Os ministros Henrique Meirelles (Fazenda) e Blairo Maggi (Agricultura) constam como beneficiários de empresas offshores abertas em Bermudas e nas Ilhas Cayman, paraísos fiscais do Caribe. As offshores são contas bancárias e empresas comumente utilizadas por milionários como meio de ocultar recursos dos olhos das autoridades – embora o fato de detê-las, por si só, não configure ilegalidade.
As informações que atingem Henrique Meirelles
e Blairo Maggi constam de dados internos do escritório especializado em offshores Appleby que foram revelados neste domingo (5) após serem entregues anonimamente ao jornal alemão Süddeutsche Zeitung
. Os dados do já intitulado "Paradise Papers" foram entregues ao mesmo grupo de jornalistas que divulgou as informações do "Panamá Papers" – escândalo envolvendo o escritório Mossack Fonseca
.
No Brasil, as informações sobre os ministros foram adiantadas pelo jornalista Fernando Rodrigues, do site Poder360 .
Meirelles é listado na planilha da Appleby como sendo dono de algumas offshores, entre elas a "The Sabedoria Trust". A documentação da empresa diz que foi estabelecida "a pedido de Henrique de Campos Meirelles, especificamente para propósitos de caridade", segundo um documento.
"O objetivo é que, na eventualidade da morte (do ministro) os administradores do trust renunciarão aos seus direitos e apontarão novos beneficiários, cujos nomes estão indicados no testamento datado de 9 de dezembro de 2002", diz o texto.
O dispositivo é uma forma de facilitar e garantir a transmissão de uma herança após a morte do proprietário, algo comum no caso de offshores. A empresa foi criada no dia 23 de dezembro de 2009, uma semana antes de ele se tornar presidente do Banco Central.
Meirelles também aparece nos arquivos vazados relacionado a outra offshore, chamada "Boston - Administração e Empreendimentos Ltda", criada em 1990 e encerrada em 2004. Meirelles ocupou, entre 1996 e 1999 o posto máximo no Bank of Boston, dos EUA.
O ministro afirmou, por meio de nota, que a Sabedoria Trust foi criada para garantir que parte de seus bens possa ser doado para entidades beneficentes da área de educação. Além disso, ele enviou uma cópia de sua declaração de imposto de renda á reportagem do Poder360 , na qual aparece o Trust Sabedoria.
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Blairo Maggi
Já no caso de Blairo Maggi, o ministro da Agricultura aparece como um dos beneficiários de uma offshore chamada Ammagi & LD Commodities SA, fundada nas Ilhas Cayman. De acordo com os registros da Appleby, ele e seus familiares são diretores da offshore.
A empresa tem o mesmo nome e é controlada por uma joint venture registrada no Brasil, na qual Maggi é sócio. A outra participante da joint venture é a multinacional holandesa, Louis Dreyfus Company, uma das maiores empresas que fazem produção e comercialização de matérias primas, principalmente grãos. O objetivo seria fazer uma parceria para atuar no mercado brasileiro de soja.
Maggi e sua família já trabalhou com produção de soja nos anos 90 e 2000 e de acordo com a revista Forbes, em 2014, ele foi considerado o segundo político mais rico do Brasil, com uma fortuna em torno dos R$ 960 milhões.
Maggi nega qualquer irregularidade e diz não ter recebido pagamentos da offshore e somente, da empresa controladora no Brasil. Ele também diz que isso foi declarado em seu imposto de renda.
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Vazamento global
A Appleby é uma das maiores empresas de criação de offshores do mundo. Conta com dez escritórios espalhados pelo globo, e cerca de 200 advogados para atender aos clientes. O vazamento deste domingo traz dados sobre milhares de pessoas, por todo o mundo, entre elas mais de 30 mil nos Estados Unidos.
A investigação também encontrou offshores relacionadas a pessoas próximas ao presidente dos Estados Unidos, o republicano Donald Trump. Entre os citados estão o secretário de Comércio, Wilbur Ross.
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