Suspeito pesquisou Marielle e tinha ódio de pessoas de esquerda, diz delegado

Chefe da Delegacia de Homicídios do RJ afirmou ainda que investigação do assassinato terá uma segunda fase para apurar possíveis mandantes do crime

Assassinato de Marielle Franco no Rio de Janeiro deve completar um ano no próximo dia 14 de março
Foto: Mário Vasconcellos/Câmara Municipal do Rio de Janeiro
Assassinato de Marielle Franco no Rio de Janeiro deve completar um ano no próximo dia 14 de março

O delegado Giniton Lages, chefe da Delegacia de Homicídios do Rio de Janeiro, que apura o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e do motorista Anderson Gomes afirmou que Ronnie Lessa, policial militar reformado detido nesta terça-feira (12), nutria ódio contra pessoas de esquerda e havia pesquisado informações de Marielle e o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ), entre outros.

"O perfil dele [Ronnie Lessa] revela uma obsessão por determinadas personalidades que militam à esquerda política”, disse Lages. “Você percebe ódio e desejo de morte. Você percebe o comportamento de alguém capaz de resolver uma diferença do modo como foi o caso Marielle Franco ."

Segundo o delagado, ainda haverá uma segunda etapa de investigações sobre o assassinato da vereadora. Nesta fase, serão investigados possíveis mandantes do crime, a motivação do atirador e o paradeiro do carro utilizado no dia do assassinato.

Lages afirmou ainda que as apurações não se encerram nas prisões do sargento reformado Ronnie Lessa e do ex-policial militar Élcio Vieira de Queiroz, realizadas nas primeiras horas desta terça-feira.

"O caso ainda está em aberto. Estamos entregando a primeira fase, e a segunda ainda está em andamento", disse o delegado, que lembrou que hoje foram cumpridos também 34 mandados de busca e apreensão referentes ao caso.

Lessa e Vieira foram indiciados com os agravantes de impossibilitar a defesa da vítima, emboscada e motivo torpe. "O crime de ódio, segundo doutrina, encaixa no motivo torpe".

O delegado defendeu o sigilo das investigações como imprescindível e disse que o modo como o crime foi executado levou a concentração por parte dos policiais nos preparativos para o assassinato e na fuga.

"Como fizeram um crime praticamente perfeito, temos que inverter a ordem das coisas: não é dos vestígios para os autores, mas dos autores para os vestígios", disse o delegado.

O caso Marielle e Anderson mobilizou 47 policiais civis dedicados exclusivamente. Mais de 5,7 mil páginas de investigação foram produzidas, em um inquérito que tem 29 volumes e ouviu 230 testemunhas. O número de linhas telefônicas interceptadas chega a 314. 

"Não quero que o caso Marielle e Anderson se repita. Esse é o maior motivo da nossa dedicação nesse tempo todo. É fazer com que a resposta chegue para mandar recado. O crime Marielle e Anderson não pode se repetir. Esse caso não pode ficar sem resposta, é muito perigoso ficar sem resposta".

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De acordo com o delegado, indícios mostram os suspeitos foram “muito treinados”. Segundo ele, o cuidado em permanecer no automóvel, um Cobalt, desde o deslocamento na orla da Barra da Tijuca às 17h20 até o momento do crime entre 21h09 e 21h12.

Foto: Reprodução/Polícia Civil do Rio
Dois ex-policiais militares presos pela morte de Marielle Franco foram detidos nesta terça-feira

O percurso foi captado por uma série de câmeras da cidade, e o delegado disse que foi afastada a hipótese de que o desligamento de câmeras nos arredores do local do crime tivesse relação com os assassinos.

Nesse período em que os assassinos estavam esperando, uma assessora de Marielle chegou a pôr a mão na maçaneta no carro deles, confundindo o veículo com o Uber que ela estava esperando.

Para identificar o carro usado no crime, os policiais chegaram a procurar proprietários de Chevrolet Cobalt Prata de modelo LS no Rio de Janeiro . Ao todo, 443 carros desse tipo foram identificados na cidade e 126 foram mapeados como possibilidades. "Trabalhamos neles um a um", disse o delegado, que descobriu que o carro usado foi clonado a partir de um veículo de propriedade de uma cuidadora de idosos na zona sul.

O caso fez com que 190 pessoas procurassem o Disque Denúncia até agosto do ano passado para dar informações que poderiam estar relacionadas. O delegado disse que, apesar de nenhuma delas ter apontado os responsáveis pelo crime, esses dados ajudaram a apontar diretrizes para a investigação.

O delegado afirmou que não foi identificada relação alguma de Ronnie Lessa com a família do presidente Jair Bolsonaro. "O fato de ele morar no condomínio de Bolsonaro não diz muita coisa para a investigação da Marielle", disse. "Ele não tem uma relação direta com a família Bolsonaro. Nós não detectamos isso."

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Lages destacou sua satisfação em apresentar parte dos resultados da investigação sobre a morte de Marielle Franco e disse que os policiais tiveram que lidar com muita "contrainteligência que existe com objetivo de desviar o foco e desequilibrar a equipe".

* Com informações da Agência Brasil