O candidato à Presidência pelo PSL, Jair Bolsonaro, deu a primeira entrevista após o atentado que sofreu durante um comício em Juiz de Fora (MG) no último dia 6. Internado no hospital Albert Einstein, em São Paulo, o deputado federal recebeu o jornalista Augusto Nunes, da Rádio Jovem Pan , nesta segunda-feira (24).
Na entrevista, Jair Bolsonaro chorou, disse ter convicção de que o agressor Adélio Bispo de Oliveira não agiu sozinho e sugeriu que o delegado da Polícia Federal que cuida do caso pode estar agindo para abafar o caso.
"Não acredito que ele agiu sozinho, ele não é tão inteligente assim. Ele foi para cumprir a missão", disse o candidato ao classificar o ataque como um “atentado político”.
"No meu entender foi planejado, político, não tenho a menor dúvida. Me tirando de combate, você pega os três, quatro próximos da relação [de candidatos] e são muito parecidos", afirmou fazendo referência a Fernando Haddad (PT), Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB) e Marina Silva (Rede), que aparecem logo atrás de Bolsonaro nas pesquisas.
"Ele deu uma facada e rodou. Para matar mesmo. O cara sabia o que estava fazendo. Por milímetros não atingiu veias que eu não teria como resistir", contou.
Capitão reformado do Exército, o líder nas pesquisas contestou a linha de investigação adotada pela Polícia Federal sobre o caso. "A tendência natural de um ato como aquele é ser linchado, então ele foi para a missão com a certeza que não seria linchado, que teria gente ao lado dele", avaliou.
“Pelo que ouvi dizer, não tenho certeza ainda, a Polícia Civil de Juiz de Fora está bem mais avançada que a Polícia Federal. O depoimento do delegado que está conduzindo, realmente é para abafar. Eu lamento o que ouvi ele falando. Dá a entender até que age em parte como uma defesa do criminoso. Isso não pode acontecer. Não quero que inventem um responsável. Longe disso. Tal partido… não. Mas dá para apurar o caso”, alegou Bolsonaro.
“Tem uma passagem dele na Câmara. Ou melhor, uma passagem falsa dele na Câmara, no dia 6 de setembro. E quando vai à Câmara, você se identifica, é fotografado. Então quem foi que…? Poderia ter um álibi aí. A polícia legislativa trabalha com muita lisura. A imprensa também tem que apurar. Você sabe que parte dela tenta acalmar o negócio. O que está em jogo é o poder. Eu chegando lá, nós quebraríamos o sistema. Não é na ignorância, não, é na lei”, explicou.
O delegado federal Rodrigo Morais, ao qual Bolsonaro se refere, afirmou que ele e sua equipe, após mais de 30 audiências e quebrar os sigilos financeiro, telefônico e telemático de Adélio, não encontraram nenhum indício de que o autor da facada tenha agido a mando de outra pessoa ou grupo.
Na entrevista, Bolsonaro ainda compartilhou detalhes de como se sentiu no momento do ataque, quando acreditou que havia levado um soco no estômago. Só percebeu que o ferimento poderia ser mais grave com o passar do tempo.
“Quando levei a pancada, pensei que era um soco, uma pedrada meio de longe. Eu só vi um vulto, não teria condições de ver a cara dele. Quando caí, falava para o segurança que tinha sido uma porrada no estômago. Por que eu olhei e tinha um cortezinho, mas não sangrava. Igual uma bolada que a gente leva no futebol. A dor não passava. E os seguranças foram excepcionais, né? Meus colegas da Polícia Militar, da Polícia Federal. Tinha mais gente também de outros órgãos. Me levaram rapidamente ao hospital. Na Santa Casa fiquei sabendo que aconteceram vários milagres”, disse.
O candidato do PSL disse que já havia alertado sua família e a equipe de segurança que conforme sua popularidade nas pesquisas de intenção de voto crescesse, mais risco ele correria nas ruas.
“Sempre existe esse temor. Digo mais, não por mim. Em primeiro lugar pela minha filha de 7 anos de idade. Ela inclusive me inspira na política. E logicamente pela minha família como um todo. Sempre avisei minha esposa que poderia ocorrer esse risco. Existia essa possibilidade. Eu estava abusando. Se você visse as tomadas de aeroporto… Muita coisa poderia acontecer. Eu falava para os seguranças do meu lado que essa possibilidade ia aumentar a partir do momento em que minha popularidade ia crescendo”, concluiu.
Jair Bolsonaro defendeu pena mais dura
Ao falar sobre a punição a Adelio Bispo de Oliveira , Bolsonaro disse que "tem que ser o que está na lei". No entanto, disse que "quando for presidente" tornará equivalentes as penas para tentativa de homicídio e homicídio.
"Estou vivo por milagre. Quem comete um crime precisa ser punido conforme a lei e sem dar ouvidos para entidades de direitos humanos. Eles falam que preso vive em más condições, mas em más condições estaria a minha família se eu tivesse morrido."
"Ele quase me matou. Porque a pena tem que ser diferente do homicídio em si? Vamos mudar isso quando for presidente", completou.
Jair Bolsonaro nas ruas?
Durante a entrevista, Bolsonaro admitiu que não deve participar de atos de campanha antes do fim do primeiro turno. "'Receberei alta no dia 31 (sic), antes das eleições. Mas, a recomendação é que eu fique em casa. Na situação em que estou, se eu levar um esbarrão posso botar tudo a perder. Então não posso ir às ruas novamente", comentou.
"Não posso ir para a rua, peço a compreensão dos amigos. Planejo fazer live todos os dias a partir do dia primeiro. Na última que fiz tinha 275 mil presentes. Eles acreditam na nossa proposta 'a verdade acima de tudo'".
O candidato também rebateu acusações como as de Marina Silva (Rede), para quem ele foi vítima da violência que prega. "É exatamente o contrário. Sou vítima daquilo que combato", disse o deputado, que também pregou leis mais duras contra este tipo de crime. "Prefiro a cadeia cheia de vagabundo a cemitério cheio de inocente."
Ao final da entrevista, Jair Bolsonaro aproveitou para criticar o PT, reforçar que não aceitará indicações de cargos em seu eventual governo e pedir união do País.