IstoÉ

Em política, não há espaço vazio. Quando uma autoridade mostra vulnerabilidades, como é o caso do presidente Jair Bolsonaro (PSL), outros personagens do mundo político arregaçam as mangas para trabalhar na ocupação desse vácuo. E é o que está fazendo o governador de São Paulo, João Doria (PSDB).

Meticulosamente, Doria está planejando cada passo para pavimentar a estrada que o leve a concorrer em condições de vencer as eleições presidenciais de 2022. Primeiro, montou um governo recheado por ex-ministros, com reconhecida eficiência no cenário nacional, e está desenvolvendo ações que o destacam da ineficiência do governo federal, atraindo empresas para o Estado e gerando empregos.

O PSDB de Doria quer transformar a gestão de São Paulo em laboratório para o Brasil
Divulgação/Governo do Estado de São Paulo - 2.2.19
O PSDB de Doria quer transformar a gestão de São Paulo em laboratório para o Brasil

Depois, tomou o controle de seu partido, o PSDB, colocando aliados em todos os diretórios, do estadual ao nacional. Emplacou na semana passada o ex-ministro das Cidades, Bruno Araújo , como o novo presidente nacional, em substituição ao ex-governador Geraldo Alckmin , com quem não vinha se dando bem desde as eleições do ano passado.

Em uma tacada só, Doria afastou os “cabeças brancas” (mais velhos), que dominavam o partido há 30 anos, e anunciou que vai levar a agremiação para a centro-direita, com a adoção de políticas liberais na economia, mas não conservadoras nos costumes, diferenciando-se do bolsonarismo. Ao bancar Araújo, quebrou outro paradigma: ele é pernambucano, terra onde o PSDB sempre perdeu eleições. Doria sabe que um paulista só terá chances de se eleger presidente se for bem votado no Nordeste.

De acordo com a revista IstoÉ , no Congresso, a intenção a partir de agora é o partido consolidar a sigla como alternativa à extrema-direita do PSL . Tanto assim que durante a convenção que elegeu Araújo, na sexta-feira 31, estiveram presentes líderes de vários partidos do chamado Centrão, incluindo o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), além de dirigentes do MDB, PRB e PL, que vêm sendo ofendidos por Bolsonaro.

Deu-se início, assim, à eventual formalização de uma frente que pode apresentar um candidato viável à sucessão. Para integrantes do partido, a ideia é que esse grupo se posicione, desde já, em relação às inconstâncias do presidente. O partido também não ficará mais em cima do muro. Isso não significa que o PSDB vai se colocar como oposição, mas saberá reconhecer as boas iniciativas do governo, como é o caso da Reforma da Previdência. E, principalmente, mostrar que é possível governar com pautas liberais, sem, no entanto, esquecer a preocupação com o social. O foco é na implementação de boas práticas políticas.

Liberal e democrático

Descontente com o fato de Doria pretender levar o PSDB mais para a direita, FHC nem foi à convenção. O governador, no entanto, diz que o projeto não está sendo bem compreendido. “O PSDB será um partido de centro, liberal democrático, a favor da economia de mercado. Um partido do emprego e da oportunidade, que vai respeitar o seu passado, mas que será protagonista do seu futuro”, disse Doria em entrevista à revista IstoÉ .

Na mesma linha, o vice-líder do PSDB no Senado, Izalci Lucas (DF), explica que o momento é de o partido se renovar. “Tivemos no ano passado um momento atípico, em que sofremos uma dura derrota, mas está na hora de exaltarmos a nossa herança histórica, como o Plano Real e as conquistas sociais”. Resta saber se o novo PSDB, com Doria no comando, terá força para retomar as vitórias da década de 90, onde os tucanos elegeram e reelegeram FHC.

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