Ninguém governa um País sozinho. No Brasil, por exemplo, desde a redemocratização, sempre houve uma equipe ministerial, um Congresso Nacional e uma série de pessoas pontuais por trás das decisões e da imagem do presidente da República. Não é nada novo. Porém, no caso de Jair Bolsonaro (PSL), há ainda outros três nomes que integram esse time de fortes influenciadores, pelo menos no que diz respeito à articulação do governo: os filhos mais velhos do presidente, Eduardo, Flávio e Carlos Bolsonaro .
Eleito vereador do Rio de Janeiro aos 17 anos de idade, Carlos Bolsonaro se tornou, em outubro de 2000, o homem mais jovem a assumir o cargo na história do Brasil. Hoje, aos 36 anos de idade, o segundo filho do primeiro casamento do presidente exerce o quinto mandato na capital fluminense e é o filho mais ligado ao pai — chamado inclusive de “Zero Dois” por Jair.
Antes de seu primeiro mandato, Carlos tentou cursar Direito por seis meses, mas não gostou das aulas e desistiu. Depois de eleito, passou a frequentar o curso de Ciências Aeronáuticas pela Universidade Estácio de Sá, onde se formou.
A adoração de Carlos pelo pai é evidente. O vereador tem um gabinete estampado com fotos do presidente e a imagem do pai tatuada em seu braço direito. Além disso, Carlos é o principal assessor do presidente no que se refere ao uso das redes sociais e tem a personalidade mais impulsiva dos filhos do presidente. Para completar, ele possui uma especial aversão à mídia e à imprensa, que nunca foi escondida, o que ajuda a justificar outro apelido dado a ele pelo presidente: “pitbull”.
Cão que ladra e morde
Resultado de sua personalidade e de sua presença constante nas redes sociais, Carlos também é o filho do presidente que mais tem se envolvido em polêmicas desde que o pai assumiu o poder em Brasília. Foi ele quem protagonizou embates com o então ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, que acabou exonerado em fevereiro. E também é ele quem tem feito sequentes críticas ao vice-presidente da República, Hamilton Mourão .
Em março, o vereador explicou, em entrevista ao canal no Youtube da jornalista Leda Nagle, a sua atuação nas redes sociais e afirmou que às vezes se sente “culpado” pela forma como se comporta, mas que de vez em quando tem que responder às “pancadas”.
“Se você soubesse a quantidade de porrada que a gente toma… Pela quantidade de perguntas que eu respondo, você acharia que sou um anjo”, disse Carlos Bolsonaro. “Tenho ouvido de amigos meus que o período eleitoral já passou e que temos que ter um sentimento de proatividade porque agora somos vidraça. Entendo isso, mas as pancadas vêm. A cada 20 pancadas que recebemos, de vez em quando, responder uma vale”, completou.
Bebianno: um desafeto que acabou exonerado
Ainda antes de Bolsonaro assumir a Presidência, Carlos e Bebianno já vinham se estranhando. Isso porque, mesmo com o filho se licenciando da Câmara Municipal, em agosto do ano passado, para se dedicar inteiramente à campanha do pai, não foi ele o braço-direito escolhido por Bolsonaro quando a campanha resultou na sua eleição.
Quando eleito, Bolsonaro prestigiou o desafeto de Carlos, o então presidente do PSL, Gustavo Bebianno, ao alçá-lo à função de ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência. Por sua vez, Bebianno, já indicado, disse que o filho do presidente poderia ser o titular da Secretaria de Comunicação (Secom), uma pasta inferior — o que foi visto com maus olhos pelo pitbull do presidente.
O prestígio de Bebianno, no entanto, não durou muito. No dia 18 de fevereiro, o ministro foi oficialmente exonerado do cargo. Em discurso explicando o desligamento do advogado, Jair Bolsonaro agradeceu a dedicação e reconhecimento de Bebianno durante o período eleitoral e reconheceu que o trabalho do ex-presidente do PSL foi importante para sua vitória.
