Líder ruralista muda versão sobre fusão de ministérios após falar com Bolsonaro

Cotado para ser ministro de Bolsonaro, Nabhan Garcia entrou em reunião com Bolsonaro defendendo fusão dos ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente, mas mudou discursos após conversa de 20 minutos com candidato

Nabhan Garcia, líder da bancada ruralista, muda discurso sobre fusão de ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente após conversa de 20 minutos com Jair Bolsonaro
Foto: Reprodução/Crusoé
Nabhan Garcia, líder da bancada ruralista, muda discurso sobre fusão de ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente após conversa de 20 minutos com Jair Bolsonaro

O líder da União Democrática Ruralista (UDR), Luiz Antônio Nabhan Garcia, mudou o discurso sobre a fusão dos ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente após 20 minutos de conversas com o candidato a Presidência pelo PSL, Jair Bolsonaro, a portas fechadas na casa do próprio Bolsonaro, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro, nesta quarta-feira (24).

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Cotado inclusive para ser o ministro da possível nova pasta, Nabhan Garcia declarou à imprensa na entrada da reunião marcada que a fusão dos ministérios era algo "inevitável". "Não é só na questão da Agricultura e Meio Ambiente. Haverá fusões em outras pastas também. As autarquias estão funcionando. Ninguém vai acabar com o Ibama e nem com o Incra. Ninguém vai acabar com o ICMBio e nem o Instituto Chico Mendes", declarou o ruralista antes do encontro com Bolsonaro.

Na saída, no entanto, o tom adotado por Nabhan Garcia foi outro. Ele afirmou que fundir as pastas da Agricultura e do Meio Ambiente "sem ouvir a sociedade" seria ato de um "governo radical". "Podemos inclusive, sim, rever essa questão da fusão da pasta da Agricultura e do Meio Ambiente. Se tiver que funcionar a pasta da Agricultura aqui e o Ministério do Meio Ambiente lá, tudo bem. Vai valer a vontade da maioria da sociedade brasileira", afirmou na saída.

O possível futuro ministro de Jair Bolsonaro também disse que "ninguém pode ter mais esse governo, digamos assim, autoritário, duro, sem flexibilidade, com arrogância. Se for melhor para o Brasil que haja Ministério da Agricultura e Ministério do Meio Ambiente, depois de eleito, todos vão sentar. O presidente vai ouvir toda a sociedade e, se tiver que ser revista essa posição, será revista sem problema algum",  afirmou.

Sem perceber a contradição entre as declarações da entrada e da saída do encontro até ser confrontado pelos jornalistas, Nabhan Garcia respondeu irritado que "não é recuo, ninguém está recuando de nada", antes de completar dizendo que se tratava de uma "flexibilização" típica de um governo democrático. "Ou vocês querem que seja um governo radical?", perguntou aos presentes.

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O ruralista, no entanto, não confirmou se sua mudança de postura era sinal de uma mudança de posutra também por parte do candidato à Presidência pelo PSL, Jair Bolsonaro, nem disse se houve alguma repreensão ou orientação quanto ao tema por parte do presidenciável.

A fusão dos ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente faz parte da proposta de Bolsonaro de reduzir dos atuais 29 para 15 ministérios. A medida teria como objetivo reduzir os custos do governo federal atualmente com um déficit público preocupante.

Para além disso, no entanto, no caso específico das duas pastas citadas, Bolsonaro defende que a união ajudaria a acabar com o conflito de interesses que acontecem entre ruralistas e ambientalistas e paralisam o governo federal, sobretudo no que diz respeito à "disputa de egos" entre ministros indicados por partidos políticos diferentes, algo que o candidato do PSL também diz que vai rechaçar em seu governo.

A proposta, porém, vem sofrendo duras críticas de diversos setores da sociedade, sobretudo dos organismos de defesa do meio ambiente, e é contrária à opinião, inclusive, da própria equipe técnica da campanha de Bolsonaro que já trabalha na composição ministerial de um futuro governo e na transição do atual governo Temer para o do eventual novo presidente eleito.

Após a reunião que contou também com outras representantes do agronegócio, Bolsonaro reforçou em publicação no Twitter que "a agricultura familiar precisa ser protegida uma vez que é responsável por cerca de 70% da produção do que é consumido no País" e Nabhan Garcia reforçou que "como ele sempre prometeu, vai ser a base produtora que vai indicar essa composição do Ministério da Agricultura".

Na reunião entre Bolsonaro e os ruralistas, também foi confirmado que o candidato do PSL se comprometeu a defender a segurança jurídica para o setor produtivo e o direito à propriedade. Sobre isso, além de defender o porte de armas, Bolsonaro afirmou que pretende tipificar como terrorismo invasões de terra e que promete conceder excludente de ilicitude também para que cidadãos comuns possam atirar e eventualmente matar aqueles que "colocarem em risco a segurança de si próprio, de pessoas próximas ou da sua propriedade."

"Algumas demandas importantes, como segurança jurídica, a questão do direito de propriedade, temos que ter políticas agrícolas voltadas para quem realmente trabalha, temos que ter um BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] que realmente seja para todos e não só para alguns amigos do rei. Essas são as questões com as quais o Bolsonaro sempre se comprometeu com o setor produtivo", declarou o líder da UDR.

 Também no Twitter, o candidato do PSL falou ainda sobre a questão da infraestrutura logística do País. Ele disse que é preciso "desburocratizar, simplificar e pensar de forma estratégica" o setor para que ele deixe ser um "gargalo" para se "transformar em solução".

Bolsonaro citou o Fórum Econômico Mundial do ano passado e a posição do Brasil em relação a outros 136 países segundo Global Competitiveness Report de 2017.

"Segundo o Global Competitiveness Report de 2017 do World Economic Forum, a posição do Brasil em relação a de outros 136 países na eficiência de sua infraestrutura é: Ferrovias 88º; Aeroportos 95º; Rodovias 103º; Portos 106º e sua qualidade de oferta de energia é 84º", afirmou.

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Jair Bolsonaro, no entanto, não concedeu entrevistas à imprensa nesta quarta-feira (24) e não pode ser perguntado sobre uma eventual mudança de posturas em relação à fusão dos ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente. O candidato tem se mantido reservado durante todo o segundo turno e chegou, inclusive, a negar a participação em todos os debates marcados para o período, fato que será inédito nas eleições presidenciais desde a redemocratização e das primeiras eleições presidenciais em 1989.