A greve dos caminhoneiros, que desencadeou crise de desabastecimento e afetou serviços em todo o País
ao longo dos últimos dez dias, conta com o apoio de 87% da população brasileira. A percepção é de pesquisa divulgada nesta quarta-feira (30) pelo instituto Datafolha.
Segundo o levantamento, apenas 10% da população se diz contra a greve dos caminhoneiros , enquanto 2% dos entrevistados se disseram indiferentes à paralisação e 1% não soube se posicionar sobre o tema.
O apoio é ainda maior em relação à reivindicação dos grevistas contra os reajustes promovidos pela Petrobras no preço dos combustíveis (especificamente o do óleo diesel, nesse caso). O índice de brasileiros que acham o pleito justo é de 92%, e chega a 57% mesmo entre aqueles que não apoiam a paralisação.
Já quando questionadas sobre a continuidade do movimento grevista, as pessoas entrevistadas pelo Datafolha se dividiram. Aqueles que apoiam o prosseguimento da greve são 56% da população, contra 42% que defendem o seu encerramento.
A parcela de brasileiros que apoiam a greve entende que não deve ser penalizada com o aumento de impostos ou com o corte de investimentos do governo por conta do acordo feito pelo Planalto com os caminhoneiros.
Esse acordo, que prevê, entre outras medidas, a redução em R$ 0,46 no preço do litro do óleo diesel – subsidiada pelo governo – e a suspensão da cobrança de pedágio para caminhões que trafegarem nas rodovias de todo o País com eixos suspensos, é considerado mais prejudicial do que benéfico por 59% da população. Só 33% dos brasileiros acham que o acordo tem mais benefícios do que prejuízos.
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Resultado "previsível"
O professor de Direito e Economia Thomas Conti avaliou que esse ponto da pesquisa revela um "resultado totalmente esperado e previsível quando há gente demais para se diluir os custos dos benefícios que se deseja obter".
"Pode parecer que o brasileiro acredita em magia, sendo a favor de mais benefícios desde que não impliquem em nenhuma consequência negativa para ninguém. Porém, o resultado é facilmente entendido pelo que nos diz a Teoria da Escolha Pública sobre decisões coletivas. O comportamento racional para o eleitor médio é ser a favor de aumento de benefícios, mas contrário ao aumento dos seus custos. Quer receber o máximo, sofrendo o mínimo", avaliou.
"Entretanto, essa disposição geral pode facilmente gerar decisões coletivas inconsistentes com decisões coletivas que beneficiariam mais o maior número de pessoas no longo prazo. É uma das razões fortes para haver tantos atritos entre as políticas públicas que análises de custo/benefício apontam que deveriam ser prioritárias e as políticas públicas que políticos acabam implementando de fato", complementou.
A condução do presidente Michel Temer em relação à crise foi reprovada por 77% dos entrevistados, contra apenas 6% que aprovaram a postura de Temer nas negociações. Para 96% dos entrevistados, o ex-presidente demorou a iniciar o diálogo com as lideranças do movimento.
De acordo com o Datafolha, a pesquisa sobre a greve dos caminhoneiros se baseou em 1.500 entrevistas realizadas por telefone, nessa terça-feira (29), com moradores de todas as regiões do País. A margem de erro do levantamento é de três pontos percentuais para mais ou para menos.
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