O estado do Rio de Janeiro deixou de arrecadar R$ 183 bilhões nos últimos anos devido ao esquema de corrupção envolvendo integrantes do governo estadual, da assembleia legislativa (Alerj) e grandes empresários. Esse valor equivale a quase quatro vezes a arrecadação prevista para o estado ao longo de todo o ano de 2017 (R$ 46,9 bilhões). O balanço foi divulgado nesta terça-feira (14) durante entrevista coletiva sobre a Operação Cadeia Velha, nova fase da Lava Jato
que mirou pagamento de propina de empresas do setor de transportes a deputados estaduais.
De acordo com o delegado da Polícia Federal Alexandre Ramagem, um dos integrantes do grupo da Operação Lava Jato no Rio, esse desvio extratosférico ocorreu num espaço de tempo de apenas cinco anos e decorreu da aprovação de projetos no Legislativo fluminense que interessava às empresas corruptoras.
"O conluio criminoso se traduz em excessivos beneficios fiscais em favor de determinadas empresas, fazendo com que o estado, num período de cinco anos, deixasse de arrecadar mais de R$ 183 bilhões, ocasionando no atual colapso das finanças do Rio de Janeiro, com esse efeito avassalador da corrupção sistêmica na administrçaão pública", afirmou o delegado.
Também na entrevista sobre a Operação Cadeia Velha, o superintendente da Polícia Federal no RJ, Jairo Souza da Silva, afirmou que integrantes do governo do estado, da Alerj e grandes empresários constituíram "uma grande confraria do crime organizado".
"É possível verificar que não há um chefe mor, mas sim um comando horizontal de uma grande confraria do crime organizado no estado do Rio de Janeiro, mantida por agentes públicos do Executivo, do Legislativo e de grandes empresários. O estado vem sendo saqueado por esse grupo há mais de uma década, resultando na falência moral e econômica do estado. Com salários atrasados, hospitais sem condições, uma polícia sucateada e a violência que agonia a todos nós dia após dia", disse Souza da Silva.
Cadeia Velha
Deflagrada na manhã desta terça-feira, a nova fase da Lava Jato no Rio
teve como alvo o atual presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, Jorge Picciani, e os deputados estaduais Paulo Melo e Edson Albertassi (PMDB) e outras dez pessoas por corrupção e outros crimes envolvendo a Alerj.
De acordo com as investigações, Picciani e Paulo Melo (que presidiu a Alerj antes do atual mandatário da Casa) formaram junto ao ex-governador Sérgio Cabral "uma organização integrada que vem se estruturando de forma ininterrupta desde a década de 1990".
O filho único do presidente da Alerj, Felipe Picciani, foi preso temporariamente (modalidade de prisão com duração de cinco dias, prorrogáveis por mais cinco) nesta nova fase da Operação Lava Jato no Rio. Já os parlamentares investigados foram levados para depor coercitivamente, sob a autorizção do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2).
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