O comandante máximo do Exército, General Villas Bôas
, manifestou preocupação com a estabilidade do País para o próximo governo, que pode até mesmo vir a ter sua legitimidade contestada.
Em entrevista publicada neste domingo (9) pelo jornal O Estado de São Paulo, o General Villas Bôas mencionou a possibilidade de contestações à legitimidade do próximo governo em repetidas situações. Um dos cenários que poderiam permitir esse tipo de questionamento, segundo o general, é a hipótese de "termos alguém sob judice, afrontando tanto a Constituição quanto a Lei da Ficha Limpa". A afirmação foi dada após o militar ser questionado sobre a posição das Forças Armadas em caso de eleição do ex-presidente Lula (PT).
"Nós somos instituição de Estado que serve ao povo. Não se trata de prestar continência para A ou B. Mas, sim, de cumprir as prerrogativas estabelecidas a quem é eleito presidente. Não há hipótese de o Exército provocar uma quebra de ordem institucional. Não se trata de fulanizar", ponderou o general. "O pior cenário é termos alguém sob judice, afrontando tanto a Constituição quanto a Lei da Ficha Limpa, tirando a legitimidade, dificultando a estabilidade e a governabilidade do futuro governo e dividindo ainda mais a sociedade brasileira. A Lei da Ficha Limpa se aplica a todos", completou.
O militar disse ainda ver a liminar do Comitê de Direitos Humanos da ONU a favor de Lula como uma "tentativa de invasão da soberania nacional". "Depende de nós permitir que ela se confirme ou não. Isso é algo que nos preocupa, porque pode comprometer nossa estabilidade, as condições de governabilidade e de legitimidade do próximo governo", afirmou.
Sobre o ataque a faca sofrido pelo candidato Jair Bolsonaro (PSL), o comandante do Exército disse que trata-se da "materialização das preocupações" que as Forças Armadas já anteviam em razão da "exacerbação da violência". O general negou que Bolsonaro seja o candidato das Forças e que sua eventual eleição não significaria a construção de um governo militar. Mais uma vez, Villas Bôas se disse preocupado com a legitimidade do próximo governo.
"O atentado confirma que estamos construindo dificuldade para que o novo governo tenha uma estabilidade, para a sua governabilidade, e podendo até mesmo ter sua legitimidade questionada. Por exemplo, com relação a Bolsonaro, ele não sendo eleito, ele pode dizer que prejudicaram a campanha dele. E, ele sendo eleito, provavelmente será dito que ele foi beneficiado pelo atentado, porque gerou comoção. Daí, altera o ritmo normal das coisas e isso é preocupante", comentou.
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PT reage a entrevista do General Villas Bôas
O Partido dos Trabalhadores divulgou nota de repúdio às declarações do comandante do Exército , classificadas como "de cunho autoritário e inconstitucional". "É uma manifestação de caráter político, de quem pretende tutelar as instituições republicanas", disse o partido.
"É muito grave que um comandante com alta responsabilidade se arrogue a interferir diretamente no processo eleitoral, algo que as Forças Armadas não faziam desde os sombrios tempos da ditadura", diz o texto.
"Depois de dizer quem pode ou não pode ser candidato, de interpretar arbitrariamente a lei e a Constituição o que mais vão querer? Decidir se o eleito toma posse? Indicar o futuro presidente à revelia do povo? Mudar as leis para que o eleitor não possa decidir livremente? O Brasil já passou por isso e não quer voltar a este passado sombrio", continua a nota, assinada pela Comissão Executiva Nacional do PT.
Esta não foi a primeira vez que o General Villas Bôas provocou revolta de apoiadores do ex-presidente Lula. Em abril, o militar foi protagonista de polêmica ao manifestar seu "repúdio à impunidade" às vésperas do julgamento de habeas corpus de Lula no Supremo Tribunal Federal (STF). As declarações do militar por meio de sua conta no Twitter foram interpretadas como um gesto de intimidação aos ministros do STF.