O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participa de manifestação na cidade de Porto Alegre nesta terça-feira (23), véspera do julgamento de seu recurso no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), marcado para essa quarta-feira (24). Em discurso que iniciou por volta das 19h40, o petista afirmou que "tem a tranquilidade de um inocente", e que "duvida que exista um magistrado mais honesto do que eu nesse País".
Ao lado de líderes políticos, Lula foi recebido na capital gaúcha por uma multidão de apoiadores vindos de diferentes lugares do Brasil e também de outros países latino-americanos. No carro de som da Esquina Democrática, no centro da capital gaúcha, Lula afirmou que "não falaria sobre o processo, nem sobre a Justiça", pois "tem advogados competentes que já comprovaram sua inocência".
"Eu vim aqui para falar do meu Brasil, da soberania nacional, da integração latino-americana, do fortalecimento do Mercosul. Contra a reforma trabalhista, contra a safadeza que querem fazer na Previdência Social", proferiu.
Em quase 40 minutos de fala, o ex-presidente ressaltou as 'conquistas dos governos do PT', criticando a administração de Michel Temer (MDB). "É por conta dessas conquistas do povo brasileiro que estamos vivendo isso agora. Não posso me conformar com o 'complexo de vira-lata' que tomou conta de nosso país. De uma elite que quer falar grosso com a Bolívia e se comporta como um gatinho com os Estados Unidos".
Num tom de escárnio, o líder petista ainda criticou a cobertura da imprensa brasileira sobre seu julgamento, dizendo "ter pena de jornalistas por ter de obedecer ordens de editores". Também 'cutucou' a oposição e, sem citar nomes, disse ser "muito bom" por gerar "medo". "Não sei se é medo do Lula em 2018, se for medo é bom, porque eles não têm medo das coisas ruins que fizemos, mas pelas coisas boas que fizemos", defendeu.
A manifestação em apoio ao petista acontece no centro de Porto Alegre e, segundo a organização do ato, pelo menos 40 mil pessoas estão no local. Já a Brigada Militar não informou estimativa de público. Ao lado do ex-presidente petista, estão lideranças políticas gaúchas, como os ex-governadores Olívio Dutra e Tarso Genro. Também estão presentes a ex-presidente da República Dilma Rousseff, a líder da bancada do partido no Senado, Lindbergh Farias (RJ), e a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann (PR). Todos discursaram.
Aos gritos de "eleições sem Lula é golpe", a multidão ouviu discursos de políticos e líderes sindicais, como Guilherme Boulos, do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), que afirmou que "o juiz Sérgio Moro é um fantoche" e que "o momento é de união de movimentos de esquerda, apesar das diferenças". Artistas também participam do ato, como o escritor Raduan Nassar e a cantora Ana Cañas.
Visita para "agradecer apoio"
A viagem do petista a Porto Alegre foi confirmada ainda nessa segunda-feira (22) por Gleisi Hoffmann, por Lindbergh Farias e pelo ex-ministro Alexandre Padilha. Todos já haviam chegado à capital gaúcha, que recebe caravanas de todo o País em apoio ao ex-presidente . A cúpula do PT estima que até 30 mil manifestantes devem chegar à cidade até a manhã de quarta-feira.
De acordo com Lindbergh Farias, o ex-presidente decidiu ir ao Rio Grande do Sul porque "quer agradecer as pessoas" e porque "está sensibilizado com a onda de carinho" manifestada pelos seus apoiadores.
Contrários ao petista
Também acontece nesta terça-feira manifestação contrária ao ex-presidente petista na cidade de Porto Alegre. Manifestantes de verde e amarelo, com bandeiras do Brasil e cartazes de apoio ao juiz Sergio Moro, se reúnem no Parcão. De acordo com os organizadores, cerca de 500 pessoas estão no local. Assim como no ato a favor de Lula, a Brigada Militar não informou estimativa de público.
Dilma Rousseff e a "terceira fase do golpe"
Além dos nomes já citados, quem também já está em Porto Alegre é a ex-presidente Dilma Rousseff, que participou de manifestação de mulheres no centro da cidade no início desta tarde. De cima do palanque, a presidente deposta afirmou que a condenação de Lula na Operação Lava Jato representa a "terceira fase do golpe", em referência ao seu impeachment.
"O golpe teve o objetivo de me destruir e de destruir o PT, mas, sobretudo, destruir o nosso líder Luiz Inácio Lula da Silva. Era esse o projeto político do golpe. Mas deu errado", disse Dilma, garantindo que o ex-presidente é a única possível escolha do Partido dos Trabalhadores para a eleição deste ano. "Nós achamos que o Lula é inocente. Por isso, nós não temos plano B."
Dilma também afirmou que o processo que pode barrar a candidatura do petista se mostrou necessário para os "autores do golpe" pois eles não têm viabilidade eleitoral. Nesse sentido, Dilma fez referência ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), ao prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), e ao apresentador Luciano Huck.
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O novo julgamento de Lula
Os recursos contra as decisões do juiz Sérgio Moro no caso tríplex (apresentados pelas defesas de Lula e de mais seis condenados, além do Ministério Público Federal) são os únicos itens da pauta de julgamentos de quarta-feira na 8ª Turma do TRF-4, que terá início às 8h30.
O ex-presidente foi condenado a cumprir 9 anos e 6 meses de prisão por crimes de corrupção e lavagem por supostamente ter aceitado favorecimento da construtora OAS mediante a compra e reforma de um apartamento tríplex no Condomínio Solaris, no Guarujá (SP). A defesa nega. Participarão do julgamento o relator do recurso de Lula, João Pedro Gebran Neto, e os desembargadores Leandro Paulsen (presidente da 8ª Turma) e Victor Luiz dos Santos Laus.