Em um pronunciamento feito durante a última sessão que comandou no conselho do Ministério Público
federal sob o cargo de procurador-geral da República, nesta terça-feira (5), Rodrigo Janot afirmou que o episódio envolvendo os irmãos Batista o fez refletir sobre as pessoas que o chamam de um "homem de coragem". Para ele, não é "coragem" o que ele tem, mas "medo de errar muito" e decepcionar a instituição que representa.
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A declaração de Rodrigo Janot foi feita um dia após o atual procurador-geral da República anunciar que autorizou uma investigação para apurar eventuais irregularidades na delação premiada dos executivos Wesley e Joesley Batista, do grupo J&F. Tal pedido foi impulsionado pela suspeita dos investigadores do MPF de que os delatores ligados à empresa tenham escondido informações da Procuradoria-Geral da República.
"Eu agi com muita coragem e ontem [segunda-feira] foi um dos dias mais tensos e um dos maiores desafios desse período. Alguém disse pra mim: 'Você realmente é um homem de muita coragem'. Aí eu parei e pensei: 'Será que sou um homem de coragem mesmo?' Cheguei à conclusão de que não tenho coragem alguma", declarou o procurador-geral.
"Na verdade, o que eu tenho é medo. E o medo nos faz alerta. E medo do quê? Medo de errar muito e decepcionar minha instituição. E todas as questões que eu enfrentei, eu enfrentei muito mais por medo, medo de errar, medo de me omitir, medo de decepcionar minha instituição do que por coragem de enfrentar esses enormes desafios", complementou.
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O desabafo de Janot acontece na última sessão comandada por ele no conselho do MP, antes dele passar o cargo para sua sucessora, a subprocuradora da República Raquel Dodge , que assumirá o comando da Procuradoria Geral da República ( PGR ) no próximo dia 18.
"Esse final [de mandato] tem sido uma montanha russa porque as surpresas se repetem, as surpresas se mostram e a impressão que dá é que é uma montanha russa que só tem queda livre", afirmou Janot.
Acordo pode ser anulado
Nesta segunda-feira, Janot, informou que abriu investigação para avaliar a omissão de informações nas negociações das delações de executivos da JBS. Caso comprovada a omissão, o acordo poderá ser anulado, disse o procurador.
Apesar da possibilidade de anular o acordo com a JBS, Janot defendeu a delação premiada como instrumento para investigações e que deve ser preservado. De acordo com o procurador-geral, se os executivos da JBS erraram, deverão pagar por isso, mas "não desqualificará o instituto [da delação premiada]”.
De acordo com o procurador-geral, foram obtidos na semana passada áudios com “conteúdo gravíssimo” com a gravação de um diálogo entre dois delatores com “referências indevidas” à PGR e ao STF (Supremo Tribunal Federal).
Rodrigo Janot acrescenta que os áudios contêm indícios “de conduta em tese criminosa atribuída ao ex-procurador Marcelo Miller, que ao longo de três anos foi auxiliar do gabinete do procurador-geral. Se descumpriu a lei no exercício de suas funções, deverá pagar por isso".
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* Com informações da Agência Brasil.