Uma das alegações dos que pedem a volta dos militares ao poder é que eles moralizaram a política em 1964. Hipótese, contudo, é falsa, como comprovam documentos dos EUA
David Shalom/iG São Paulo
Uma das alegações dos que pedem a volta dos militares ao poder é que eles moralizaram a política em 1964. Hipótese, contudo, é falsa, como comprovam documentos dos EUA

Uma das principais alegações daqueles que pedem a intervenção dos militares na política é que, na última vez em que as Forças Armadas tomaram o poder, Brasília viveu um período de excelência ética e moral. Esta ideia, contudo, não encontra par na realidade, como comprovam, entre outros, telegramas diplomáticos dos Estados Unidos a que o governo brasileiro teve acesso recentemente.

Leia também: Serra teria recebido R$ 23,3 milhões da Odebrecht após acordo fraudado da Dersa

O mais recente deles, que veio à tona nos últimos dias, foi expedido em 1984 pela Embaixada dos EUA no Brasil ao Departamento de Estado norte-americano. Presidia o país na época o ditador João Figueiredo, período no qual, como atesta o telegrama, Brasília vivia acuada por denúncias de corrupção por parte de agentes do Estado.

O documento, que integra mais de 600 informes diplomáticos secretos liberados por Barack Obama entre 2014 e 2015, aponta que a desconfiança da população com os políticos era grande então. Importantes figuras do governo, como o todo-poderoso ministro do Planejamento, Delfim Netto, eram apontados como beneficiários de esquemas corruptos milionários.

Figueiredo, por sua vez, era acusado de conivência e omissão perante os fatos que iam surgindo mesmo em um ambiente jornalístico permeado pela censura estatal.

“No nível nacional existem muitos escândalos que lançam nuvens sobre o governo Figueiredo”, escrevem os americanos, que concluem: “o que está claro é que a corrupção está erodindo a confiança dos brasileiros em seu governo”.

Leia também: Documentos britânicos revelam que ditadura militar abafou apuração de corrupção

Operação abafa

Depois do memorando secreto norte-americano,  agora é a vez de documentos confidenciais do Reino Unido chamarem a atenção por conterem informações sobre a ditadura militar no Brasil. De acordo com a’ reportagem do jornal  Folha de S. Paulo  deste sábado (2), registros secretos do governo britânico relatam que o governo brasileiro atuou para abafar uma investigação de corrupção na compra de navios de escolta construídos na Inglaterra durante os anos 1970.

Os papéis mostram que os governos dos generais Emílio Garrastazu Médici (1969-1974) e Ernesto Geisel (1974-1979) abafaram o caso de fraude milionária. Isso porque, de acordo com os registros, em 1978, o governo britânico queria investigar a denúncia de superfaturamento na compra de equipamentos para a construção dos navios vendidos ao Brasil. O Reino Unido ainda ofereceu o pagamento de uma indenização de 500 mil libras (algo que, hoje, equivale a 3 milhões de libras ou R$ 15 milhões) – o que foi rejeitado pela  ditatura militar  .

Tal ação gerou estranhamento em Londres. “Os brasileiros claramente desejaram manter o assunto de forma discreta. É evidente que não gostariam que mandássemos um time de investigadores e não iriam colaborar com um, se ele fosse. O embaixador concluiu que o risco de sérias dificuldades com autoridades brasileiras, o que poderia ser levantado por uma investigação, não deve ser assumido”, diz um trecho do documento secreto revelado pela  Folha  .

Leia também: Eduardo Cunha é condenado a 24 anos de prisão por fraude

    Mais Recentes

      Comentários

      Clique aqui e deixe seu comentário!