Deputados receberam R$ 54 mi em mensalinho e fizeram "propinolândia" na Alerj

Investigação da nova etapa da Lava Jato no Rio revela que gestão Cabral liberava loteamento de cargos no Detran em troca do apoio de deputados; fonte da propina era sobrepreço em contratos assinados entre 2011 e 2014

Operação Furna da Onça resultou na apreensão de bens de integrantes da Alerj investigados por 'mensalinho'
Foto: Divulgação/Receita Federal
Operação Furna da Onça resultou na apreensão de bens de integrantes da Alerj investigados por 'mensalinho'

As investigações que resultaram na prisão de sete deputados estaduais do Rio de Janeiro , efetuadas nesta quinta-feira (8), apontam que o esquema de 'mensalinho' na Assembleia Legislativa do Estado (Alerj) movimentou cerca de R$ 54,5 milhões entre 2011 e 2014. A informação foi transmitida por integrantes da força-tarefa do Ministério Público Federal (MPF) e da Polícia Federal na Operação Lava Jato no Rio.

Foi apurado que os deputados investigados atuaram de dentro da Alerj a serviço dos interesses da organização criminosa comandada pelo ex-governador Sérgio Cabral (MDB). Em troca, os parlamentares recebiam o pagamento de propina mensal e ganhavam o 'direito' de fazer indicações para cargos estratégicos – especialmente no Detran do estado.

"A Alerj se transformou em uma verdadeira 'propinolândia', tamanha a quantidade de benefícios que eram repassados em troca do apoio para a organização criminosa. E tudo isso em detrimento da população do Rio de Janeiro", afirmou o procurador da República Carlos Aguiar, um dos responsáveis pela Operação Furna da Onça .

“Esse modelo de fisiologismo, de loteamento de cargos, vem da época do ex-governador, vigora até hoje e se replicou nessas eleições. É inegável que alguns dos que foram reeleitos para a nova legislatura se valeram desse esquema”, afirmou Aguiar.

Segundo as investigações, a propina era extraída do sobrepreço de contratos estaduais e federais. Além de Cabral, tinham função de comando na organização investigada, os ex-presidentes da Assembleia Jorge Picciani e Paulo Melo, o primeiro em prisão domiciliar e o segundo atualmente recluso em Bangu em decorrência da Operação Cadeia Velha e que foram alvo de novos pedidos de prisão.

Além de deputados, também foram alvos da ofensiva do MPF, PF e Receita Federal funcionários lotados do Palácio Guanabara e no Departamento de Trânsito (Detran) do estado, que tem o atual presidente Leonardo Silva Jacob e seu antecessor Vinicius Faraj foragidos.

A operação de hoje teve como objetivo o cumprimento de 22 mandados de prisão (19 temporárias e três preventivas, referentes aos réus da Cadeia Velha) e 47 de busca e apreensão, todos expedidos pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2) depois de decisão unânime de cinco desembargadores federais que compõem a 1ª Seção.

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Reeleito para Alerj, presidente da Mangueira foi um dos presos

Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil - 8.11.18
Coletiva de imprensa sobre a Operação Furna da Onça, na sede da Polícia Federal, no Rio de Janeiro

Entre os dez deputados investigados pelo mensalinho e que tiveram suas prisões decretadas está André Correa (DEM), reeleito para mais um mandato, ex-secretário do Meio Ambiente e que atualmente pleiteia a presidência da Assembleia Legislativa do estado.

Consta ainda da decisão, os nomes dos deputados Marcos Abrahão (Avante), Marcelo Simão (PP), Luiz Martins (PDT) e Marcos Vinícius Neskau (PTB), todos reeleitos e presos nesta quinta-feira, além de Chiquinho da Mangueira (PSC), também reeleito e que teria recebido R$ 3 milhões, parte dos quais teria sido usado para patrocinar o desfile da escola de samba Mangueira, em 2014, da qual é presidente. Outro preso foi o deputado Coronel Jairo, que não foi reeleito.

Segundo nota divulgada pelo MPF, a Justiça concordou com a argumentação de que as prisões e as buscas e apreensões se fizeram necessárias “para interromper condutas como a ocultação da origem ilícita dos valores pagos aos deputados estaduais”. Ainda segundo o texto, “outra justificativa dos mandados judiciais foi o alto poder e a capilaridade dos esquemas criminosos sob investigação, que envolvem a cúpula da Alerj com ramificações em vários órgãos estaduais”.

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“As investigações contam uma história: a de como o ex-governador neutralizou, com propina e outras vantagens ilícitas, o controle que os deputados estaduais deveriam exercer sobre o Executivo, e, com isso, a organização criminosa se espalhou por vários órgãos e entidades do estado, provocando o sucateamento dos serviços prestados à população”, afirma o texto.

As investigações, que incluem relatos de colaboradores corroborados por provas independentes colhidas pelo MPF e pela PF, apontaram que o 'mensalinho' e os “prêmios” eram pagos a deputados como contrapartida por votos em favor de projetos de lei de interesse da organização e por atuações contra o avanço de comissões parlamentares de inquérito (CPIs) na Alerj , entre outros serviços.

*Com informações e reportagem da Agência Brasil