A Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) condenou as declarações dadas pelo diretor-geral da PF, Fernando Segóvia
, a respeito de investigação contra o presidente Michel Temer. O delegado afirmou, em entrevista concedida nessa sexta-feira (9) à agência Reuters
,
que deve pedir o arquivamento do inquérito que investiga supostos crimes envolvendo a edição da MP dos Portos.
Em nota divulgada neste sábado (10), a ADPF alegou que as declarações de Fernando Segóvia podem "fragilizar os resultados" da investigação, que ainda está em andamento – é a única contra o presidente Temer em curso no Supremo Tribunal Federal (STF).
"Independentemente da posição que ocupe na instituição, nenhum dirigente deve se manifestar sobre investigações em andamento. Seja para fazer observações sobre os elementos colhidos ou para antever conclusões, que são de atribuição exclusiva da autoridade policial que preside o inquérito policial, quando do relatório final, [...] sob pena de violar prerrogativas dos delegados e fragilizar os resultados, quaisquer que sejam eles, dos trabalhos investigativos", diz a associação.
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Investigação contra delegado
A direção da ADPF também criticou a abertura de uma eventual investigação interna na PF contra o delegado Cleyber Lopes, que foi o responsável por encaminhar questionamentos ao presidente Michel Temer.
"Nenhum delegado pode ser alvo de apuração por fazer perguntas a um investigado, independentemente de quem seja ele ou do cargo que ocupe [...] É natural que interrogados se melindrem com alguns questionamentos da autoridade policial, porém cogitar qualquer tipo de punição seria forma de intimidação e mitigação da autonomia investigativa prevista no ordenamento jurídico", diz a nota, que pede o arquivamento do pedido de investigação contra o delegado Lopes.
Por fim, a associação cobra que Segóvia "garanta, nas palavras e nos atos, os instrumentos necessários para que os delegados exerçam suas atribuições de forma técnica e republicana, sem temor por reações do poder político e econômico".
O que disse o diretor-geral da PF
Segóvia afirmou em sua entrevista que a investigação da Polícia Federal não conseguiu comprovar que a empresa Rodrimar S/A, supostamente beneficiada pela medida assinada por Temer em maio do ano passado, pagou propina ao emedebista.
"O que a gente vê é que o próprio decreto em tese não ajudou a empresa. Em tese, se houve corrupção ou ato de corrupção não se tem notícia do benefício. O benefício não existiu. Não se fala e não se tem notícia ainda de dinheiro de corrupção, qual foi a ordem monetária, se é que houve, até agora não apareceu absolutamente nada que desse base de ter uma corrupção", disse.
Assim que concluídas as investigações, o resultado será encaminhado por Fernando Segóvia à Procuradoria-Geral da República (PGR) e ao relator do inquérito no Supremo, ministro Luís Roberto Barroso.
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