Os principais candidatos à Presidência da República deram início à corrida eleitoral seguindo à risca um dos mandamentos primários do marketing político: o de se fortalecerem em suas bases eleitorais.
Atual líder nas pesquisas entre os candidatos à sucessão de Michel Temer (MDB) no Planalto, o ex-capitão do Exército Jair Bolsonaro (PSL) deu as caras em eventos com militares em São Paulo e no Rio de Janeiro nos últimos dias. Já Fernando Haddad (PT), que nessa campanha encarna a condição de porta-voz do candidato Luiz Inácio Lula da Silva, iniciou a campanha petista com viagem à região Nordeste, onde o Partido dos Trabalhadores historicamente recebe grande apoio.
A estratégia de recorrer às suas 'zonas de conforto' também foi adotada por outros postulantes à Presidência: Ciro Gomes (PDT) participou de evento no Ceará, estado do qual foi governador; Geraldo Alckmin (PSDB) fez o mesmo
em São Paulo; Marina Silva (Rede) foi a comício na região Norte do País e Guilherme Boulos (PSOL) reuniu a militância do MTST em São Paulo.
"É mandatório para o candidato se fortalecer em suas bases e trazer o máximo de suporte nesse momento", explica o sociólogo e cientista político Antônio Lavareda. "Essa ideia de começar a campanha pelas suas bases traz reportagens mais positivas. Depois você se aventura nas áreas onde não é tão conhecido", corrobora David Fleischer, professor emérito da Universidade de Brasília (UnB).
Rejeição obriga candidatos a adotarem cautela
Apesar de essa estratégia não ser novidade, na campanha de 2018 ela deve ficar ainda mais evidente devido ao temor que os presidenciáveis têm de receberem vaias e manifestações negativas, conforme avalia Lavareda. Isso se deve aos altos níveis de rejeição que todos os candidatos ostentam junto a diferentes nichos do eleitorado.
"Vejo que os coordenadores de campanha já estão tomando cautela para que seus os presidenciáveis frequentem ambientes mais controlados. Todos têm taxas de rejeição elevada, na casa de 50%, portanto é imperioso fazer programações que evitem manifestações de repúdio", comenta.
É por essa linha de raciocínio que Fernando Haddad iniciou a campanha petista pelo Piauí , e não por São Paulo, onde ele foi prefeito da capital. "O Haddad não está com uma base tão grande em São Paulo desde que foi derrotado pelo Doria ainda no primeiro turno [na eleição municipal de 2016]. Por isso ele vai para áreas onde o PT é mais forte", avalia o professor Fleischer.
Mudanças no financiamento de campanhas afeta candidatos
Além de elaborar roteiros anti-vaias, os coordenadores de campanha também devem diminuir neste ano as peregrinações dos políticos devido ao orçamento mais modesto imposto pelo novo modelo de financiamento eleitoral , que veta as doações de empresas pela primeira vez em uma eleição de nível nacional.
"A restrição no financiamento das campanhas fará com que haja menos coreografias. E isso signifca menos viagens, maior uso de voos de carreira e menos grandes eventos durante a disputa", projeta Lavareda.
O corpo a corpo dos candidatos com seus eleitores, no entanto, ainda será muito explorado para que eles se tornem mais conhecidos daquela parcela do eleitorado que não os acompanha pelas redes sociais, conforme avalia o cientista político e professor emérito da UnB.
"Os comícios ainda são importantes, porque os candidatos almejam exposição nas TVs locais. Essa audiência é muito importante porque a maior parte do eleitorado não lê jornal e nem revistas, mas se informa pela televisão. Portanto os presidenciáveis precisam tentar alcançar esse eleitor."
Os candidatos à Presidência da República estão liberados a percorrerem o País com carreatas e carros de som desde a última quinta-feira (16). Já a propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão começa no dia 31 deste mês e seguirá até o dia 4 de outubro – três dias antes do primeiro turno.