Os institutos Ibope e Datafolha acabaram mostrando a fragilidade de suas pesquisas de intenção de voto realizadas no Brasil. A apuração das eleições gerais deste domingo (8) só fez aumentar a desconfiança sobre esses levantamentos.

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Pesquisas Ibope e Datafolha tiveram resultados diferentes daqueles apontados nas urnas
José Cruz-Agência Brasil
Pesquisas Ibope e Datafolha tiveram resultados diferentes daqueles apontados nas urnas

Os principais discordâncias do Ibope e Datafolha apareceram no Rio de Janeiro, Distrito Federal, em Minas Gerais e São Paulo. Além do apontamento para presidente. Confira:

No Rio de Janeiro, a fragilidade das pesquisas ficou gritante. O líder para o governo fluminense no primeiro turno, Wilson Witzel (PSC), com 41,3% dos votos, tinha segundo o Ibope 12% dos votos válidos e com 11% no DataFolha. Enquanto isso, Eduardo Paes (DEM) que era o líder das pesquisas com 32%, acabou com apenas 19,56%.

Na pesquisa divulgada no último sábado (6), o Ibope trazia 42% das intenções de votos válidos para o governo de Minas Gerais em Anastasia (PSDB), contra 25% de Fernando Pimentel (PT) e 23% de Romeu Zema (Novo). De acordo com o Datafolha: Anastasia teria 40% dos votos válidos, contra 29% de Pimentel e 24% de Zema.

Porém, no final da apuração eleitoral desse domingo, Zema foi para o segundo turno com o candidato mais votado com 42,7% e terá Anastasia como adversário, o tucano conquistou 29% do eleitorado.

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Em São Paulo, a surpresa ficou por conta de Márcio França (PSB) no segundo turno.  As pesquisas de intenção de voto sempre trouxeram Paulo Skaf (MDB) entre os dois primeiros colocados, mas o candidato acabou fora da disputa. França tinha 18% dos votos, mas obteve 21,5%. Doria (PSDB) obteve os 31,8% apontados pelos institutos, enquanto Skaf conseguiu apenas 21% dos 30% que poderia ter de acordo com as pesquisas.

Já no Distrito Federal, a surpresa foi Eliana Pedrosa (PROS) que tinha 14% dos votos das intenções e terminou o pleito com 6,99%. Com isso, ela deixa a disputa para Rodrigo Rollemberg (PSB), que obteve 13,9% dos votos e Ibaneis Rocha (MDB) que teve 42% dos votos, como apontavam os institutos.

Ainda no sábado (6), Ibope e Datafolha trouxeram as pesquisas para presidente. No Ibope, Bolsonaro tinha 36% dos votos e Haddad aparecia com 22%. Já o Datafolha trazia o deputado federal com 40% e o petista com 25% das intenções. Mas o que se viu na apuração das urnas foi Bolsonaro com 46,03% e Haddad com 29,28% dos votos. Alckmin do PSDB que aparecia nas pesquisas com 8%, teve apenas 4,76% dos votos nesse domingo.

Por que as pesquisas Ibope e Datafolha não antecipam o resultado das urnas?

Pesquisas Ibope e Datafolha foram alvo de críticas até mesmo dos candidatos
Reprodução/Twitter
Pesquisas Ibope e Datafolha foram alvo de críticas até mesmo dos candidatos

Em entrevista ao iG no fim do mês passado , o professor Sérgio Praça disse que as eleições deste ano têm escancarado que há crise de credibilidade dos institutos tradicionais de pesquisas, um fenômeno que cresceu após a inesperada vitória de Donald Trump nos Estados Unidos e de erros em eleições recentes no Brasil.

"Houve erros razoáveis nas pesquisas para a campanha de 2014 e essas discrepâncias são um  
sinal amarelo para os institutos de pesquisa. Não necessariamente por um caráter malicioso deles, não acredito nisso de jeito nenhum. Mas os erros na pesquisa eleitoral minam a credibilidade dos institutos", afirmou o professor, que atua no Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getulio Vargas (CPDOC-FGV).

Nas eleições de 2014, levantamentos realizados por institutos como o Datafolha e o Ibope indicavam a iminência de disputa no segundo turno entre Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (Rede). O candidato que efetivamente avançou ao segundo turno contra a petista, Aécio Neves (PSDB), tinha entre 14% e 17% das intenções de voto nas pesquisas, mas acabou recebendo 33,6% dos votos válidos no primeiro turno. 

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Outra discrepância grande entre o verificado nas pesquisas e o que efetivamente aconteceu nas urnas veio dois anos mais tarde, nas eleições municipais de 2016. Em São Paulo, o candidato a prefeito João Doria (PSDB) tinha 38% das intenções de voto em pesquisa Datafolha divulgada no dia anterior à votação. O tucano, no entanto, foi eleito ainda no primeiro turno, com 53% dos votos válidos.

O Ibope, em nota, explica que o objetivo de uma pesquisa eleitoral "não é antecipar os resultados da eleição, mas sim o de mostrar o cenário no momento em que foi realizada. A pesquisa é uma fotografia do momento e não tem o poder e nem a intenção de prever o resultado de uma eleição. Por isso, seus resultados não podem ser usados para prever o resultado das urnas".

Amostra do quanto as pesquisas eleitorais Ibope e Datafolha não desfrutam de grande prestígio nessas eleições, até mesmo adversários de Bolsonaro, como Fernando Haddad (PT) e Ciro Gomes (PDT) , também já relativizaram, ao longo de suas campanhas, a eficácia dos levantamentos em antecipar o resultado das urnas. "Pesquisa é o retrato de um momento. E a vida não é um retrato, a vida é um filme. Elas estão revelando basicamente uma coisa: o eleitorado brasileiro está em revolução. Nós temos uma sucessão presidencial absolutamente exótica. [...] Ninguém está apaixonado, está todo mundo procurando", disse Ciro em entrevista concedida neste mês.

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