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JBatista/Câmara dos Deputados

Henrique Eduardo Alves está preso em Natal, investigado em outra operação

O ex-presidente da Câmara,  Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), chorou durante o depoimento que está prestando ao juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara de Brasília, nesta segunda-feira (6). E ele reafirmou que o dinheiro de uma conta na Suíça, aberta por ele em 2008, foi movimentada por terceiros, sem seu conhecimento, de acordo com informações adiantadas pela Folha de S Paulo.  Ele é acusado de receber US$ 833 mil em 2011, nesta conta, em um esquema de desvio do fundo de investimentos do FGTS . Ele depôs por videoconferência de Natal, onde está preso desde junho .

Alves, que também é ex-ministro, é réu na mesma ação que o  ex-vice-presidente da Caixa, Fábio Cleto ; o empresário Alexandre Margotto ; o corretor de valores Lúcio Funaro ; e o ex-deputado e também ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) que  também prestou depoimento nesta segunda-feira em Brasília.

"Eu aguardei muito este momento para dizer: esta conta, nunca recebi sequer nenhuma referência, nenhuma extrato, nenhuma correspondência, nem a sua senha", afirmou Alves. "Foi aí [após as investigações] que descobrimos um depósito em um ano, em outro ano. Completamente à minha revelia", afirmou.

De acordo com o jornal Estado de S. Paulo, o político explicou que abriu a conta, sob sugestão de Eduardo Cunha, para proteger o patrimônio de sua família. Mas que ele considerava ela “natimorta”.

A defesa de Alves já havia confirmado que ele abriu a conta no exterior, mas desistiu de movimentá-la devido a questões de burocracia. Mas ele não revelou quem teria movimentado a conta em seu lugar.

E Alves confirmou ter recebido dinheiro em caixa 2 para campanhas eleitorais. “Recebi doações de empresas JBS, Odebrecht e outras, que ajudaram minha campanha. Mas quero ter a coragem, como nordestino que sou, de assumir que alguns desses valores eu posso não ter declarado na Justiça Eleitoral”, ele afirmou. “Porque elas davam aquele valor sem querer que fossem declaradas as quantias”. Mas Henrique Eduardo Alves não revelou valores nem nomeou outras empresas que fizeram o repasse de dinheiro.

Choro

Foi ao falar de sua família, em especial seu pai, que o ex-ministro chorou. O juiz pediu que Alves se acalmasse e bebesse água. "Desculpa, é a emoção", respondeu, segundo a Folha.

Quando perguntado sobre suas relações com Eduardo Cunha e Funaro, ele permaneceu em silêncio e não respondeu.

Ex-presidentes da Câmara Eduardo Cunha e Henrique Eduardo Alves, ambos do PMDB, foram alvos de operação
Luis Macedo/Câmara dos Deputados
Ex-presidentes da Câmara Eduardo Cunha e Henrique Eduardo Alves, ambos do PMDB, foram alvos de operação


O que disseram os outros réus da ação penal

Fábio Cleto –  Cleto foi vice-presidente de Fundos de Governo e Loterias da Caixa no período de 2011 a 2015 e desempenhou papel fundamental para o esquema, uma vez que ele integrava o comitê que delibera sobre o financiamento de projetos pelo fundo de investimentos do FGTS (FI-FGTS), voltado a bancar projetos de infraestrutura nos setores de rodovias, ferrovias, portos, aeroportos, hidrovias, saneamento e energia.

O ex-executivo foi nomeado para o cargo com as bençãos de Cunha e Henrique Alves, que, no papel de líder da bancada do PMDB na Câmara, foi o responsável por levar o currículo de Cleto ao então ministro da Casa Civil, Antonio Palocci. Após ser nomeado, Cleto disse que passou a se encontrar semanalmente com Eduardo Cunha para informar o deputado sobre os projetos que estavam em discussão no comitê do FI-FGTS. Era Cunha quem decidia como o executivo deveria encaminhar o projeto.

