O segundo debate eleitoral entre João Doria (PSDB) e Márcio França (PSB), candidatos ao governo de São Paulo, realizado na tarde desta sexta-feira (19) pela TV Record, manteve a tônica do bate-boca do embate anterior, na TV Bandeirantes. Abundaram acusações e falas exaltadas de ambas as partes, a plateia reagia às respostas como torcidas organizadas de futebol e a disputa refletiu o clima anti-PT que norteia a corrida presidencial. Em consequência, o debate entre França e Doria apresentou poucas propostas para os problemas práticos do estado.
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Já na primeira parte do debate entre França e Doria , o ex-prefeito tucano pôs em prática sua estratégia de ligar-se à imagem do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), atual líder nas pesquisas eleitorais. Em sua fala de abertura, disse ser a favor de "bandido na cadeia", contra o aborto, e opositor do candidato a Presidência Fernando Haddad (PT).
Márcio França, também seguindo sua tática de tentar embaraçar João Doria ao vivo, relembrou logo no início do programa um vídeo em que o ex-prefeito afirma que as pessoas pobres não têm de escolher o que comem. O candidato do PSB levantou, então, o projeto proposto pelo tucano, a "farinata", composto feito à base de alimentos reutilizados.
Em sua réplica, Doria "lamentou" que o adversário tenha sido "mal-orientado" por seus assessores.
Em seguida, o tema da segurança, um dos mais sensíveis ao eleitorado paulista, veio à tona. Retomando o famoso slogan malufista, o ex-prefeito da capital prometeu colocar a "Rota na rua" para combater a criminalidade, ao que o governador acusou-o, em referência às campanhas de TV em que Doria o criticar por seguir carreira no serviço público, de ter "problemas com funcionários públicos". O candidato afirma que seu problema não é com os funcionários em geral, mas com "carreiristas" como, em sua avaliação, o seria Márcio França.
Na sequência, o tom belicoso se intensificou. França acusou Doria de alugar uma casa em Trancoso, sem declarar os valores que recebe. O ex-prefeito defendeu-se afirmando que as acusações são " mimimi " do candidato, que estaria insatisfeito por não ter tido sucesso no setor privado.
França, então, insinuou que, embora diga gostar do setor privado, Doria sempre aplica dinheiro público em seus empreendimentos. Embasando a acusação, ele lembra a revista "Caviar Lifestyle", dirigida pelo ex-prefeito, e que teria recebido R$ 500 mil do governo, além do empréstimo feito por Doria ao BNDES para comprar um avião particular.
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O líder tucano rebateu afirmando que o dinheiro do BNDES "não é do PT" e que empréstimos como o realizado por ele são usuais. Nesse ponto, a plateia reagia aos gritos, obrigando os seguranças da TV Record a intervir, que ameaçaram esvaziar as claques caso os gritos persistissem.
Mas os candidatos seguiram alimentando os ânimos de seus apoiadores. Em uma pergunta de França sobre a despoluição do rio Tietê, à qual Doria retorquiu propondo parcerias com o setor privado para revitaliar o rio em oito anos, o atual governador buscou se apresentar como alternativa à polarização esquerda/direita. E emendou que seu adversário é "arrogante" e "riquinho".
“Cadê o Geraldo Alckmin? Ninguém do PSDB quer fazer campanhar para você. Os prefeitos estão fugindo de você, seus amigos estão fugindo de você. Até o Bolsonaro”, atacou França.
O tucano respondeu no mesmo nível: "“Márcio França é o rei do mimimi. Você tem que ter compostura”, ironizou.
A partir daí, quando o debate já se encaminhava para o final, os candidatos deixaram de lado as propostas e foram ao ataque de vez. Doria acusou França de "esquerdista", "amigo de Lula" e "comunista".
França respondeu remetendo ao bordão do adversário: “Todo mundo percebe que você não é preparado. Você só é preparado para pequenos comerciais. Você acelera, mas não engata”.
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No final do debate entre França e Doria , antes das declarações finais - quando os dois agradeceram a Deus e afirmaram suas disposições ao "diálogo de ideias" - a agressividade se intensificou tanto que Lúcia França, primeira-dama de São Paulo, resolveu ir embora dos estúdios da Record. Sempre em meio aos gritos e aplausos da plateia, os candidatos se despediram dos eleitores, pedindo votos no dia 28 de outubro.