A força-tarefa da Operação Lava Jato encaminhou à procuradora-geral da República, Raquel Dodge, informações para uma eventual "arguição de suspeição" do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O documento tem relação com os julgamentos envolvendo o suposto operador do PSDB e ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza , conhecido com Paulo Preto.
De acordo com procuradores, ligações telefônicas e mensagens demonstram que “Aloysio Nunes (ex-senador e ex-ministro das Relações Exteriores do governo Michel Temer) buscou interferir em julgamento de habeas corpus em favor de Paulo Vieira de Souza, em contato direto e pessoal com o Ministro Gilmar Mendes ”.
Paulo Vieira e Aloysio foram alvos da Operação Ad Infinitum, 60ª fase da Lava Jato, deflagrada no último dia 19. Nesta etapa, a força-tarefa mirou contas na suíça atribuídas a Paulo Preto que chegaram à R$ 130 milhões. Um cartão de crédito teria sido emitido em benefício de Aloysio Nunes.
No documento enviado à PGR, a força-tarefa aponta que, em fevereiro de 2019, Aloysio valeu-se da sua proximidade com o ministro do STF para tentar beneficiar Paulo Preto em um processo que tramita na 5ª Vara da Justiça Federal de São Paulo.
Neste caso, o ministro chegou a conceder liminar para que fossem interrogadas testemunhas e analisados documentos em ação contra Paulo Preto que já estava em fase de alegações finais.
No entanto, após recurso da PGR , Gilmar acabou reconsiderando a decisão e mantendo a etapa final do processo, que apura supostos desvios de R$ 7,7 milhões na Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S.A.), empresa paulista responsável por empreendimentos bilionários de governos do PSDB, como o Rodoanel.
“Considerando a iminência de decisão na Reclamação nº 33514, distribuída ao ministro Gilmar Mendes, trazemos com urgência todos os fatos acima descritos, certos de que Vossa Excelência adotará as medidas cabíveis com a velocidade e presteza costumeiras, de forma a evitar que o interesse público subjacente às investigações possa ser prejudicado e que uma mácula de desconfiança paire sobre decisões proferidas por E. Ministro da Suprema Corte”, diz a força-tarefa.
A Reclamação 33514 é um recurso da defesa de Paulo Preto que foi distribuído a Gilmar. Para a defesa, a juíza federal Gabriela Hardt, da 13ª Vara Federal em Curitiba descumpriu decisão anterior do ministro, que determinou a soltura do ex-diretor da Dersa no ano passado.
Nesta quarta-feira, a juíza, defendeu a prisão de Paulo Preto e disse que não desrespeitou decisão de Gilmar.No documento, Gabriela Hardt afirma que Paulo Preto é investigado na Operação Lava Jato como suposto operador financeiro em um esquema da Odebrecht para pagar indevidamente políticos e agentes públicos que eram ligados à Petrobras.
Segundo a magistrada, os fatos não têm relação com os supostos recebimentos de propina na Dersa, acusações que o ex-diretor responde em liberdade devido ao habeas corpus concedido por Gilmar. Após receber as informações prestadas pela juíza, ministro vai decidir o pedido de liberdade feito pela defesa de Paulo Preto.
Entre as informações encaminhadas à PGR, a força-tarefa elenca as ligações entre Aloysio e o gabinete de Gilmar Mendes em suposto benefício de Paulo Vieira. As mensagens do ex-senador foram resgatadas de seu próprio celular, pelos investigadores apreendido no dia 19 de fevereiro.