Depois de um mês sem ter uma pessoa comandando o Ministério do Trabalho , os brasileiros foram supreendidos, na noite deste domigo (4), por um novo episódio negativo envolvendo a deputada federal Cristiane Brasil (PTB-RJ), nomeada pelo presidente Michel Temer (MDB) para o cargo. Essa já é a quarta grande polêmica envolvendo a parlamentar desde que ela foi indicada futura ministra.
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Dessa vez, Cristiane Brasil foi flagrada ameaçando servidores públicos para conseguir votos na sua campanha à Câmara dos Deputados, em 2014. O flagra foi feito por meio de uma gravação, divulgada ontem pelo programa Fantástico , da TV Globo .
Na época, a filha de Roberto Jefferson (presidente do PTB) – que era vereadora licenciada e ocupava a Secretaria Especial do Envelhecimento Saudável e da Qualidade de Vida na gestão Eduardo Paes (MDB) na capital fluminense – tentava se eleger deputada.
A declaração foi feita durante uma reunião com cerca de 50 servidores públicos e prestadores de serviço da pasta. No áudio, é possível perceber que Cristiane cobra o empenho pessoal da equipe para conseguir votos, afirmando que o emprego deles depende disso.
"Se eu perder a eleição de deputada federal – eu preciso de 70 mil votos –, no dia seguinte, eu perco a Secretaria. No outro dia, vocês perdem o emprego", afirma Cristiane. "Se cada um no âmbito familiar me trouxer 30 fidelizados.. Pô, tu é minha mãe, se tu não votar nela, eu perco o emprego. Olha que poder de convencimento essa frase tem. Para o marido: meu querido, vai querer comprar minhas calcinhas? Então me ajude", continua.
No encontro, a hoje escolhida por Temer para comandar o Ministério do Trabalho, tenta apelar para a "amizade" que os servidores alimentavam com os idosos beneficiados pela Secretaria.
"Eu preciso de uma coisa que está na mão de vocês agora, que é a credibilidade junto ao idoso. É a amizade que eles têm com vocês. É o carinho que eles têm com vocês no dia a dia", diz a parlamentar.
Votos para Marcus Vinícius
Na mesma gravação, Cristiane pede votos para o deputado estadual Marcus Vinícius , também do PTB. Ele já ocupava o cargo em 2014 e tentava se reeleger.
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"O que a gente pede hoje? Acho que a Cris já falou o que tinha que falar. Nós temos dois mil funcionários. Se cada um de vocês conseguir 30 votos, 50 votos, já quase atingiu o objetivo, vai chegar a 150 mil votos", diz Marcus Vinícius, que também estava na reunião.
A ameaça deu certo para os parlamentares. Afinal, Cristiane e Marcus foram eleitos em 2014: ela, para a Câmara dos Deputados, com pouco mais de 80 mil votos; ele, para a Assembleia Legislativa, com 39 mil votos.
Autenticidade e resposta
De acordo com a TV Globo , o áudio foi submetido a uma análise de um perito, que comprovou a autenticidade da gravação. "Não foi identificado nada na perícia, na análise técnica, qualquer tipo de corte ou edição nele. A voz de fato é da Cristiane", avaliou Wanderson Castilho.
À produção do programa, a assessoria de Cristiane afirmou que a deputada desconhece o conteúdo da gravação e não sabe em qual circunstância foi realizada, mas garante que "jamais infringiu qualquer norma ética ou jurídica relacionada às eleições".
Vídeo no barco, tráfico de drogas e processos trabalhistas
A deputada federal tenta tomar posse como ministra do Trabalho há um mês, mas liminares a impediram, justamente devido a processos trabalhistas. O que é visto com ironia pela população.
Além disso, enquanto o seu processo está em andamento e o governo insiste na sua nomeação, Cristiane teve o nome envolvido em outras duas polêmicas.
Semana passada, ela divulgou um vídeo em sua defesa, tentando argumentar a favor da sua posse, mas o gravou em circunstâncias de pouca credibilidade, ao lado de homens sem camisa, em um barco, com uma música eletrônica ao fundo.
No último sábado (3), Cristiane Brasil viu sua imagem pública e política ser ainda mais desvalorizada, depois que o jornal O Estado de S.Paulo divulgou que ela é investigada por suposta associação ao tráfico de drogas, durante a disputa eleitoral de 2010 . A assessoria dela garante que a deputada "não foi ouvida no inquérito e nega veementemente que teve contato com criminosos".