O vereador do Rio de Janeiro David Miranda (Psol) deve assumir o cargo de deputado federal no lugar de Jean Wyllys , que anunciou nesta quinta-feira (24) sua renúncia ao mandato. Primeiro vereador assumidamente LGBT do Rio, Miranda é casado com o jornalista norte-americano Glenn Greenwald e já acusou o vereador Carlos Bolsonaro de apologia a tortura.
Em sua conta no Twitter, Miranda se descreve como “preto, favelado e primeiro vereador LGBT do RJ”. Após a decisão de Jean Wyllys de não assumir o mandato, o vereador comentou uma reação do presidente Jair Bolsonaro (PSL) nas redes sociais.
“Respeite o Jean, Jair [Bolsonaro], e segura sua empolgação. Sai um LGBT, mas entra outro, e que vem do Jacarezinho [Rio de Janeiro]. Outro que em dois anos aprovou mais projetos que você em 28. Nos vemos em Brasília”, escreveu Miranda.
Durante a campanha eleitoral de 2018, o vereador carioca fez campanha contra a eleição de Bolsonaro e chegou a se envolver em uma polêmica com um dos filhos, Carlos Bolsonaro. Na ocasião, David Miranda disse que levaria uma representação ao Conselho de Ética da Câmara Municipal contra o filho do agora presidente por suposta "apologia à tortura" e "LGBTfobia".
Para o vereador, Carlos fez apologia à tortura ao postar a foto de um homem simulando asfixia com um saco plástico – conhecido método de tortura – e com os dizeres #EleNão inscritos em seu peito. A hashtag remetia a campanha lançada por internautas que repudiavam a então candidatura de Jair Bolsonaro à Presidência.
"A gente não quer eles mais na política. Vamos cassar o mandato do Bolsonaro pelo Conselho de Ética porque a gente não vai admitir parlamentares fazendo apologia à tortura, como o pai dele fez lá em Brasília", disse Miranda em vídeo gravado em setembro do ano passado.
A legenda da foto replicada por Carlos Bolsonaro em sua conta pessoal no Instagram é a mesma feita pela página Direita Porto Velho (@direitapvh): "Sobre pais que choram no chuveiro". Segundo Miranda, essa frase é uma "alusão clássica aos pais de LGBTs".
Miranda já foi detido em Londres
Em 2013, David Miranda, parceiro do jornalista britânico Glenn Greenwald, autor de várias reportagens sobre programas de espionagem de telefone e email dos EUA vazados pelo ex-analista da CIA Edward Snowden, ficou quase nove horas detido no aeroporto londrino de Heathrow, com base em uma polêmica lei antiterrorismo. Na época, o governo brasileiro disse que a detenção era "injustificável".
Na Justiça, o brasileiro havia afirmado que sua detenção sob leis antiterroristas era ilegal e violava direitos humanos. Mas juízes afirmaram que a medida foi "proporcional nas circunstâncias" e no interesse da segurança nacional. "Seu objetivo não era apena legítimo, mas muito necessário", afirmou um dos juízes em sua declaração.
Na ocasião de sua detenção, Miranda estava em trânsito entre a Alemanha e o Brasil quando parou no aeroporto, foi detido, questionado e inspecionado pela polícia. Ele carregava arquivos de computador de Greenwald e teve objetos, incluindo seu laptop, celular, cartões de memória e DVDs, confiscados.
Saída de Jean Wyllys
Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo divulgada na tarde desta quinta-feira (24), Wellys revelou que vai desistir da carreira pública e deixar o Brasil. De acordo com o parlamentar, que foi eleito pela terceria vez consecutiva, a decisão foi tomada por conta de ameaças que ele vem sofrendo.
Nas redes sociais, Jean Wyllys compartilhou a entrevista e soltou um breve comunicado. "Preservar a vida ameaçada é também uma estratégia da luta por dias melhores. Fizemos muito pelo bem comum. E faremos muito mais quando chegar o novo tempo, não importa que façamos por outros meios! Obrigado a todas e todos vocês, de todo coração. Axé!", escreveu.