema, que vai garantir no futuro o pagamento das aposentadorias dos brasileiros", pediu.
E a energia pedida por Maia valeu a pena, como já é sabido, já que a reforma foi aprovada por 379 votos a favor - 71 acima do mínimo - e 131 contra.
Acusações de corrupção
Mas para além de sua vitória particular nesta quarta, Maia enfrenta acusações de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, em dois inquéritos que estão no Supremo Tribunal Federal (STF), já que, por ser parlamentar, possui foro privilegiado. De acordo com as acusações, o parlamentar teria recebido propinas pagas pela OAS e Odebrecht, no âmbito da Operação Lava Jato, e GOL Linhas Aéreas.
A Polícia Federal diz que Maia recebeu propina do ex-executivo da OAS, Léo Pinheiro, em troca de "favores políticos" à empreiteira no valor de R$ 1 milhão. A PF suspeita ainda que o valor foi repassado à campanha do pai, o ex-prefeito do Rio de Janeiro, César Maia (DEM). As investigações seguem em andamento.
Já de acordo com planilhas da Odebrecht apreendidas pela PF, o deputado era o " Botafogo ", time carioca pelo qual ele torce. Cláudio Melo Filho, ex-diretor de Relações Institucionais da empreiteira, em parte de sua delação premiada, disse que o parlamentar recebeu R$ 600 mil, entre 2010 e 2013, em troca da atuação do deputado em favor da empresa. Além disso, Cesar Maia, também teria sido beneficiado e os valores totalizam R$ 1,3 milhão.
Outro inquérito em que o senador Renan Calheiros (MDB-AL) também era acusado ao lado de Rodrigo Maia foi arquivado, no fim de abril, pelo ministro do STF Luiz Edson Fachin, a pedido da procuradora-geral da República, Raquel Dodge.
Na mais recente das acusações, um dos donos da Gol Linhas Aéreas, Henrique Constantino, disse em seu acordo de colaboração, que Maia recebeu "benefícios financeiros" por meio da Associação Brasileira de Empresas Aéreas (Abear). O presidente da Câmara sempre negou todas as acusações.
Enquanto os processos não andam, Rodrigo Maia segue galgando para, quem sabe, deixar de presidir a Câmara e suceder Bolsonaro em 2022 no Planalto. Antes, ele tentará articular para que outras reformas passem no Congresso, como a tributária. Se conseguir, sua liderança e força deve crescer ainda mais.