Joesley Batista se entregou à Polícia Federal no domingo e passou a noite na carceragem da PF em São Paulo
Valter Campanato/Agência Brasil - 11.9.17
Joesley Batista se entregou à Polícia Federal no domingo e passou a noite na carceragem da PF em São Paulo

No documento que pede as prisões do empresário Joesley Batista e o executivo da JBS, Ricardo Saud, a Procuradoria-Geral da República (PGR) informa que os investigados reconheceram, em depoimento, que sabem de informações e possuem novos áudios que ainda não foram entregues no acordo de delação premiada, negociado com a PGR.

Para o procurador-geral, Rodrigo Janot, ao que tudo indica, a omissão de fatos nos depoimentos de delação foi intencional. No último domingo (10), o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, aceitou o pedido de prisão temporária de Joesley Batista e Ricardo Saud , que terá duração de cinco dias.

"Instados a comparecer a Procuradoria-Geral da República no dia 07/09/2017, os colaboradores foram evasivos, deixaram de apresentar fatos importantes e levantaram explicações confusas. Outros sim, reconheceram que há informações e áudios não entregues”, afirmou Janot.

Ex-ministro 

Na justificativa do pedido de prisão de Ricardo Saud, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, diz que o ex-executivo afirmou ter gravado uma conversa com ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo, e omitiu o fato no depoimento da delação. Segundo o documento do pedido de prisão, as gravações foram enviadas ao exterior e existem indícios de que novas gravações seguiram o mesmo caminho.

De acordo com Janot, as gravações “não apenas deixaram de ser entregues ao Ministério Público Federal, como também foram levadas ao exterior, em aparente tentativa de ocultação dos arquivos das autoridades pátrias, o que reforça o intento de omitir alguns fatos, após a orientações de Marcello Miller [ex-procurador]”.

Em outro áudio, que consta na investigação indicam que Saud e Joesley, dono da JBS , planejavam usar o ex-ministro José Eduardo Cardozo, na gestão de Dilma Rousseff, para atingir ministros da Suprema Corte.

Marcello Miller

No pedido de prisão do ex-procurador da República, Marcello Miller – rejeitada pelo ministro Edson Fachin –, Janot afirmou ter provas de que ele atuou em favor do grupo JBS durante o período em que trabalhou no Ministério Público Federal (MPF). Ao pedir a prisão do ex-procurador, o procurador-geral indicou que e-mails de um escritório de advocacia mostram que Miller auxiliou a empresa no acordo de leniência com o órgão.

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Os documentos foram encaminhados à PGR pelo escritório que contratou Miller após ele deixar o MPF. “Há, por exemplo, trocas de e-mails entre Marcello Miller e uma advogada do mencionado escritório, em época em que ainda ocupava o cargo de procurador da República, com marcações de voos para reuniões, referências e orientações à empresa J&F, e inícios de tratativas em benefícios à mencionada empresa”, sustentou Janot.

Na sexta-feira (8), Fachin negou pedido de Janot para que Miller fosse preso por entender que ainda não há indícios para justificar a medida em relação ao ex-procurador, acusado por Janot de fazer “jogo duplo” em favor da JBS durante o período em que estava no Ministério Público Federal (MPF), antes de pedir demissão para integrar um escritório de advocacia que prestou serviços ao grupo empresarial.

Entenda o caso

Joesley e Saud foram convocados a prestar depoimento na semana passada após a PGR abrir investigação para avaliar a omissão de informações nas negociações das delações. Janot explicou que um áudio entregue pelos advogados da JBS narra supostos crimes que teriam sido omitidos.  A gravação foi entregue, por descuido dos advogados, como uma nova etapa do acordo.

Eles se entregaram à Polícia Federal, em São Paulo, neste fim de semana, e foram transferidos para Brasília no avião da corporação, que pousou há pouco na capital federal.

Outro lado

O advogado de Joesley e Saud, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, divulgou uma nota afirmando que os delatores cumpriram rigorosamente tudo o que lhes era imposto ao assinarem o acordo de delação premiada.

“Não pode o Dr. Janot [Rodrigo Janot, procurador-geral da República] agir com falta de lealdade e, insinuar que o acordo de delação foi descumprido. Os clientes prestaram declarações e se colocaram sempre à disposição da Justiça. Este é mais um elemento forte que levara à descrença e à falta de credibilidade do instituto da delação”, disse o advogado, em defesa da revisão do uso do instituto de delação premiada.

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A defesa de Miller, também em nota, informou que o ex-procurador “nunca atuou como intermediário entre o grupo J&F [do qual Ricardo Saud e Joesley Batista fazem parte] ou qualquer empresa e o procurador-geral da República, Rodrigo Janot ou qualquer outro membro do Ministério Público Federal”.

* Com informações da Agência Brasil

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