O empresário Joesley Batista, um dos sócios do grupo JBS, e o executivo da empresa Ricardo Saud deixaram a Superintendência da Polícia Federal em São Paulo na manhã desta segunda-feira (11) para serem transferidos para carceragem da PF em Brasília. Os dois delatores se entregaram à Polícia nesse domingo (10)
após terem a prisão temporária decretada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin, relator dos processos da Lava Jato.
Joesley Batista e Saud embarcaram no início da tarde em avião da Polícia Federal no Aeroporto de Congonhas, na zona sul de São Paulo, rumo à capital federal, onde desembarcaram por volta das 15h30. Os dois passarão por exame de corpo de delito antes de serem alocados na cela da Superintendência da PF em Brasília, onde devem permanecer por ao menos cinco dias – prazo da prisão temporária. O regime das detenções poderá ainda ser convertido para preventivo, que é quando não há prazo para soltura.
Entenda o caso
A prisão dos dois empresários foi decretada por Fachin atendendo a pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. O chefe do Ministério Público Federal – que deixará o cargo ao fim desta semana – entendeu que Joesley e Saud descumpriram com o acordo de colaboração firmado com a PGR e esconderam "deliberadamente a possível prática de crimes por terceiros" sob a orientação do ex-procurador Marcelo Miller.
As suspeitas surgiram após a análise da gravação de uma conversa entre os dois empresários da JBS, cujo áudio estava entre os materiais entregues à PGR no último dia 31 de agosto. No diálogo, que os procuradores acreditam ter ocorrido no dia 17 de março, Joesley chega a garantir a Saud que eles não seriam presos. Os dois tiveram que prestar novos depoimentos no fim da semana passada para tentar explicar essa gravação, mas ainda assim tiveram a prisão temporária decretada.
"São múltiplos os indícios, por eles mesmos [Joesley e Sayd] confessados, de que integram organização voltada à prática sistemática de delitos contra a administração pública e lavagem
de dinheiro. A prisão temporária, quanto a eles, como requerida pelo MPF, é medida que se impõe", escreveu Fachin ao acatar o pedido da PGR.
O ministro do STF negou de primeiro momento a prisão do ex-procurador Marcelo Miller, mas determinou que fossem cumpridas "medidas cautelares com a finalidade de angaria eventuais elementos de prova que possibilitem confirmar os indícios sobre os possíveis crimes atribuídos a Marcelo Miller".
A recomendação de Fachin foi atendida pela Polícia Federal pela manhã desta segunda-feira , com o cumprimento de quatro mandados de busca e apreensão em São Paulo e um no Rio de Janeiro em endereços dos delatores e do ex-procurador da República. A operação contou com apoio da procuradora Janice Ascari, que trabalha diretamente com Rodrigo Janot.
Em nota divulgada nesse domingo, a defesa de Joesley Batista e Ricardo Saud alegou que eles "não mentiram nem omitiram informações no processo que levou ao acordo de colaboração premiada e que estão cumprindo o acordo".
"Em todos os processos de colaboração, os colaboradores entregam os anexos e as provas à Procuradoria e depois são chamados a depor. Nesse caso, Joesley Batista e Ricardo Saud ainda não foram ouvidos", informa o texto. "No dia 31 de agosto, cumprindo o prazo do acordo, além dos áudios, foi entregue uma série de anexos complementares, e os dois colaboradores ainda estão à espera de serem chamados para serem ouvidos. O empresário e o executivo enfatizam a robustez de sua colaboração e seguem, com interesse total e absoluto, dispostos a contribuir com a Justiça", conclui.
Leia também: 'Cordialidade', diz PGR sobre foto que flagra Janot e advogado de Joesley em bar