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Em seu pronunciamento, Bolsonaro não citou o filho. Contudo, sabe-se que os dias anteriores à exoneração de Bebianno contaram com a participação de Carlos . Com seu nome envolvido à polêmica das candidaturas de laranjas no PSL, Bebianno vinha tentando afastar boatos de que estava mal visto pelo presidente. Na ocasião, chegou a afirmar que ambos conversavam com frequência. “Só hoje falei com o presidente três vezes”, disse ele.
Mas, logo depois, Carlos divulgou um áudio do pai afirmando que era uma “mentira absoluta” que ele teria conversado com o então ministro. A publicação foi repostada por Jair Bolsonaro e, desde então, começou a pressão no Palácio do Planalto pela demissão de Gustavo Bebianno. Perguntado sobre o episódio, Carlos diz apenas que o ex-ministro mentiu e que não tem mais nada a dizer sobre o assunto.
Embate sem trégua com Mourão
Nos últimos dias, a relação entre o vice-presidente Hamilton Mourão e o clã Bolsonaro como um todo vem se deteriorando. Contudo, apesar de ser alvo de diversas críticas dos três filhos do presidente, o vice vem sendo criticado, principalmente, por Carlos .
Mourão até tentou colocar “panos quentes” em toda a polêmica, dizendo que “quando um não quer, dois não brigam” e pedindo que os jornalistas “virassem a página” . Além disso, o presidente Jair Bolsonaro pediu publicamente que os ataques de seu filho cessassem. Mas o vereador não aceitou a trégua e continua criticando o companheiro de chapa do pai.
A confusão começou quando o deputado Marco Feliciano (PSC-SP) apresentou um pedido de impeachment contra o vice de Bolsonaro, argumentando que ele teria apresentado “conduta indecorosa” por “desdizer” tudo o que o presidente diz, o que seria “indelicado”. O pastor também acusou o vice de crime de responsabilidade.
Por sua vez, Carlos compartilhou, em sua conta do Twitter, um vídeo em que o guru intelectual de Bolsonaro, Olavo das Carvalho, fez duras críticas a militares e a parlamentares da base aliada do governo. O vídeo foi publicado, inclusive, no canal oficial do presidente no Youtube. No entanto, foi apagado logo depois do compartilhamento do vereador.
No discurso de cerca de 6 minutos, o escritor diz que Bolsonaro é “um mártir só de aguentar esses filhos da puta que tem em volta dele” e compara o comportamento da base aliada do governo com o do PT. “Olavo sempre foi Olavo”, escreveu Carlos, ao compartilhar a fala.
Logo depois da exclusão do vídeo do canal oficial, o filho do presidente afirmou que começaria uma nova fase em sua vida e fez uma possível referência aos militares, a quem chamou de “estrelados”. “Começo uma nova fase em minha vida. Longe de todos que de perto nada fazem a não ser para si mesmos. O que me importou jamais foi o poder. Quem sou eu neste monte de gente estrelada?”, escreveu.
Desde então, Carlos vem se dedicando, nas redes sociais, a criticar o vice-presidente da República. Nesse embate, o 'Zero Dois' de Bolsonaro já recebeu o apoio do irmão Eduardo , que disse que seu irmão e Olavo de Carvalho estão “apenas reagindo” ao “que salta aos olhos” de quem acompanha a política. Olavo, por sua vez, disse que Carlos é um “herói nacional”.
Embora esteja assumindo um posicionamento de trégua, Mourão já se posicionou contra Carlos na época da crise envolvendo Bebianno. Na ocasião, Mourão disse que, se o presidente quisesse que o filho Carlos atuasse no Palácio do Planalto, teria o nomeado para um cargo no governo.
Porém, dado o histórico, mesmo não fazendo parte do governo federal oficialmente, Carlos Bolsonaro segue sendo o pitbull do presidente, que ladra e morde do lado de fora do Palácio do Planalto.