Investigadores da Polícia Federal e do Ministério Público analisam extratos financeiros que comprovam transações realizadas entre o lobista Lúcio Funaro e Altair Alves Pinto, apontado como responsável por fazer entregas de dinheiro em espécie a integrantes da cúpula do MDB. Esses documentos foram entregues por dois doleiros que denunciaram o esquema internacional de lavagem de dinheiro investigado na Operação Câmbio Desligo, deflagrada nessa semana pela PF.
Os extratos foram revelados pelo Jornal Nacional , da TV Globo, e se referem ao registro extraoficial das movimentações financeiras de Lúcio Funaro com outros doleiros que integram a rede de 47 pessoas acusadas de terem movimentado quase R$ 6 bilhões em 52 países.
Os documentos apontam 65 transações financeiras realizadas entre Funaro e Altair, cujos valores somados chegam a R$ 9,7 milhões. Dois desses registros vão de encontro com episódio narrado no ano passado por um ex-executivo da Odebrecht. Segundo o delator, foram entregues, em 2014, a quantia de R$ 500 mil a Altair sob as ordens do hoje ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha (MDB).
Essa entrega está registrada na planilha de movimentações financeiras de Funaro na exata data apontada pelo delator da Odebrecht. No campo do extrato reservado para a identificação do recebedor do dinheiro, consta a inscrição "Altair ou Zabo".
Altair, segundo delatores
Funaro também tem acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República (PGR) e afirmou em um de seus depoimentos que Altair era o "responsável pela logística de transporte de valores em espécie" para o ex-deputado Eduardo Cunha (MDB-RJ), que mantinha intenso contato com o operador. As investigações da Lava Jato identificaram quase 4 mil chamadas telefônicas realizadas entre Cunha e Altair somente no período de 2012 a 2014.
Segundo o lobista, Cunha repartia o dinheiro de propina que arrecadava em seus esquemas com o presidente Michel Temer. Funaro afirmou que nunca fez entregas diretamente a Temer, mas que "o Altair deve ter entregado algumas vezes".
"O Altair às vezes comentava que tinha que entregar um dinheiro para o Michel", afirmou Funaro em sua delação. "O escritório do Michel é atrás do meu escritório. Era um lugar muito bom para o Eduardo [Cunha] porque era próximo ao escritório do José Yunes [ex-assessor e amigo pessoal de Temer], que era uma das pessoas que às vezes arrecadava dinheiro, que ia pegar dinheiro para o Michel Temer", concluiu o doleiro.
Altair também já foi citado nas delações do empresário Joesley Batista, da JBS, e do contador Florisvaldo Caetano de Oliveira, responsável por fazer entregas de dinheiro do grupo J&F. Florisvaldo afirmou à Polícia Federal em junho do ano passado que foi apresentado ao operador por intermédio de Eduardo Cunha, e que já fez entregas a Altair de dinheiro destinado ao ex-presidente da Câmara. A versão foi confirmada por depoimento do próprio Joesley, segundo o qual Altair recebeu R$ 5 milhões destinados a Cunha
já após a prisão do emedebista, ocorrida em outubro de 2016.
Em nota encaminhada à TV Globo , o Palácio do Planalto reafirmou que o presidente Michel Temer não recebeu propina. O ministro Eliseu Padilha também rechaçou as acusações. Já a defesa de Eduardo Cunha disse que não teve acesso aos documentos sobre a movimentação financeira de Lúcio Funaro e que, portanto, não iria se manifestar a respeito.
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