Muita gente não se lembra, mas Luiz Inácio Lula da Silva já foi deputado federal. Nas eleições de 1986, o líder do recém-criado Partido dos Trabalhadores (PT) foi o candidato mais votado do País, recebendo mais de 651 mil votos por São Paulo e, se tornando assim, um dos parlamentares constituintes que auxiliariam na formulação da Constituição Federal de 1988. O gabinete 825, utilizado pelo petista, existe até hoje na Câmara e, a partir de fevereiro deste ano, será ocupado por Joice Hasselmann, jornalista eleita pelo PSL com um discurso de forte oposição ao ex-presidente.
Leia também: Kim Kataguiri pede ao STF que votação para a presidência da Câmara seja aberta
Joice Hasselmann descobriu que ocuparia o mesmo gabinete utilizado por Lula no dia 21 de dezembro, quando aconteceu o sorteio dos locais entre todos os parlamentares eleitos para a 56ª legislatura. As salas são sorteada a cada dois anoss, a não ser que o parlamentar ocupante não queira deixar o local e, ao mesmo tempo, nenhum outro se oponha à ideia.
Ao saber da informação, a deputada comemorou nas redes sociais, fazendo uma provocação aos petistas : “Rindo até 2022! A volta do cipó de aroeira no corpo de quem mandou dar! Chora esquerdalha”, escreveu em seu Twitter.
A jornalista, que ganhou fama com atuação em um blog e nas redes sociais, não é a única “celebridade” a ocupar o local de trabalho que foi do ex-presidente. O ex-jogador Romário , atualmente senador pelo Rio de Janeiro, também trabalhou na sala de 2011 a agosto de 2013, na 54ª legislatura.
Conheça os deputados que ocuparam o gabinete 825 da Câmara após Lula
Em seu primeiro e único cargo no legislativo, Lula ocupou a sala de número 825 durante os quase cinco anos em que permaneceu na Câmara dos Deputados. Em 1989, ele se licenciou para concorrer à Presidência da República. Derrotado, voltou a atuar como deputado federal.
No período em que foi parlamentar, Lula apresentou seis projetos, quatro deles relacionados a correções salariais, FGTS e benefícios na Previdência, nenhum, porém, foi aprovado.
O petista também atuou na comissão constituinte, responsável por formular e avaliar uma nova Constituição federal. O texto final foi aprovado em 1988 e está vigente até hoje. Ela foi elaborada em 20 meses, com a avaliação de 559 parlamentares (72 senadores e 987 deputados federais).
A passagem pelo Legislativo serviu para tornar Lula mais conhecido nacionalmente. Após outras duas derrotas eleitorais (1994 e 1998), ele se tornou presidente por dois mandatos (2003 a 2010). Condenado após investigações da Operação Lava Jato por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, o petista está preso na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba.
Aloizio Mercadante (PT) – 1991-1995 e 1999-2003
Aloizio Mercadante, do Partido dos Trabalhadores, foi o primeiro deputado a substituir Lula na sala de número 825. Sua carreira política inclui dois mandatos como deputado federal por São Paulo: de 1991 a 1995 e de 1999 a 2003. Em ambos ele trabalhou no mesmo escritório. Depois, se elegeu senador pelo mesmo estado.
Apesar de ser um aliado político de Lula, ocupou cargos de ministros apenas no governo Dilma Rousseff, comandando as pastas de Ciência, Tecnologia e Inovação (2011-2012), Educação (2012-2014 e 2016) e Casa Civil (2014-2015).
Maria da Conceição Tavares (PT) – 1995-1999
Nascida em Portugal, a economista Conceição Tavares se naturalizou brasileira e foi a primeira mulher a ocupar o escritório de número 825 da Câmara. Também filiada ao Partido dos Trabalhadores, foi eleita nas eleições de 1994 pelo Rio de Janeiro e teve apenas um mandato.
Apesar de vir da área acadêmica assim como Fernando Henrique Cardoso, atuou na oposição ao então presidente. Depois de sua atuação como deputada, virou uma espécie de assessora de Lula, sobretudo em assuntos econômicos e sociais.
Leia também: Deputados do PSL procuram Rodrigo Maia para discutir vagas na Câmara
Selma Schons (PT) – 2003-2007
Segunda deputada a ocupar o gabinete 825, Selma Schons teve apenas um mandato na Câmara Federal, sendo eleita pelo Paraná nas eleições de 2002 (mesmo ano em que Lula se elegeu presidente).
Foi vice-líder do Partidos dos Trabalhadores de maio de 2006 até o fim do mandato e atuou com propostas, sobretudo, para a assistência social. Assim como Conceição Tavares, também atua em universidades.
Nazareno Fonteles (PT) – 2007-2011
Reeleito deputado federal nas eleições de 2006, o médico e matemático Nazareno Fonteles trocou de escritório e foi atuar no de número 825 em seu segundo mandato. Polêmico, o político do Piauí se notabilizou por defender um teto de salário para os brasileiros. Na PL 137/04, ele queria um valor máximo de renda como dez vezes a renda média nacional apontada pelo IBGE, ficando o restante retido pelo governo em uma espécie de “poupança fraternal”. O projeto não foi aprovado.
Nazareno também propôs a PEC 33, que tirava a decisão final sobre questões jurídicas do Supremo Tribunal Federal, exigindo que as decisões passassem pelo crivo do Congresso Nacional. Também não teve aprovação.
Romário Farias (PSB) – 2011 – 2013
O ex-jogador de futebol foi o primeiro parlamentar a ocupar o gabinete 825 depois de Lula e que não era filiado ao Partido dos Trabalhadores. Logo em sua primeira eleição, foi eleito deputado federal no Rio de Janeiro pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB) e durante dois anos ficou no mesmo escritório, saindo em 2013, no novo sorteio da Câmara.
Na sua atuação como deputado, se notabilizou por propor projetos na área de acessibilidade e no combate à corrupção nos esportes. Em 2016, foi candidato eleito para o Senado Federal. Em um novo partido, o Podemos (Pode), tentou se eleger governador do Rio de Janeiro em 2018, mas acabou derrotado.
Nilson Leitão (PSDB) – 2013-2019
Eleito para a 54ª legislatura e reeleito quatro anos depois, o deputado federal Nilson Leitão foi o primeiro parlamentar do PSDB a ocupar o gabinete de número 825. Ainda que Romário nunca tenha atuado na situação, não foi um oposicionista ao PT como Leitão. Seu partido foi o principal concorrente de Lula desde as eleições de 1994.
Ao ser reeleito para a 55ª legislatura, pediu para permanecer com o mesmo escritório e foi atendido, permanecendo até o momento na sala. Ele se notabilizou por ter sido o mais votado do Mato Grosso em 2014 e votou a favor do impeachment de Dilma Rousseff.
Em 2018, Nilson Leitão tentou uma cadeira no Senado, mas não foi eleito, terminando as eleições na quarta posição.
Joice Hasselmann (PSL) – a partir de 2019
Segunda deputada com mais votos em São Paulo, Joice Hasselmann inicia o seu primeiro mandato como parlamentar em fevereiro. A jornalista, que também é biógrafa de Sérgio Moro, promete combater a corrupção e ser uma forte aliada do presidente Jair Bolsonaro na Câmara.
Ao saber que ocuparia o mesmo gabinete que foi de Lula, Joice provocou os petistas nas redes sociais. Ela é uma crítica dos governos do PT e já gravou vídeos comemorando a prisão de Lula e de outros condenados do partido na Operação Lava Jato.