O presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), espera que o Palácio do Planalto se mantenha neutro durante a disputa para o comando da Casa, que ocorrerá em fevereiro, deixando que os partidos representados na assembleia escolham livremente qual candidato vão apoiar. Maia deverá se candidatar à reeleição, apesar de não admitir isso oficialmente.
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Em entrevista à jornalista Andreia Sadi na manhã desta segunda-feira (26), Rodrigo Maia disse que a "inteferência do governo tem sempre um risco. Deixe que os partidos se organizem. Ainda é muito cedo, mas ideal é neutralidade", afirmou o deputado que já conversou sobre o assunto com diversos parlamantares, inclusive de oposição, que enxergam no representante do Democratas uma chance de evitar que a Presidência da Câmara fique com alguém mais radical, provavelmente ligado ao PSL.
Há, porém, quem defenda isso. Na verdade, mais de um candidato do mesmo partido do presidente eleito já colocaram seus nomes à disposição na eleição para presidente da Casa, incluindo Luciano Bivar, presidente do PSL e deputado reeleito.
Bolsonaro, no entanto, tem dito que eleger alguém do PSL para aquele que será o terceiro nome da linha sucessória (atrás apenas do presidente e do vice) seria "concentrar poder demais" nas mãos de um único partido e que não tem intenção de interferir na eleição para presidente da Câmara, um discurso com o qual Rodrigo Maia se alinha agora.
Como quem escolhe não assumir um lado, geralmente acaba assumindo o lado de quem já está na frente da disputa, Bolsonaro acaba abrindo espaço para que Maia se reeleja, mas o presidente tem sofrido muita pressão de integrantes de seu próprio partido e de outros membros de sua base aliada pelo grande espaço que tem dado ao Democratas, partido de Rodrigo Maia , na formação da equipe ministerial.
Até agora, além do ministro extraordinário de transição, Onyx Lorenzoni (DEM-RS), que assumirá o Ministério da Casa Civil no futuro governo, Jair Bolsonaro já escolheu a deputada Tereza Cristina (DEM-MS) para o Ministério da Agricultura e o deputado Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS) para o Ministério da Saúde, deixando nas mãos do mesmo partido três pastas de primeiro escalão do governo federal.
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Nesse ponto, os discursos de Bolsonaro e do próprio Democratas também seguem alinhados. Tanto o presidente eleito quanto o presidente do DEM, prefeito de Salvador, Antônio Carlos Magalhães Neto, e o próprio presidente da Câmara, Rodrigo Maia, afirmam que os ministros escolhidos não foram indicações do partido, mas das bancadas temáticas que pertencem : no caso, a bancada ruralista e a bancada da saúde; e que, por coincidência, eles pertencem ao mesmo partido.
A aproximação de Bolsonaro com o DEM é fortemente negada pelo futuro presidente por conta de sua promessa de campanha de acabar com a política do "toma lá, dá cá" que indica nomes ligados a partidos políticos para aumentar a base de apoio do governo no Congresso Nacional e, assim, conseguir aprovar projetos de interesse do poder executivo federal.
No entanto, até agora, os três nomes indicados do DEM atrapalham o discurso de Bolsonaro de fazer um governo livre de suspeitas de corrupção, já que os três indicados são alvos de processos que investigam crimes de caixa 2, fraudes em licitação ou mesmo de corrupção. Sobre isso, porém, Bolsonaro declarou que qualquer ministro que virar réu ou tiver contra si uma denúncia robusta será afastado do cargo , mas que o governo não está livre de escolher alguém "que não tenha alguns problemas".
"Uma vez que uma denúncia for tornando-se robusta, transformando aquela pessoa em réu, nós vamos tomar alguma providência. O Onyx [Lorenzoni (DEM)] está ciente disso, entre outros que nós temos conversado também", afirmou Bolsonaro ao ser questionado sobre a situação do futuro ministro da Casa Civil e antes de continuar "mas é muito difícil hoje em dia você pegar alguém que não tenha alguns problemas, por menores que sejam. Os menores, logicamente, nós vamos ter que absorver. Se o problema ficar vultoso, você tem que tomar uma providência", completou.
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Além disso, apesar do discurso de não querer inteferir na eleição para presidente da Câmara dos Deputados, Bolsonaro tem conhecimento da importância do cargo que tem o poder para definir quais projetos serão pautados e colocados em votação, incluindo aqueles chamados de "pautas-bomba" já que causam problemas, geralmente orçamentários, ao governo federal .
Por isso, o presidente eleito também colocou como condicionante para não interferir na escolha do futuro líder da Casa que o escolhido "não trave a pauta" do governo e, internamente, deu a missão à Rodrigo Maia de tentar aprovar projetos de interesse do governo ainda este ano, antes da posse, como o Projeto de Lei (PL) 7.180/2014 popularmente conhecido como "Escola Sem partido" que tramita nas comissões da Câmara, mas tem sido barrado pela oposição .
A missão de Maia, por sua vez, também passa por conseguir o apoio de outros partidos. Num cenário do futuro Congresso com uma alta renovação e fragmentação partidária , o desafio do atual presidente em busca da reeleição é costurar uma ampla coalizão como fez há dois anos. Por isso, o deputado tem articulado nos bastidores o apoio de aliados à sua candidatura, inclusive integrantes do PRB, como interlocutores do prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, que cogitam lançar um nome próprio do partido, que seria o do deputado João Campos (PRB-GO).
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Além deste, Rodrigo Maia também flerta com o apoio do Progressistas, partido do chamado "Centrão" que quer, em troca do apoio a Maia, votar matérias na Câmara que afrouxem punições a crimes cometidos por alvos de investigações policiais, como a Lava Jato. Segundo Andreia Sadi, no entanto, para evitar desgastes na disputa da Câmara, aliados de Maia defendem que a discussão comece no Senado, mas ainda não chegaram a um consenso.