"Eu era um voto só, mas acredito que tinha uma relativa influencia por ser o representante da Caixa e pelo meu preparo técnico, de 20 anos de mercado financeiro. Eu conseguia jogar argumentos técnicos que os outros representantes, muitas vezes, entendiam como válidos e seguiam essa mesma linha. Meu voto não era o decisivo, mas eu tinha influência nesse comitê", disse Cleto em seu depoimento.

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Reprodução/PGR
Lobista Lúcio Funaro está preso desde julho de 2016 e tem acordo com a Justiça para deixar a prisão após dois anos

Lúcio Funaro – O lobista reafirmou ao juiz de Brasília o papel de liderança de Cunha no esquema, que rendia aos seus integrantes propina de 0,5% a 1% do valor dos contratos. O lobista disse que se encontrou "mais de 680 vezes" com o ex-deputado, que era o responsável por fazer a divisão da propina.

Funaro reconheceu que o grupo atuou para liberar junto ao FI-FGTS recursos para as obras do setor portuário do Rio de Janeiro, o chamado Porto Maravilha, para as Olimpíadas de 2016. O projeto foi tocado por um consórcio constituído pelas empreiteiras OAS, Carioca Engenharia e Odebrecht. De acordo com Funaro, a divisão da propina definida por Cunha para esse projeto era de 80% para o deputado, 4% para Fábio Cleto, 4% para Alexandre Margotto e 12% para ele próprio (Funaro).

O lobista garantiu que, além de Cunha e Henrique Eduardo Alves, outros integrantes do PMDB tinham conhecimento do esquema criminoso no FI-FGTS. "O PMDB é um partido que não é homogêneo... São facções. E a maior facção... Facção não porque facção é criminal. A maior ala do PMDB... Era a liderada pelo deputado Eduardo Cunha".

Perguntado sobre quem mais sabia do esquema, Funaro listou: "Geddel com certeza. O Lúcio, irmão dele, com certeza. O Henrique [Eduardo Alves]... Michel Temer... Moreira Franco... Washington Reis".

Funaro também rechaçou o argumento da defesa de Henrique Alves no sentido de que o ex-deputado desempenhou apenas atividade política ao encaminhar, enquanto líder do PMDB na Câmara, a indicação de Fábio Cleto para ser nomeado para a vice-presidência da Caixa.

"Ele foi levar o currículo para o Palocci e, quando tinha operação, ele participava da divisão. Você vai falar 'Você deu dinheiro para o Henrique?' Dei", garantiu Funaro.

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Reprodução/JFDF
Em seu depoimento, Eduardo Cunha rechaçou acusações de Funaro, defendeu Temer e lançou suspeita sobre Moreira Franco

Eduardo Cunha - O ex-presidente da Câmara dos Deputados rebateu as acusações de Funaro, a quem chamou de "mentiroso", e afirmou que não recebeu propina para suas campanhas eleitorais, segundo ele, por “não ser necessário”, uma vez que as doações legais que obtinha eram “mais do que suficientes”. Mas disse que Moreira Franco pode sim, ter recebido proprina, afirmando que marcou uma audiência entre o atual ministro da Secretária-Geral da presidência e Natalino Bertin, a pedido de Funaro.

Cunha também afirmou ao juiz Vallisney que o Ministério Público Federal (MPF) e o empresário Joesley Batista, da JBS, forjaram uma suposta compra de seu silêncio, para poder incriminar o presidente Michel Temer , fazendo referência à gravação entre o presidente da República e Joesley, divulgada em maio. “Parte disso é forjado para imputar crime ao Michel [presidente Michel Temer] no atual mandato”, afirmou Cunha.

E Cunha desqualificou as afirmações de Funaro de que o  presidente Michel Temer teria recebido ao menos R$ 2 milhões em repasses ilegais do Grupo Bertin para a campanha presidencial de 2010, quando foi candidato a vice na chapa de Dilma Rousseff. “Estou colocando isso apenas para demonstrar o histórico das mentiras. Na minha frente nunca cumprimentou o Michel Temer, nem um 'bom dia'”, repetiu o ex-deputado.

Leia também: Veja tudo sobre o esquema de desvio do fundo de investimentos do FGTS

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