Comandante do Exército diz compartilhar de sentimento de "repúdio à impunidade"
Em sua conta no Twitter, o general Villas Bôas defende "respeito à Constituição, à paz social e à Democracia"; ministro interino da Defesa diz que declarações não significam força; políticos se pronunciam sobre assunto
Por iG São Paulo |
O comandante do Exército Brasileiro, general Eduardo Villas Bôas, fez um comentário em em sua conta no Twitter em que manifestava “repúdio à impunidade”. Apesar de não citar o julgamento do habeas corpus do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Supremo Tribunal Federal (STF), o comentário foi feito na terça-feira (3), às vésperas da decisão, que deverá ser tomada na tarde desta quarta-feira (4) .
Villas Bôas escreveu que o Exército também defende o “respeito à Constituição, à paz social e à Democracia”, e que a instituição “se mantém atenta às suas missões institucionais”.
Além disso, o general afirmou que, “nessa situação que vive o Brasil”, é necessário se perguntar quem “está pensando no bem do país” e quem “está preocupado apenas com interesses pessoais”.
Asseguro à Nação que o Exército Brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à Democracia, bem como se mantém atento às suas missões institucionais.
— General Villas Boas (@Gen_VillasBoas) 3 de abril de 2018
As declarações causaram bastante repercussão entre políticos e membros do governo. Villas Bôas escreve como se essa fosse a opinião que o Exército compartilha e não somente a do general.
Porém, de acordo com o ministro interino da Defesa, o general Joaquim Silva e Luna, as publicações do comandante do Exército foram no sentido contrário ao uso da força e que a população “pode ficar tranquila” em relação ao teor do que foi dito. As informações são do jornal O Globo .
"O general Villas Boas tem mostrado coerência, é uma marca de sua gestão. Ele tem preocupação com preceitos constitucionais. E valoriza nossas bases, que são os anseios do povo, o legado em termos de valores para as gerações futuras. A mensagem é que a população pode ficar tranquila, pois as instituições estão aqui. Não é uma mensagem de uso da força. É o contrário", afirmou o ministro.
Ainda questionado pelo jornal sobre se há reprovação sobre o comportamento de Villas Bôas dentro do governo de Michel Temer, Luna disse que não.
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Repercussão
A presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann comentou sobre as mensagens publicadas pelo general em sua própria conta da mesma rede social. “Assim como afirma o general Villas Boas, nós do PT defendemos o combate à impunidade e o respeito à Constituição, inclusive no que diz respeito ao papel das Forças Armadas. E o respeito à Constituição implica na garantia da presunção de inocência", escreveu ela.
Assim como afirma o general Villas Boas, nós do PT defendemos o combate à impunidade e o respeito à Constituição, inclusive no que diz respeito ao papel das Forças Armadas. E o respeito à Constituição implica na garantia da presunção de inocência
— Gleisi Hoffmann (@gleisi) 4 de abril de 2018
O ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot também deu seu parecer. “Isso definitivamente não é bom. Se for o que parece, outro 1964 será inaceitável. Mas não acredito nisso realmente”, afirmou Janot.
Isso definitivamente não é bom. Se for o que parece, outro 1964 será inaceitável. Mas não acredito nisso realmente. https://t.co/IPqcgOLwAb
— Rodrigo Janot (@Rodrigo_Janot) 4 de abril de 2018
O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), também escreveu que não cabe ao comandante do Exército interpretar a Constituição e nem dizer o que é impunidade.
"No Estado de Direito, cada um tem o seu papel institucional: ao comandante do Exército não cabe interpretar a Constituição nem dizer o que é impunidade. Para isso existem os 3 Poderes, especialmente o Supremo Tribunal Federal", publicou em seu Twitter.
No Estado de Direito, cada um tem o seu papel institucional: ao comandante do Exército não cabe interpretar a Constituição nem dizer o que é impunidade. Para isso existem os 3 Poderes, especialmente o Supremo Tribunal Federal.
— Flávio Dino (@FlavioDino) 4 de abril de 2018
Já o juiz Marcelo Bretas, responsável pelo julgamento dos casos da Operação Lava Jato no Rio de Janeiro, se mostrou solidário ao "repúdio à impunidade" e ao "respeito à Constituição" mencionados por Villas Bôas, mas que não se proncia sobre insinuações.
"Reafirmo meu respeito pelo Exército Brasileiro e pelas demais FFAA, além de que compartilho dos valores enunciados na mensagem referida (repúdio à impunidade, respeito à Constituição, à paz social e à Democracia). Contudo, não me pronuncio sobre as insinuações que dela derivaram", afirmou o juiz no Twitter.
Reafirmo meu respeito pelo Exército Brasileiro e pelas demais FFAA, além de que compartilho dos valores enunciados na mensagem referida (repúdio à impunidade, respeito à Constituição, à paz social e à Democracia). Contudo, não me pronuncio sobre as insinuações que dela derivaram.
— Marcelo Bretas (@mcbretas) 4 de abril de 2018